u CURITIBA – PR – “Existe uma única alternativa eficiente e eficaz para se fazer valer seus direitos: força! É isso que essas eleições devem carregar como principal significado. Ou demonstramos à Itália de “dentro” nosso peso, nosso valor, ou nos sujeitamos ao papel menor e nos submetemos ao poder daqueles que jamais compreenderam o significado histórico e o sacrifício que nossos ancestrais assumiram no passado”.
A doutrina é do ítalo-brasileiro Fausto Longo, 55 anos, arquiteto, urbanista e mestre em tecnologia, entre outras coisas. Vinculado à Fiesp, ele é candidato a Deputado Federal nestas eleições para a renovação do Parlamento Italiano e escolha do novo presidente do Conselho de Ministros do governo peninsular. Fausto se candidata pelo Partido Socialista Europeu como “resultado de minha coerência e respeito a todos aqueles companheiros que persistem na tarefa de construir caminhos mais dignos para toda a humanidade”.
Os italianos espalhados por todo o mundo inscritos na Circunscrição Eleitoral do Exterior votam por correspondência para a eleição de 12 deputados e 6 senadores. A comunidade italiana da América do Sul elege três deputados e dois senadores. O voto, para ser considerado válido, precisa chegar nas sedes consulares até as 16 horas do dia 10 de abril.
Confira a entrevista que o candidato Fausto Longo concedeu, com exclusividade, ao jornalista Desiderio Peron, editor da Revista Insieme:
n Quem é Longo Fausto?
FAUSTO LONGO – É um brasileiro, 55 anos de idade. Um brasileiro em cujas veias corre o sangue italiano! Arquiteto, urbanista, mestre em tecnologia e gestão de projetos habitacionais, artista plástico, cartunista. Também, pai do Luccas, do Leonardo e do Luigi. Nestes quase quarenta anos de atividade pública e empresarial, percorri uma trajetória pessoal, profissional e política, que me permite, ao lado de tantos companheiros e de meus ancestrais, sentir-me um pouco parte da moderna história do nosso Brasil. Enfrentamos a farsa da revolução, resgatamos nossos direitos pela via sensata da democracia e conseguimos resgatar a dignidade do povo brasileiro, dos italianos e de seus descendentes. Se hoje vivemos a estabilidade de um regime comprometido com a vontade da maioria é porque soubemos seguir o exemplo de luta de italianos do porte de Giuseppe Garibaldi, que aqui, ao lado de Anita, plantou a semente da coragem no enfretamento de desafios. Participei de muitos governos, atuei em diversos cargos, acreditei em inúmeros sonhos, nunca perdi o ideal de poder participar da construção de um mundo melhor, com justiça, dignidade e oportunidade para todos. Hoje estou aqui, colocando-me, uma vez mais, num campo de batalha cuja vitória, se houver, será apenas a abertura de uma nova trincheira para novas lutas. Poderia me acomodar e assistir, do camarote, o desenrolar de mais esse capítulo da história parlamentar italiana. Infelizmente para uns e outros, felizmente para mim, não nasci para ser cativo, nem passivo. Mesmo com minhas fragilidades prefiro ousar ser protagonista a acomodado espectador. Peço que, mesmo que não aceitem, ao menos observem com certa generosidade essa minha ousadia, sonhar com um mundo melhor!
n Porque se candidata pelo Partido Socialista Europeu? Quem são os
demais candidatos da chapa e que percentual de voto imagina ter nestas
eleições?
FAUSTO LONGO – A candidatura a Deputado Federal ao parlamento italiano pelo Partido Socialista Europeu é resultado de minha coerência e respeito a todos aqueles companheiros que persistem na tarefa de construir caminhos mais dignos para toda a humanidade. O socialismo reside na alma, é um sentimento, não uma simples agremiação a caça de votos, queremos a consciência, a generosidade guardada em cada coração humano, queremos o empenho, o comprometimento de cada um de nossos simpatizantes com as causas da humanidade, com as causas do bom senso, da justa oportunidade para todos. Não queremos o poder pelo poder, não queremos as benesses de um poder corrompido e malversado, queremos incomodar cada um dos parlamentares que se sentam nos palacetes, incomodar para permitir-lhes, quem sabe, alertados para a realidade, vislumbrar as tarefas e os desafios que temos que assumir para garantir o mundo melhor que todos almejamos deixar para os que virão depois de nós. Quanto aos meus companheiros de chapa, formamos um só pensamento, uma só força, vencendo um que seja, conseguiremos uma pequena alavanca para iniciarmos um grande movimento de coalizão das organizações humanitárias, partidos políticos e lideranças de alma socialista de toda a América do Sul para a construção de um projeto social mais comprometido com a felicidade de cada ser humano, quer no plano material, quer, principalmente, no plano da realização de seus sonhos e anseios.
n Os 12 compromissos de trabalho são seus ou do partido?
