CURITIBA – PR – Uma lei aprovada dia 23.05.2009 pela Câmara de Vereadores de Piraquara, na Grande Curitiba, autoriza o Executivo daquele município a celebrar tratado de cooperação em todos os níveis com os municípios do Valle del Primiero, região italiana de origem da primeira e única comunidade de imigrantes trentinos que aportaram no Paraná em 1878 e se fixaram na Colônia Imperial de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra.
A aprovação da lei aconteceu em sessão solene e extraordinária da Câmara, na presença de um representante dos municípios trentinos (Luigi Zortea, prefeito de Canal di San Bovo) e de um representante do Governo e da Assembléia Legislativa do Trento, deputado Giovanni Battista Lenzi. Além dos vereadores de Piraquara e seu prefeito Gabriel Jorge Samaha, estavam presentes também o vice-cônsul da Itália em Curitiba, Vittoriano Speranza, o presidente do Comites Pr/SC, Gianluca Cantoni e o conselheiro no CGIE Walter Antonio Petruzziello, mais o diretor da Associação Trentini nel Mondo, Rino Zandonai, o presidente do Círculo  Trentino de Curitiba, Ivanor Minatti, e a presidente da Federação dos Círculos Trentinos no Brasil, Iracema Moser Cani.
Além dos acertos para o início do relacionamento institucional entre os municípios italianos e o de Piraquara, ficou acertado que, em setembro próximo, uma comitiva de Piraquara deverá viajar à Itália para dar sequência aos entendimentos.
A iniciativa de Piraquara, com a participação do Círculo Trentino de Curitiba, aconteceu dentro da programação em comemoração aos 131 anos da chegada das primeiras 59 famílias imigrantes trentinas que, além de outras coisas, incluiu uma visita às obras de construção de um centro de processamento de produtos hortifrutigranjeiros denominado Vila de Processamento Agroecológico – um empreendimento de natureza econômica que será gerido pela Associação Trento Transforma, e que está em construção sob financiamento da Sanepar, dentro de um acordo de contrapartida em decorrência das inundações de áreas da barragem de Piraquara II.
Além dos normais interesses culturais e turísticos, no “gemellaggio”, ambas as partes buscam, principalmente, a cooperação em áreas de interesse preservacionista, ecológico e ambiental.

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Autoridades convidadas e vereadores numa formação especial para foto, após a sessão solene da Câmara Municipal de Piraquara-PR (Foto DePeron / Revista Insieme)

Sobre o tema, a edição 124 da Revista Insieme publicou o seguinte texto:

Uma parceria permanente com trentinos é
ESPERANÇA EM PIRAQUARA

Município é responsável pelo abastecimento de água de pelo menos metade da região metropolitana de curitiba. área proibida para iniciativas industriais, é a ante penúltima comunidade na linha de pobreza do paraná. Berço da imigração trentina no Estado, encontrou nesse fato uma saída que está sendo saudada com esperança e otimismo: O Caminho Trentino dos Mananciais, voltado para o agrOturismo, sob o comando da associação “Trento Transforma”, deverá produzir uma nova era aos seus cerca de 100 mil habitantes. Diversas iniciativas já estão em curso dentro de uma parceria que envolve o Município, o Círculo Trentino de Curitiba e a Sanepar – Companhia de Saneamento do Paraná, instada a financia-las como contrapartida pela exploração dos mananciais na região onde nasce o Rio IguaçÚ que, em sua Foz, cerca de mil quilômetros depois, forma as Cataratas do Iguaçú.

