O candidato ao Parlamento italiano pelo PD, Fabio Vicenzi (Fotograma / Debate / Insieme)

“A comunidade ítalo-brasileira precisa de uma política cultural específica. Necessita apoio, união, valorização, integração, aqui e na Itália. Falta um líder integrador, um representante que faça e não somente prometa em tempos de campanha eleitoral”.

Assim se manifesta o candidato a deputado no Parlamento italiano, Fabio Vicenzi, pelo PD – Partido Democrático, que abraçou porque é um partido que “vem construindo há mais de uma década um governo inclusivo que valoriza o diálogo e a troca de ideias”. Para Vicenzi, “não basta apenas ser deputado e trocar de foco profissional. Importante é o engajamento com um grupo capaz de realizar, de fazer, de renovar e inovar”.

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Na entrevista com Vicenzi, solicitada por Insieme no mesmo dia em que foi divulgada sua candidatura (19/01), com Fabio Porta para o Senado, o candidato explica os motivos que o levaram a candidatar-se, qual é sua visão sobre a comunidade ítalo-brasileira, seus principais problemas, quais suas principais propostas e compromissos e também o que pensa sobre as filas da cidadania, entre outros temas.

“O que está em jogo – diz Vicenzi – com a minha candidatura inédita (de quem nunca ocupou ou se candidatou a cargo político) ao parlamento italiano é o incremento da experiência, projetos e sonhos de um profissional capacitado, enérgico e comprovadamente realizador na iniciativa privada que se coloca a serviço de todos italianos e da Itália”.

O advogado, nascido no Rio Grande do Sul que há anos reside em São Paulo, se autodefine como “provavelmente o único candidato desta eleição que consolida em si todos os elementos imprescindíveis para a mudança, como profundo conhecimento da imigração italiana no Brasil, experiência de Itália, preparo, competência, juventude, energia, e partido com representatividade parlamentar capaz de impulsionar seus projetos e efetivamente implementar as melhorias propostas”.

Quem é Fabio Vicenzi?

Um descendente de agricultores italianos nascido no interior do Rio Grande do Sul e profundo conhecedor da imigração italiana no sul do país, que desde cedo aprendeu em casa que primeiro vem o esforço e depois a compensação. Filho dedicado de pai juiz, desde muito jovem ajudava na datilografia de sentenças, e estudava Direito, sem deixar de lado os afazeres domésticos no apoio à sua mãe, já que é o primogênito de três irmãos. Formou-se em Direito em Porto Alegre e de imediato partiu para pós-graduações no exterior. O país escolhido? Itália, claro!

Desde pequeno na Serra Gaúcha já pertencia a círculos italianos e respirava a Itália. Muitos hábitos eram creditados aos antepassados na Itália, de expressões em dialeto a comidas e hábitos de mesa. Vicenzi foi criando um imaginário de Itália. Conformava uma Itália dos pensamentos acordado e sonhando. Por isso seu destino profissional para elevada graduação não poderia ser outro, ao contrário de tantos amigos que se endereçaram a países de língua inglesa.

Ao chegar na Itália, não se contentou em fazer apenas uma pós-graduação, tendo se integrado na vida profissional local e concluído três cursos, até titular-se Doutor em Direito. Iniciou então uma promissora e reconhecida carreira como advogado na área internacional, o que lhe rendeu o título pela Revista Milano Finanza como uma das personalidades mais influentes no eixo Itália-Brasil.

Detalhe: Fabio Vicenzi iniciou todo este percurso sem ter cidadania italiana, participando ativamente da luta pelo reconhecimento e obtenção da mesma até ter em mãos o passaporte. Só o Doutorado foi conseguido após ter sido reconhecida a sua cidadania.