FAUSTO LONGO – Os 12 compromissos de trabalho são poucos diante de tanto a ser feito, mas correspondem aos princípios socialistas. São premissas pontuais que estabeleci para aceitar concorrer num pleito tão disputado e tão carente de conteúdo, de comprometimento com causas mais nobres. Assisto em cada proposta de candidatura brotar um novo despachante, oferecendo-se para desenrolar o vergonhoso novelo burocrático, insensato e inexplicável para um mundo extremamente dominado por avançadas tecnologias. Por vezes até me desanimo ao tomar conhecimento da forma como essa disputa, que deveria ser um exercício pleno do respeito à civilidade, se desenrola nos bastidores e mesmo nos órgão de comunicação. Não pretendo ser canonizado, mas política deveria ser praticada como missão, séria e conseqüente, e não em função de projetos personalistas como os que somos obrigados a testemunhar. Não faço previsão de percentual de votos a serem contabilizados, como já o afirmei anteriormente, queremos conquistar almas, consciências, queremos gente compromissada e comprometida com o exercício pleno da cidadania. Não nos interessa a vantagem numérica, e sim, a de consistência política.
n Em sua plataforma, você observa bem que, apesar de nossa desunião na América do Sul, a língua italiana é um ponto comum dos ítalo-descendentes. Como superar as
barreiras e construir uma verdadeira comunidade?
FAUSTO LONGO – A língua italiana, bem como sua cultura, são meios, instrumentos. São essenciais, mas, o que realmente importa é para qual destino queremos seguir, embora o poeta diria que não há caminho, apenas o caminhar, sabemos que, sem sentido, sem direção, sem se saber onde se quer aportar, não existem bons ventos, como diria Sêneca. Essa é a verdadeira razão que nos move nessa disputa, contribuir para se pensar um projeto no qual cada um e todos possam cumprir um dignificante papel. Como arquiteto posso afirmar com plena convicção, sem projeto, sem obra! Como você mesmo afirma em sua questão, construir uma verdadeira comunidade pressupõe um projeto, um fim, uma meta, que deve ser pensada por todos, coordenada sim, mas de forma plural. Insieme!
n As alegadas dificuldades para o reconhecimento da cidadania italiana
por direito de sangue no Brasil significam, segundo Vc mesmo diz,
sonegação de outros direitos, inclusive o de voto. Como resolver isso?
FAUSTO LONGO – Existe uma única alternativa eficiente e eficaz para se fazer valer seus direitos: força! É isso que essas eleições devem carregar como principal significado. Ou demonstramos à Itália de “dentro” nosso peso, nosso valor, ou nos sujeitamos ao papel menor e nos submetemos ao poder daqueles que jamais compreenderam o significado histórico e o sacrifício que nossos ancestrais assumiram no passado. Perceba que aqueles que deixaram a península, para cá vieram “fazer a Mérica” e fizeram! Mais que uma, realmente fizeram três! E a rechearam de países que hoje possuem economia por vezes maior do que a Itália atual que ficou entregue àqueles que lá permaneceram. A Itália precisa se perceber como realmente é: uma a grande Nação que rompeu fronteiras, que se estende tal qual um império, porém “do bem”, pelos quatro cantos do mundo. É preciso muita coragem e nenhuma soberba para se assumir o papel que o destino lhe reservou. Até seria bom, que os italianos de “fora” assumissem o controle dessa Itália de “dentro” que, por anos a fio, mal consegue manter um único parlamento, e seu respectivo governo, por tempo suficiente para cumprir suas metas. O sobe e desce no poder é tão intenso que, além de servir de chacota ao mundo, gera total insegurança aos possíveis investidores internacionais. Insieme me pergunta como resolver isso, e eu, respondo: Insieme!
n Fala-se em reforma eleitoral, especialmente no que diz respeito ao
voto no exterior. A fórmula atual deveria ser revista em que aspectos?