Uma comitiva trazendo as principais autoridades da Província Autônoma do Trento, inclusive o presidente Lorenzo Dellai, desembarcará em Curitiba-PR na segunda quinzena de maio próximo. Vem para prestigiar a inauguração da primeira etapa de um projeto que há cerca de 15 anos está sendo costurado na área em que se instalaram, no final do século 19, as primeiras 59 famílias imigrantes trentinas, originárias de ‘Valle del Primiero’ – a antiga Colônia Imperial de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra. O projeto todo foi batizado de “Caminho Trentino dos Mananciais” e envolve diversas linhas de ação, incluindo uma associação de produtores e empresários (atualmente cerca de 50) denominada “Trento Transforma”, que será o braço econômico da iniciativa. Observando todas as normas traçadas para a região dos mananciais, a “Trento Transforma”, atualmente presidida por Hugo  Andriolli, garantirá também qualidade e segurança alimentar a produtos artesanais das famílias ali radicadas, que haviam sido proibidas de atuar dentro dos velhos métodos. De um problema econômico com sérias conseqüências sociais, portanto, nasce um projeto dinâmico, moderno, com a chancela e apoio de uma das regiões italianas com o mais alto “know-how” em turismo auto sustentável – a Província Autônoma do Trento. A idéia criou novo ânimo em todo o município, cuja população soma atualmente cerca de 100 mil habitantes.
Quem, a partir de agora, circular pelo interior de Piraquara a procura de ar puro e contato com sua exuberante natureza vai notar uma diferença: as estradas já estão melhores, a sinalização é abundante e padronizada; as habitações estão sendo mais cuidadas e, cá e lá, foram fincadas placas indicativas de iniciativas que estão fazendo ou em breve farão a diferença: o “Paraíso das Trutas”, por exemplo, ou a vinícola “Berço das Águas” – apenas para citar dois. Enquanto o primeiro, de Heitor Carlos Slomp, já é conhecido pelo exótico restaurante sobre uma cascata em meio à mata, nas montanhas, e por abastecer de trutas inúmeros restaurantes da Grande Curitiba, o segundo está nascendo pelas mãos de Ari Pinto Portugal, ex-diretor da falecida Seguradora Bamerindus (hoje HSBC). Aposentado, ele resolveu investir cerca de um milhão de dólares na aquisição e reforma da antiga estação de trem de Roça Nova – um complexo que envolve também o antigo túnel de trem, (429 metros de extensão, 5m de altura e 3,5m de largura,  onde fará maturar nada mais nada menos que espumantes pelo método tradicional “champenoise”); uma fábrica-escola de chocolates, algumas pousadas e, entre outros atrativos, um restaurante de alto padrão. “Champagne” em Piraquara? Sim, e diferenciado, com parceria chilena, aproveitando um ambiente sem igual e com temperatura estável, incrustado na rocha de granito cavada em 1883 pela mão-de-obra, também italiana, que construiu a histórica ferrovia Curitiba-Paranaguá. Ari conta que já tem exclusividade encomendada até com restaurantes chiques de São Paulo.
Enquanto as máquinas roncam nos últimos serviços de terraplenagem onde está nascendo a Vila de Processamento Agroecológico da “Trento Transforma”, produtores já discutem como será operada a unidade. Sobre área total de 33 mil metros quadrados (11 mil m2 ocupados pelas edificações) ali funcionará uma unidade de laticínio para o processamento de 5.000 litros de leite por dia, no fabrico de queijos, iogurtes e outros derivados; uma vinícola para 60 mil litros por ano de vinho; um abatedouro de carneiros e suínos para entre 800 a 1.000 cabeças por ano; uma unidade de processamento de entre 10 e 12 toneladas de mel; uma unidade chamada “Cozinha Vegetal”, para o preparo de doces, sucos, geléias, compotas e outros produtos do gênero; um abatedouro de peixes com capacidade para cerca de 100 quilos diários; e um abatedouro de aves, com capacidade para cerca de cinco toneladas por ano, além de um quiosque central onde os produtores, organizados em cooperativa realizarão a comercialização de seus produtos. Os antigos queijos e salames coloniais, entre outros produtos, que uma vez eram vendidos pelos colonos na região voltarão a fazer honras à tradição, só que de cara nova, conforme explica o técnico agrícola Gilmar Zachi Clavisso, hoje secretário de Turismo e Meio Ambiente da Prefeitura de Piraquara. Clavisso, na verdade,  é um dos pilares do projeto, tendo sido inclusive um atuante líder na organização da associação, desde seu início, quando foi necessário muita tática e paciência para estabelecer com a Sanepar cláusulas compensatórias pelo uso dos mananciais. Na verdade, esta é a primeira vez que a Sanepar foi forçada a indenizar parcialmente pelo uso da água que capta. Na construção das barragens Piraquara I e II, isso não aconteceu, nem na construção da barragem do Iraí. Mesmo assim, na construção da Piraquara III, onde está situada a Colônia de Santa Maria, alguns produtores chegaram perder suas propriedades e a associação “Trento Transforma” só não foi dissolvida devido à capacidade de suas lideranças de negociar um novo caminho que contemplasse os diversos interesses sem colocar em risco a necessária preservação ambiental.
Ao unir o útil ao agradável, a parceria Prefeitura-Sanepar-Círculo Trentino garante o aporte de tecnologia também da Província Autônoma do Trento que, desde o início, demonstrou-se sensível ao projeto. Apenas para registro, deve-se lembrar que em sua primeira fase o projeto, parcialmente financiado pela Província Autônoma do Trento, enfrentou o fantasma da falência, devido a entreves legais e políticos. Mas agora vai de vento em popa, a ponto de fazer nascer também  um tratado de amizade (“gemellaggio”) entre Piraquara e os municípios de “Valle del Primiero”, uma região montanhosa formada pelos municípios italianos de Fiera di Primiero, Imer, Mezzano, Siròr, Tonadico e Transacqua, totalizando 417 km2, também conhecido como “valle del Cismòn”, referência ao rio local. Foi desse vale trentino oriental que vieram as famílias que formaram a Colônia Imperial de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra, que agora ganha também com o pacto celebrado entre as três partes: sobre cerca de 10 alqueires da área que envolve a igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição (a primeira construída em Piraquara), está o Parque Trentino com salão de eventos, o futuro Museu Trentino, duas casas antigas preservadas, o antigo cemitério e outros equipamentos locais que servem de local para os principais eventos do município. Só para se ter idéia, na última Festa do Carneiro, calcula-se que compareceram mais de oito mil pessoas. Adepto da proposta de valorização étnica desde à época em que era vereador, o prefeito Gabriel Jorge Samaha (Gabão) não perde uma Festa Trentina (a deste ano será dia 24 de maio) e, segundo o presidente do Círculo Trentino de Curitiba, o empresário Ivanor Minatti, em breve ele será convidado a ser sócio honorário da organização. Afinal, poucas são as entidades congêneres cujo berço é guiado por portais, totens e obeliscos e contam com investimentos da ordem de seis milhões de reais que podem alavancar a economia de toda uma comunidade antes fadada ao desaparecimento. Não é por outra que o símbolo escolhido foi uma multicolorida borboleta, que além de encerrar a idéia de transformação, também rima com ambiente.*