De volta ao Brasil, nunca mais perdeu a ligação com a Itália.  Lecionou Direito Internacional em prestigiosas universidades brasileiras. Montou escritório em Roma e em São Paulo, depois no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife, onde assumiu a operação da Câmara de Comércio Italiana nos Estados de Pernambuco e Paraíba. Integrou negócios relacionados a empresas vinculadas ao mundo FIAT em Minas Gerais e Pernambuco, bem como diversos outros negócios em todo o Brasil, Mercosul e América do Sul, que beneficiaram pequenos, médios e grandes grupos empresariais italianos e locais.

Reconhecido como um dos maiores conhecedores de Direito Internacional, Contratual e dos Negócios entre Brasil e na Itália, direcionou sua formação para a integração empresarial e acadêmica no eixo Itália-Brasil-América do Sul, gerando oportunidades e resultados virtuosos para todos os envolvidos.

Enfim, Fabio Vicenzi é um homem incansável, hoje com 46 anos, casado, pai de duas filhas, que acredita que ainda não fez o suficiente e que pode fazer ainda muito mais!

Que o motiva a candidatar-se ao Parlamento Italiano?

A possibilidade de promover mudanças mais relevantes que possam ser incorporadas à realidade dos italianos residentes aqui. Nunca fui político.  É  a primeira vez que coloco meu nome à disposição para um processo eleitoral. Pelas relações profissionais na Europa fui convidado pelo Partido Democrático para concorrer a deputado junto com o experiente Fabio Porta a senador. Aceitei a candidatura porque com base na minha experiência pessoal e profissional acredito que posso auxiliar os cidadãos italianos que vivem aqui na América do Sul a ter um contato mais próximo com a Itália, onde tenho escritório em Roma há muitos anos.

Sou representante legal de inúmeros cidadãos italianos que vivem, trabalham e fazem investimentos na América do Sul. Essa é uma realidade que incorporei à minha vida. É uma missão que vejo com extrema dedicação. A partir dela fui construindo e agregando propostas e apoiadores. Minha campanha foi crescendo. Ouvi muitos cidadãos italianos e venho desenvolvendo uma plataforma política democrática que irá aproximar, integrar e promover a igualdade entre os italianos.

Por qual razão escolhe o PD?

Como o ideário é promover mudanças e melhorias, a escolha do Partido Democrático decorre de uma análise política de efetividade e orientação. Não basta apenas ser deputado e trocar de foco profissional. Importante é o engajamento com um grupo capaz de realizar, de fazer, de renovar e inovar.

O PD é um partido consolidado de Centro-Esquerda com uma alma reformista e progressista. Conhecido pela sua postura democrática, vem construindo há mais de uma década um governo inclusivo que valoriza o diálogo e a troca de ideias. E que aposta como nenhum outro no setor produtivo, tendo promovido ainda no final de 2016, a maior missão empresarial-industrial em terras brasileiras dos últimos tempos. É o único partido italiano não populista que defende fortemente a União Europeia, o Euro e a criação dos Estados Unidos da Europa e que também se posiciona como o grande defensor dos direitos civis e da ciência. Talvez o único partido que tenha e queira ideias novas com poder e peso político para efetivamente promover as mudanças e evoluções necessárias.

Com que argumentos vai pedir a confiança dos eleitores?

Basicamente com o argumento de que sou preparado, qualificado, conheço a realidade italiana onde inclusive tenho escritório em Roma e melhor ainda a realidade nossa local daqui, e que tenho um histórico de realizações no âmbito da cooperação jurídica, comercial e acadêmica entre o Brasil, Itália e Mercosul. Sofri na pele a luta pela obtenção da cidadania, pela busca da igualdade dos direitos entre os filhos nascidos na Itália e os não nascidos que vivem na América do Sul. Vivo e transpiro a realidade da maioria dos italianos descendentes e conheço a realidade de imigrantes italianos de primeira, segunda e terceira geração, pois já ajudei muitos cidadãos e trouxe já outros muitos italianos para morar e trabalhar no Brasil. Além disso, tenho projetos concretos na minha plataforma política, todos identificados minuciosamente nas realidades familiares, estudantis, profissionais e empresariais tanto no Brasil como na América do Sul.