FAUSTO LONGO – Claro e evidente a necessidade de uma reforma, mas, novamente apelando para meu senso profissional, afinal arquiteto, sempre arquiteto, non’é vero? Reforma pressupõe consertar o que é velho, a Itália precisa de um novo projeto! Em todos os mais amplos sentidos. Como já afirmei anteriormente, se a Itália se assumir enquanto comunidade global, desde de logo fica evidente que o que se precisa é fortalecer e legitimar o processo de representação no parlamento considerando essa dimensão global e não se apequenando. A impressão que se tem é que a Itália quer economizar cidadania. Nesse contexto existe a velha afirmação que sempre vale ser lembrada: economizar não é gastar menos, é produzir mais! Precisamos tomar muito cuidado com posicionamentos retrógrados e arcaicos tais como: os que aqui não pagam impostos não deveriam ter direito ou acesso ao processo eleitoral. Pura arrogância! Para não dizer mais!
n Nem bem terminavam as eleições de 2006, e Berlusconi dizia, em
relação aos italianos que vivem no exterior: “Não pagam impostos,
portanto não deveriam votar”. Assim pensam também milhões de italianos
na Península. Acha mesmo que os italianos que vivem no exterior, com
dupla cidadania, devem participar da escolha do governo italiano?
FAUSTO LONGO – Já respondi em parte sua pergunta no item anterior, mas vale lembrar que o senhor Berluscone é fruto dessa fase de busca de um novo projeto por que passa toda a Europa e, também, as mais importantes economias globais. Como o projeto de nação inexiste, a confusão é total, perceba-se o sobe e desce no congresso italiano, supostamente defendido como plenitude democrática, mas que, na verdade, expõe toda a fragilidade a que estamos submetidos. Nesse ambiente confuso surgem as mais estranhas aberrações, o senhor em questão é apenas uma delas! Devemos participar sim! E, se necessário for, colocar esse senhor no seu devido lugar, que, em minha opinião, não é à frente de uma nação como a que, tão dignamente, pertenceu aos nossos antepassados.
n Através de alguns relatos, sabemos que a Itália dá mais facilidades
ao ingresso de trabalhadores extra-comunitários que a ítalo-descendentes
que por lá aportam. Como vê a proposta, já antiga, de um caminho
preferencial aos que descendem de imigrantes italianos?
FAUSTO LONGO – Precisamos ganhar autonomia, não precisamos esmolar pequenas benesses do reino, precisamos construir nossa própria riqueza, força, visitar, tornar e retornar à terra mãe com o orgulho e o direito dos vencedores. Como já disse anteriormente e reafirmo agora, nossos antepassados vieram de um país miserável e construíram três Américas, Três! O Brasil e a América do Sul que nos couberam como tarefa construir são terras promissoras, ricas e, certamente, será daqui, das terras que nós, italianos de “fora”, construímos com nosso trabalho, sem jamais perder a herança da península que nos originou, de onde surgirão muitas das soluções necessárias para engrandecer o verdadeiro povo italiano, aquele que não nos vê como “stranieri”! Não queremos exercer nossa cidadania por esmolas e sim por direito!
n Sendo eleito deputado no Parlamento italiano, quais seriam suas
primeiras iniciativas?
FAUSTO LONGO – Aprender, realmente, todas as malícias da língua italiana para poder, de forma afiada, defender os pontos de vista daqueles que me elegeram nos debates que realmente possam fazer avançar um projeto socialista, democrático e plural. Também será indispensável conhecer detalhadamente a constituição vigente e percorrer todos os cantos da nossa “Mériga” onde houver um cidadão em cujas veias corra o sangue de nossa Itália. Gostaria, se eleito, acreditando no bom senso dos demais companheiros que porventura também conquistarem a confiança de seus representados, propor o estabelecimento de uma agenda única para a América do Sul. Uma agenda sobre a qual todos os eleitos se debruçariam com firmeza de propósito e cumplicidade ética para fazer valer cada voto colocado em cada cédula deste importantíssimo pleito eleitoral.
n Outras considerações sobre o tema das eleições que julgue importantes
FAUSTO LONGO – Somente lembrar aos descendentes que se sacrificaram para buscar o reconhecimento de sua cidadania, façam valer o seu direito, mais que isso, cumpram o dever que vocês, voluntariamente, quiseram obter. Vote! E, por favor, conscientemente!
12 COMPROMISSOS DE TRABALHO
01 – Assumir o exercício do mandato de deputado como instrumento efetivo para garantir os direitos de cada cidadão, respeitando suas peculiaridades, suas necessidades e, principalmente, seus anseios.
