“Seria o caso de ouvir os expoentes das comunidades judaicas do Brasil e da Argentina para entender como se sentem e como interpretam essa escolha de Renata Bueno, sobretudo os judeus italianos, que deram a toda comunidade ítalo-brasileira intelectuais como Giorgio Mortara e César Lattes”. Assim Daniel Taddone, candidato a deputado no Parlamento nestas eleições, pela Unital, reagiu às notícias sobre o passado do candidato argentino ao senado, Rodolfo Barra, pela coligação “Civica Popolare”, publicadas na imprensa italiana esta semana.
“Recebo com espanto – disse Taddone – a notícia de que a lista “Civica Popolare”, liderada por Renata Bueno, escolheu Rodolfo Barra como um dos seus candidatos ao “Senato della Repubblica”. Com um passado de antissemitismo e comprovadas simpatias fascistas, Barra viu-se obrigado renunciar ao cargo de ministro da Justiça do Governo Menem em 1996, após pressão da comunidade judaica argentina”, lembra o candidato concorrente.
Além dos representantes das comunidades judaicas, Taddone acha que “seria interessante ouvir também os outros candidatos ao Senado na mesma lista, pois com seus votos poderão contribuir para a eleição de uma personalidade sobre cujo passado paira uma nuvem de incerteza”.
Quase todos os candidatos enviaram a insieme reprodução do jornal italiano “La Notizia”, contendo um breve perfil sobre o candidato argentino. Poucos quiseram comentar, entretanto. Fabio Porta, que é também candidato ao Senado, ao enviar o facsimile do jornal italiano, perguntado se queria comentar o assunto, respondeu laconicamente: “Recebo e retransmito. Não tenho nada a acrescentar”. Outro que nada comentou foi Ricardo Merlo, igualmente candidato ao Senado, pelo Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero”.
Já o candidato Walter Fanganiello Maierovitch, de ascendência ítalo-hebreia, fala até de cassação da candidatura de Barra. “Começo por frisar a minha raiz italo-hebreia” – disse a Insieme Fanganiello. “No mais, a eventual exclusão de Rodolfo Barra, conhecido como antissionista, representaria a defesa da igualdade entre os seres humanos, que é o mais alto direito universal”.
“Por isso – prossegue Fanganiello -, receberia, caso se efetivasse, a cassação do registro da candidatura com todos os cânticos e aleluias que uma alma humana pode produzir. Meus avós paternos foram, na Polônia, perseguidos por serem judeus e fugiram para o Brasil. Para trás ficaram os seus parentes vítimas da Shoa’. De se lamentar, em pleno século XXI, a falta de cuidado por parte da chamada “Lista Lorenzin” na escolha dos candidatos.”
Insieme procurou saber o que Reata Bueno tem a dizer sobre o caso, mas a candidata não retornou. Segundo o jornal italiano, que a ouviu, ela informou que sobre “essa história” (o passado de Barra) “não sabíamos nada” e que, de qualquer forma, isso “não representa um problema”, pois estamos falando de uma pessoa muito respeitada, um jurista prestigiado que conheço há muitos anos e que foi também meu professor na Universidade “Tor Vergata”. “Essa história é falsa – disse ainda Renata – inventada por um jornalista isolado nos anos em que Barra foi ministro da Justiça na Argentina”.
Entretanto, o jornal – conforme reproduzimos acima – traz à baila fatos documentados pela agência Ansa, dando conta que Barra renunciou, em 1996, devido a acusações – inclusive da comunidade judaica argentina – de ligações com organizações nacionalistas.