Qual sua visão sobre a comunidade ítalo-brasileira em seus diversos aspectos (social, cultural, econômico, etc)?

A comunidade ítalo-brasileira precisa de uma política cultural específica. Necessita apoio, união, valorização, integração, aqui e na Itália. Falta um líder integrador, um representante que faça e não somente prometa em tempos de campanha eleitoral. Faltam sim leis/normas, mas mais do que isso falta orientação e integração, a partir do fortalecimento das instituições e associações já existentes.

Do ponto de vista social, a comunidade italiana segue unida nos menores centros urbanos, ou mesmo em bairros de cidades grandes, mas consiste numa união mais geográfica que sanguínea, pois o italiano que sai deste círculo muitas vezes acaba isolado em outros lugares. Não só o Brasil, mas a própria América Latina, tem muitos italianos que podem se unir e praticar a socialização, o que merece um incentivo, mediante a criação de oportunidades cruzadas. Há de se valorizar, em primeiro lugar, as raízes e facilitar o aprendizado da língua já nas escolas locais e associações e institutos culturais, mas também incentivar e facilitar a viagem e visita à Itália para uma conexão territorial mais forte com a Itália de hoje.

A cultura italiana nas comunidades é ainda forte mas perde espaço a cada ano que passa, em razão da falta de apoio e coordenação e da precária difusão e valorização. O que ainda sustenta a nossa cultura são heroicas iniciativas individuais ou coletivas dos italianos mais velhos, que ainda trazem consigo o sentimento forte de pertencimento e de italianidade. Mas precisamos também focar e atrair os jovens, nos aproximar mais deles e envolvê-los de maneira mais efetiva na realidade italiana e na participação comunitária. E por isso as nossas bandeiras de isonomia e continuidade territorial, para que poder conectar e integrar todos, mas principalmente os jovens com a Itália de hoje.

Outras culturas de imigrantes bem menos representativos no cenário nacional tem destaque superior justamente por conta das políticas culturais. Existem sociedades e institutos de grande valor, mas de baixa abrangência e adesão, de modo que uma política cultural inclusiva, uniforme e sistêmica deve ser a nossa prioridade.

Do ponto de vista econômico, a comunidade ítalo-brasileira se mantém ativa, especialmente por conta de mercados já consagrados de italianos, tanto em infraestrutura, quanto em metalurgia e moda, dentre outros. Entretanto, os canais de entrada e negócios são restritos e dominados pelos que já investiram nisso. Há de se expandir as oportunidades, sempre através da integração das nossas comunidades, mas também trabalhando para derrubar as barreiras burocráticas entre os países e entre empresas sediadas em ambos. Com a facilitação dos negócios, é certo que o volume de negócios entre empresas brasileiras e italianas deve dobrar em até 5 anos. Este assunto conheço muito bem, pois trabalho com isso há muitos anos: tenho experiência, conhecimento e relações para indicar o melhor caminho e liderar uma verdadeira revolução nas relações comerciais, industriais e culturais entre a Itália, os países da América Meridional e as nossas comunidades italianas.

Quais são nossos principais problemas a seu ver?

Os problemas percebidos são:

– Italianos descendentes e cidadãos que buscam serviços consulares não são tratados dignamente (por isso a nossa bandeira da “Isonomia”, de tratamento igualitário aos italianos residentes na Itália), colocando-se à sua frente inúmeros obstáculos, e não soluções, especialmente para aqueles que não falam italiano (não por culpa sua, mas pelos anos de abandono e de ausência do Estado Italiano, tendência essa que somente agora começa a ser revertida). Seja pelas exigências não compreendidas, pelos pedidos impossíveis, ou mesmo pelo tempo de espera por serviços. Tudo neste quesito precisa ser melhorado;

