u ROMA – ITÁLIA “Brasileiros e italianos vêem o mundo através das mesmas lentes da herança latina e humanista”, disse o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião de declaração conjunta à imprensa, dia 17.10.2005, em Roma, Itália. Lula, que foi recebido no Quirinal pelo presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi, demonstrou “entusiasmo” com a decisão do governo italiano de “renovar e reforçar nosso diálogo político e de fazer do Brasil parceiro estratégico na América Latina”. A Itália é o quinto maior investidor em terras brasileiras e, segundo Lula, “queremos, sobretudo, incentivar o intercâmbio entre nossas empresas pequenas e médias”.

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A seguir, na integra, eis o discurso do presidente Lula:

“Quero agradecer as palavras do presidente Ciampi e a calorosa acolhida do povo italiano. Brasil e Itália estão ligados por laços históricos e culturais. Mais do que isso, somos unidos por vínculos familiares e de sangue.

Parte importante de nossa história foi escrita com a ajuda de imigrantes italianos que vieram em busca de um futuro melhor e terminaram por “fazer a América”. Realizaram sonhos e ajudaram a construir o Brasil.

No novo continente, tiveram destaque em vários setores da sociedade brasileira. Com o suor do seu trabalho e com seu talento, participaram diretamente da industrialização do país, despontaram na vida acadêmica, nas letras e nas artes. Contribuíram, também, para o desenvolvimento do pensamento político brasileiro e para a formação do movimento sindical, onde iniciei a minha vida pública.

Hoje, a comunidade ítalo-brasileira tem cerca de 25 milhões de pessoas. A grande São Paulo é a maior cidade italiana fora deste país. Temos uma pequena Itália no coração do Brasil. Os imigrantes e seus descendentes têm muito orgulho de suas origens, sem deixar de ser cem por cento brasileiros. Esse é um dos grandes trunfos do Brasil. Somos uma nação pluriétnica, aberta a todas as culturas, forjada na tolerância e na diversidade.

Meu caro presidente Ciampi,

Vejo com entusiasmo a decisão do governo italiano de renovar e reforçar nosso diálogo político e de fazer do Brasil parceiro estratégico na América do Sul. Essa decisão corresponde ao empenho brasileiro de valorizar cada vez mais nossos vínculos tradicionais com a Itália.

Nossos ministros têm trabalhado intensamente para dar novo conteúdo à agenda bilateral. O Protocolo de Intenções que estamos assinando renovará nossa cooperação bilateral em campos estratégicos. Incluímos entre nossos objetivos as áreas de energia, ciência e tecnologia, indústrias criativas e turismo. O volume do comércio entre o Brasil e a Itália atingiu o significativo valor de 5 bilhões de dólares em 2004.

Ainda assim, estamos muito aquém de nossas potencialidades. Estou certo de que a missão empresarial de alto nível que a Confindustria enviará ao Brasil em 2006 identificará novas e promissoras oportunidades de negócios. Temos de incentivar os investimentos recíprocos. A Itália é o quinto maior investidor estrangeiro no Brasil. As inversões italianas tiveram um crescimento de 300% na última década.

Hoje, o Brasil inicia uma nova etapa de investimentos em infra-estrutura. Criamos um novo modelo de Parcerias Público-Privadas para a licitação e execução de grandes projetos. Estamos engajados na ampliação e modernização da base produtiva brasileira e esperamos contar com a presença de empresários italianos. Queremos, sobretudo, incentivar o intercâmbio entre nossas empresas pequenas e médias.

Hoje, o Brasil e seus vizinhos estão empenhados num grande esforço de integração da América do Sul. Abrem-se, com isso, perspectivas para um mercado ampliado e grandes oportunidades de negócio.

Caro Presidente,

Brasileiros e italianos vêem o mundo através das mesmas lentes da herança latina e humanista. Nossos laços históricos devem facilitar o diálogo e cooperação no cenário internacional. Partilhamos a convicção de que não haverá paz e segurança duradouras enquanto não tivermos um mundo mais equilibrado econômica e socialmente.

Por essa razão a Itália está se juntando ao Brasil e a outros países na Ação Internacional contra a Fome e a Pobreza. A participação italiana enriquecerá nossa busca  de mecanismos inovadores de financiamento. Já estamos trabalhando em projeto piloto de taxação voluntária de bilhetes aéreos internacionais. Queremos, também, facilitar as remessas dos trabalhadores imigrantes para seus países de origem.

Podemos atuar em conjunto na cooperação triangular com países da África. Penso em projetos na área social, sobretudo para a formação de recursos humanos. Nesse mesmo espírito de promoção da cooperação e do diálogo de civilizações, saudamos a decisão do Conselho Europeu, com apoio da Itália, de iniciar as negociações para o acesso da Turquia à União Européia.

Este é um sinal altamente positivo para a promoção da paz e do entendimento entre os povos. No campo econômico, temos dois grandes desafios. O primeiro é a pronta conclusão do Acordo Mercosul-União Européia.

O Brasil está empenhado em levar as negociações a bom termo. Será preciso demonstrar sabedoria política para encontrar um ponto de equilíbrio que satisfaça a todos. Neste momento as negociações da OMC merecem nossa atenção redobrada.

É preciso consolidar os avanços feitos e superar as dificuldades que ainda persistem, de modo a atender as preocupações de todos os participantes, em especial dos países em desenvolvimento. Para todos, mas sobretudo para as nações mais pobres, não há alternativa ao sistema multilateral.

Senhor Presidente,

Sei que a Itália, assim como o Brasil, está genuinamente engajada no processo de reforma das Nações Unidas. Nossas convergências são maiores do que nossas eventuais diferenças. A Paz e a Segurança, tanto quanto o comércio, dependem fundamentalmente do reforço do Sistema Multilateral, não podemos desperdiçar a oportunidade histórica que temos diante de nós.

Meu caro Presidente Ciampi,

Neste ano celebramos os 60 anos do fim da Segunda Grande Guerra. Esse é o momento para  recordar e honrar os soldados brasileiros e os patriotas italianos que lutaram durante o conflito contra o fascismo. Temos o dever de honrar aqueles que sacrificaram suas vidas pela liberdade de nossos povos e pelos valores da democracia e da paz.

Coragem e determinação semelhantes motivaram os migrantes italianos que arriscaram sua sorte no Brasil e apostaram num país em que quase tudo ainda estava por fazer. É com esse espírito de desprendimento e de solidariedade que construiremos uma nova agenda de trabalho entre nossos países, à altura de nossa história. Muito obrigado.”