Imagem do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, extraída de fotograma (Uol/https://www.youtube.com/watch?v=cybKyFjbIU0)

Morreu ontem, 23 de maio de 2021, o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, considerado por muitos como o “último gigante” da arquitetura brasileira, tendo compartilhado esse título com Oscar Niemeyer. Capixaba de nascimento, Mendes da Rocha nasceu em 25 de outubro de 1928 em Vitória. O fato de ter nascido no Espírito Santo já me despertou uma “desconfiança”. Teria o grande arquiteto ancestrais italianos? Dada a grande concentração de italianos na formação da população capixaba, a “desconfiança” contava com uma grande probabilidade de se confirmar.

Imediatamente me pus a pesquisar e o palpite confirmou-se, a mãe do arquiteto era Angelina Derenzi, nascida em 9 de outubro de 1902 no Espírito Santo, era filha de dois italianos. Morreu centenária em São Paulo em 1º. De julho de 2008.

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Portanto, apesar do nome totalmente lusitano, Paulo Mendes da Rocha era, como tantos outros brasileiros, de origem portuguesa e italiana.

Seus avós maternos eram “Serafim Derenzi” e Amalia Sgrignuoli, que chegaram já casados ao Brasil em 1896 a bordo do navio “Maranhão”. Sua avó nascera em 14 de outubro de 1875 na localidade de Fossacesia, na província de Chieti, região dos Abruzos. Era filha de Tommaso Sgrignuoli e Martira Maria Giorgio.

Seu avô foi “Serafim Derenzi”. Coloco seu nome entre aspas porque guarda uma curiosidade onomástica. Este nome soa bastante familiar para os habitantes da capital do estado, visto que batiza uma importante rodovia – que na prática é uma via urbana – que cruza a cidade de Vitória.

“Serafim Derenzi” na verdade era Terenzo Serafini, nascido em 2 de fevereiro de 1863 em Tomba di Pesaro, localidade hoje denominada Tavullia (local de origem do famoso campeão de motociclismo de velocidade Valentino Rossi).

Assim, ao se “aclimatar” ao Brasil seu nome sofreu não apenas uma rara inversão, mas também uma adaptação. Seu sobrenome Serafini passou a ser seu prenome na forma portuguesa “Serafim”. E seu prenome Terenzo (uma variação de Terenzio, em português Terêncio) tornou-se o sobrenome “Derenzi”, que é de fato um sobrenome na forma “De Renzi” típica do Lácio.

A inversão entre prenome e sobrenome não era comum, mas também não é rara. De fato, várias famílias italianas acabaram por herdar do seu capostipite (termo que significa algo como “chefe da estirpe”) o seu prenome e não seu sobrenome. À guisa de exemplo, cito outros dois casos desse tipo de fenômeno: um tal Dante Sganzerla que no Brasil passa a se chamar “João Dantas” e transmite à sua descendência o sobrenome português Dantas. E um Amadeo Andolfo que em vez de transmitir seu sobrenome Andolfo à prole, “inaugura” uma nova família com o sobrenome “Amadeu”.

Digno de menção é também o tio paterno de Paulo Mendes da Rocha, o engenheiro Luís Serafim Derenzi, que além de se destacar em seu ofício era um erudito, tendo escrito uma importante obra sobre a história dos italianos em seu estado natal, o livro “Os italianos no Estado do Espírito Santo” editado em 1974.

A celebração da vida do arquiteto Paulo Mendes da Rocha mostra-nos que a italianidade de muitas personalidades importantes está muita vezes “escondida” em sobrenomes de outras origens, mas sua marca sói ser forte e indelével.