– Falta de domínio e manutenção da cultura e língua italiana, que deve e será no meu mandato objeto de leis e plano específico de governo. Se o italiano residente no Brasil tem a sua cidadania reconhecida mas não lhe é garantido o direito de aprendizagem da língua, ele no fundo está sendo tolhido em um Direito Fundamental seu e ferido na igualdade com os demais coirmãos italianos, que tem acesso ao italiano nas escolas públicas desde a infância;

– Os italianos descendentes no Brasil não recebem incentivo e meios de visitar sua família e os antepassados na Itália, perdendo e/ou enfraquecendo os laços históricos com o seu passado e as suas origens, criando mais dificuldades e barreiras para a sua inserção e integração na Itália do presente e do futuro;

– Os italianos residentes no Brasil pouco ou nada se integram com os italianos do Uruguai, da Argentina, da Venezuela e dos demais países da América Meridional ou de outras partes do mundo. Os italianos estão desunidos, e poderiam usufruir de uma rede de autoproteção e geração de oportunidades sem precedentes, mas para isso haveria a necessidade de uma política específica e pequena ajuda estatal nesta integração, que resultaria em ganhos para todos os lados, principalmente para Estado Italiano;

– As oportunidades acadêmicas de intercâmbio entre entidades brasileiras e italianas são diminutas e baseadas em formatos antiquados, resultando muitas vezes na em maior gasto de tempo e dinheiro na formação/aceleração acadêmica e profissional. Precisamos repensar o modelo dos intercâmbios, organizando e facilitando o processo, para melhor divulgá-lo a todos, gerando oportunidades reais e concretas de formação e experiência na e para com a Itália, com reflexos positivos para todos, lá e aqui, inclusive do ponto de vista econômico e cultural;

– Existem italianos no Brasil que falam fluentemente italiano e empresas italianas na Itália e no Brasil buscando estes valores – inclusive alguns pela própria cultura italiana diferenciada no âmbito profissional, mas não existe uma rede organizada para facilitar estas oportunidades e juntar as partes. Um simples banco de dados interligado pela “italianidade” poderia representar facilitação para empresas recrutarem profissionais qualificados, gerando oportunidades e integração para todos;

– Enfim, o grande problema dos italianos no Brasil pode se resumir no não aproveitamento das inúmeras oportunidades que a sua união e integração poderiam gerar.

Quais suas propostas de trabalho e compromissos?

São inúmeras, realmente ilimitadas. A vontade de concorrer ao Parlamento italiano decorre justamente de uma infinidade de possibilidades que somente com ações legislativas e de governo poderiam ser implementadas. As minhas propostas partem de dois pilares fundamentais: “Isonomia” (igualdade) entre os cidadãos italianos do mundo todo e na “Continuidade Territorial” (facilitação de viagem para a Itália).

Estas premissas sustentam o acesso e aprendizagem da língua italiana, a facilidade de compra de passagens para viajar à Itália (direito já assegurado a moradores da ilhas italianas como a Sardenha e a Sicília), a melhoria dos serviços consulares, a facilitação de acesso aos documentos dos antepassados e aos familiares italianos, a disseminação de ações de difusão e manutenção da cultura nas comunidades italianas da América do Sul, com estabelecimento de um crescente calendário de eventos e locais referenciais de atividades culturais italianas, tudo de maneira sinérgica e coordenada com as estruturas já existes; e a criação de eventos esportivos envolvendo a comunidade italiana na América do Sul, que além da oportunidade de “vitrine” a potenciais atletas com intenção de profissionalização na Europa, será um palco de exercício de vivência italiana com coirmãos do continente.

Também pretendo promover e criar leis que facilitem a integração empresarial e estudantil (escolar, técnica e acadêmica).

A começar pelo estabelecimento de convênios e validação de diplomas italianos no Brasil e brasileiros na Itália, ajuste da grade curricular do Ensino médio, graduação e pós graduação com intersecção de parcelas do conteúdo programático, permitindo o intercâmbio de alunos entre os países ganhando não só a experiência de vida no estrangeiro, mas também o ano escolar avançado, a custos menores e sem perda de oportunidades ou tempo.