02 – A nação italiana é muito mais do que contém seu território físico. A alma, realmente italiana, desconhece fronteiras e limites para fazer valer sua própria cidadania, neste contexto, vamos criar meios que permitam a integração dos italianos espalhados pelo continente Sul Americano num só sentimento.
03 – Os extremos ideológicos, quer de direita ou esquerda, já se esgotaram. O verdadeiro socialismo, democrático e plural, é uma das únicas vertentes, entre as correntes políticas sérias e conseqüentes, capaz e competente para conduzir a humanidade a estágios mais dignos de civilidade.
04 – Na América do Sul, precisamos superar nossas dificuldades de integração regional e, através da língua e da cultura italiana que nos une, promover essa união cuja força somente será percebida e produzirá resultados se, conscientemente organizados, nos assenhorarmos do nosso próprio destino.
05 – A organização institucional de uma nação deve ter como foco, como objetivo, o adequado e efetivo atendimento às necessidades e anseios de seus cidadãos. Precisamos fazer valer nossa cidadania e exigir respeito, bem como, o aperfeiçoamento dos organismos públicos para que cumpram o seu papel. Nesse sentido não podemos assistir, como meros espectadores, 500 mil ítalo-brasileiros, além de outros milhares de ítalo-sul-americanos, impedidos de exercer seus plenos direitos em função de arcaicos empecilhos burocráticos e falta de agilidade administrativa.
06 – Fácil é culpar os quadros funcionais dos consulados, mas, todos sabemos, conscientemente, que a responsabilidade é de quem governa, de quem pode, e deve, garantir meios para o aperfeiçoamento, capacitação e melhores condições para esses colaboradores públicos que atuam nos extremos distantes de sua pátria para atender aqueles em cujas veias correm o mesmo sangue pátrio.
07 – Na América do Sul, os partidos, agremiações políticas e todos aqueles simpatizantes que carregam na alma o sentimento socialista democrático e plural, encontram-se distantes e, embora os ideais que nos conduzam sejam comuns, não resultam em conquistas e soluções, as quais necessitamos para evoluirmos enquanto cidadãos.
08 – Precisamos nos organizar, precisamos nos unir, precisamos transformar nossos ideais em ganhos sociais. Os socialistas sul-americanos, partidos e simpatizantes, precisam de um projeto, um só projeto! Precisamos, todas as lideranças socialistas, sentarmos à mesma mesa e, debruçados sobre a realidade que presenciamos e com os olhos voltados para o futuro, sonharmos uma América fortalecida, socialista, plural e democrática, que todos almejamos.
09 – Na Itália, precisamos, também, nos debruçar sobre a mesa dos desafios e ousar pensar um projeto mais consistente que, além de perfeita sintonia e sinergia ao projeto da União Européia, garanta, ao mesmo tempo, soberania e inserção internacional qualitativa a todos os seus cidadãos.
10 – A Itália é uma nação respeitada e simpática em todos os cantos de nosso planeta e essa característica lhe confere a responsabilidade de utilizar-se dessa empatia e traduzi-la em exercício de uma liderança efetiva visando o desenvolvimento de toda a humanidade, promovendo a fraternidade, a igualdade, liberdade, itens fartamente citados em discursos mas tão pouco praticado por nossos líderes e governantes.
11 – Os italianos de “dentro” devem compreender que os italianos e descendentes que hoje vivem em terras longínquas, os “de fora”, são fruto de uma história que não pode ser esquecida. O sacrifício de muitos que deixaram sua terra natal produziu dois grandes efeitos, o primeiro de permitir aos italianos que permaneceram, a possibilidade de reconstruir uma Itália então entregue ao desespero da miséria, aos que imigraram, restou o desafio de construir novas pátrias e, com o espírito de bravura que herdaram de seus ancestrais da tão querida península, contribuíram de forma decisiva para que pudessem existir nações tão evoluídas e importantes quanto as atuais economias de toda a América, do extremo norte ao extremo sul. Fato dos quais todos os italianos, de “dentro” ou “fora” deveriam se orgulhar!
12 – Quanto aos aspectos econômicos, é indispensável que os governantes italianos percebam e atuem no sentido da inclusão dos italianos espalhados mundo afora. Numa economia globalizada, esse pode ser um fator decisivo para o fortalecimento da economia interna. Expansão da fronteira mercadológica, não selvagem, mas através da cultura, da língua e da cidadania que nos une, poderá promover um intenso movimento de geração de riqueza e oportunidades.
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