Na área da integração empresarial, vou criar mecanismos de maior e mais eficaz manutenção e incremento de missões empresariais entre Itália e América do Sul e de aproximação não somente de empresas mas de consórcios, associações e federações de empresas, visando trabalhar o conceito dos distritos industriais dos dois países. Vou gerar oportunidades cruzadas e facilitar a pesquisa e a relação segura com empresas do estrangeiro.

Tudo isso já faz parte dos estudos e trabalhos que venho desenvolvendo há anos, inclusive no Doutorado que fiz em Sassari, principalmente no que diz respeito aos distritos industriais italianos, no Brasil conhecidos como arranjos produtivos locais.

Nesse sentido já tenho exemplos reais e concretos sobre os quais trabalhar, como o do Distrito Industrial Metal-Mecânico, Plástico e Tecnologia Embarcada da Serra Gaúcha, que batizamos de “Campus Empresarial” (www.campusempresarial.com), e agora o Náutico-Naval de Santa Catarina, alvo de acordo recente entre o Governo do Estado de Santa Catarina, o Consórcio Tecnomar de La Spezia e o Distrito Lígure das Tecnologias Marinhas.

Pretendo ainda trabalhar na simplificação e desburocratização do acesso e da relação dos cidadãos italianos com os consulados e com o “Sistema Itália” como um todo, revendo a legislação que regula a matéria.

E, obviamente, acelerar a tramitação de processos com a inclusão de novas tecnologias de andamento seguro, rápido e prático de processos, facilitando assim a vida de descendentes e profissionais que prestam serviços nesta área.

Que pensa especificamente sobre as chamadas “filas da cidadania”. Não é uma ofensa repetida a todo ítalo descendente que por diversas razões, inclusive de identidade, sonha a Itália?

Sem dúvida é uma ofensa. Todo ítalo-descendente já é um titular de direitos. O processo de cidadania é apenas declaratório. Ora, até mesmo os nascituros italianos, em plena gestação no ventre de suas mães, já detém direitos. Porque um descendente tem que passar por tão dificultoso, demorado e custoso processo para ter o reconhecimento de um direito fundamental seu? Seria um processo somente para ricos e descendentes que não tem pressa?

É uma questão de dignidade e de direito fundamental e constitucional a ser colocado em prática. As filas têm que acabar, e no primeiro momento ao menos reduzir drasticamente. A nossa meta tem que ser um processo que dure no máximo 180 dias, conforme inclusive já prevê a legislação italiana. Isso já vai melhorar muito agora com o repasse das verbas da taxa da cidadania. Só que este movimento não se limita a uma lei ou papel. Tem que ser repensado e modernizado o processo de cidadania como um todo, com a inclusão significativa das ferramentas de tecnologia da informação, já disponíveis e tão pouco utilizadas. Certificação digital, processo eletrônico, auto-declaração, geração e pagamento de guias pela internet, transferência eletrônica intercontinental de documentos e ações, unificação e digitalização de cartórios, etc. E vamos trabalhar duro para que tudo isso aconteça.

E sobre a “taxa da cidadania”, cobrada por um direito de sangue que muitos – especialmente juristas – asseguram ser inconstitucional e que foi criada para resolver as filas… advoga sua continuidade?

O que se chama de “taxa da cidadania” nada mais é do que o recolhimento de um valor para custear um processo específico. Acho que ainda há muita desinformação sobre o assunto, que está sendo usado de maneira eleitoreira por muitos candidatos.  Advogar a completa extinção da taxa – como muitos defendem – além de ser populista seria irresponsável com a lógica do sistema que tem os seus custos e sobretudo injusto com os italianos residentes na Itália que já contribuem para a manutenção do Estado Italiano com alta carga tributária.

Obviamente todo e qualquer serviço tem o seu custo que deve ser custeado de alguma forma. Seja no que diz respeito diretamente aos consulados, seja no que diz respeito indiretamente à máquina pública para administrar milhões de cidadãos italianos residentes no estrangeiro, não só no Brasil, mas em todo o mundo.

O que há de se verificar é a coerência do valor pago com o retorno recebido, o que é básico em qualquer relação com governos e até mesmo no nosso dia-a-dia de relações tão simples como aquelas de custeio condominial.

O Ministro Alfano, das Relações Exteriores da Itália, já confirmou que os consulados irão receber os valores que lhes tocam relativamente à taxa da cidadania e isso espera-se será uma revolução no atendimento dos italianos e o fim das filas, a partir do investimento em contratação de mais funcionários, aquisição de computadores e redes e investimento em sistemas informáticos e tecnológicos.

Num primeiro momento a taxa parece elevada demais para o retorno recebido, pois os reflexos positivos ainda não foram sentidos, mas o serão dentro em breve. Não somente com relação à melhoria do atendimento e redução das filas. Ela também significará mais economia para os nossos italianos, pois processos mais curtos e menos burocráticos implicam em menos custos com prestadores de serviços, documentos e deslocamentos.

A taxa também poderia parecer injusta com os nossos italianos, mas como vimos ela foi pensada para melhorar o atendimento na ponta do sistema, ou seja, nos consulados, e também em Roma, permitindo uma melhor e mais eficaz gestão de todos os milhões de italianos residentes fora da Itália e não somente no Brasil. E como parlamentar vou defender e fiscalizar o uso correto dessa taxa, assim como o retorno da mesma através de verbas que permitam o ensino da língua e da cultura italianas e outras formas de melhoria do conceito de italianidade junto às comunidades que com ela contribuíram.

Ela também poderia parecer impeditiva do acesso dos nossos italianos à cidadania, mas isso também não procede, pois os menores de idade são isentos dessa taxa, conforme previsão expressa na própria lei que a criou. E aqueles que efetivamente não podem pagá-la, poderão se valer do uso da declaração de hipossuficiência ou de pobreza, que ainda depende de análise da autoridade consular e dos tribunais administrativos. Nesse sentido vou defender lei específica que torne automático esse benefício para os nossos italianos desprovidos de recursos.

Por fim, se pagar a “taxa de cidadania” significar processo ágil e célere que resulte na obtenção da cidadania sem outras despesas e incômodos, ter-se-á um valor real para a taxa, que justifica sua manutenção. Agora, se for para pagar taxa de cidadania e receber em troca humilhação, demora, gastos e mais gastos extras, e demais obstáculos, serei o primeiro a defender a sua retirada por ineficácia.

Para quem já é cidadão italiano reconhecido, agora a Itália oferece a “simpatia” das filas para o passaporte. Que diz disso?

Italiano é italiano onde estiver, com ou sem passaporte. É sangue, é sonho, é coração. O processo de cidadania é um caminho ao reconhecimento. O italiano não recebe sangue italiano no processo, recebe um papel, pois já é italiano. Repita-se: é ato de reconhecimento, de declaração com efeito jurídico.

Que bom que existe o foco de melhoria nos serviços de passaporte, mas as melhorias e bom atendimento não deveriam escolher serviço ou tipo de cidadão. A maior bandeira da minha campanha política é justamente a isonomia (igualdade) entre todos os italianos de todos os tipos e moradores de todos os locais.

Entende que um parlamentar poderia influir positivamente inclusive na nomeação de cônsules e embaixadores mais sensíveis a nossos problemas?

Não é este o papel de um parlamentar. Mas claro que a influência indireta por conta de plataforma de mudanças necessárias com base em leis e demais normas haverá de direcionar a perfis mais específicos para ocuparem as posições de cônsul e embaixador. Ou seja, a colocação efetiva de propostas no parlamento é que vai influenciar este processo de nomeações, por dar uma orientação de entrega de serviços nas instituições representativas fora da Itália. A consequência e encargo das autoridades italianas será encontrar pessoas com o perfil correto para implementar os projetos aprovados.

A Itália está passando por um processo histórico de renovação. A manutenção do respeito e a segregação entre os poderes é essencial para a estabilidade do sistema. Hoje o parlamento é essencial e preponderante do processo, mas isto não pode significar empoderamento em áreas fora de sua alçada.

Números atestam que a alegada deficiência da estrutura consular na América Latina não decorre da falta de dinheiro. Os consulados se auto-financiam e sobra dinheiro. Onde está a falha?

A falha está nos processos e nos instrumentos utilizados. O processo tem formato antiquado e burocrático. A exigência presencial desnecessária é uma constante, os erros de preenchimento de cadastros alcançam números exorbitantes, pois preenchidos à mão a partir de ditado do interessado, interpretados muitas vezes de modo equivocado pelo digitador, os trabalhos e retrabalhos, emissão de guias físicas, saída para pagamento e devolução de comprovação em papel, etc.

Definitivamente não parece que estamos no ano de 2018, com tantas alternativas para solução. Falta redesenhar o processo todo e integrar por meio da tecnologia da informação (informatização) e utilizar as mais modernas ferramentas de digitalização, pesquisa, processamento, validação à distância, autorização remota, autenticação eletrônica e tudo o mais disponível.

Afirma-se que na área cultural e da difusão da língua italiana também andamos de ré nos últimos anos. Concorda com isso?

Com certeza. Cada vez mais o italiano se distancia da vida cotidiana dos italianos. Cultura valoriza povo, hábitos, comunicação, história e língua. Sem a cultura a injetar doses permanente de “italianidade”, o italiano como língua vai perdendo espaço. Então se fala menos italiano e se promovem menos eventos culturais italianos, um em decorrência do outro em preocupante espiral negativa que precisa ser invertida. Porque tantas outras culturas e línguas tão menos importantes no território brasileiro especialmente, mas também na América do Sul, são tão festejadas? Porque mereceram projetos implementados.

A língua italiana é certamente uma das mais lindas do mundo, senão realmente a mais linda, além de útil fora da Itália, e a cultura extremamente rica e consistente. Falta projeto e implantação. Nesse sentido, indo além dos necessários e imprescindíveis cursos de língua e cultura italiana para todos os nossos descendentes, apoio projetos inovadores como aquele de rádios italianas modernas para atingirem os nossos jovens em todo o mundo, como o da rádio Stile FM, do famoso radialista romano Carlo Elli, que ainda em 2018 deverá entrar em operação no Brasil, ajudando a fazer uma ponte linguística e cultural com a nossa Itália de hoje.

Considerações finais

O que está em jogo com a minha candidatura inédita (de quem nunca ocupou ou se candidatou a cargo político) ao parlamento italiano é o incremento da experiência, projetos e sonhos de um profissional capacitado, enérgico e comprovadamente realizador na iniciativa privada que se coloca a serviço de todos italianos e da Itália.

Um candidato que passou por todas as dificuldades que os ítalo-descendentes passaram, que estudou, estagiou e trabalhou na Itália, mas que ao invés de desistir, resolveu os seus problemas, tornou-se conhecedor profundo da Constituição e legislação italianas, abriu escritório em Roma e alcançou seu sonho de resgate da “italianidade”, transformando-se numa referência no eixo Itália-Brasil-América do Sul.

Provavelmente o único candidato desta eleição que consolida em si todos os elementos imprescindíveis para a mudança, como profundo conhecimento da imigração italiana no Brasil, experiência de Itália, preparo, competência, juventude, energia, e partido com representatividade parlamentar capaz de impulsionar seus projetos e efetivamente implementar as melhorias propostas. Um apaixonado italiano a serviço da Itália que queremos!