Na Itália e no Brasil repercutiu com força a notícia da prisão, ontem, no final da tarde, do terrorista Cesare Battisti que, desde o início do século, vivia no Brasil, ultimamente protegido pelo derradeiro ato do ex-presidente Lula, que lhe concedeu o estatus de refugiado político.
As reações de regozijo com a prisão de Battisti mostram outra vez uma Itália unida – à esquerda e à direita – em busca de justiça e, segundo reportam jornais italianos, o próprio presidente Sergio Mattarella aplaudiu imediatamente a captura do fugitivo, realizada por agentes da Interpol na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra. Ele pediu que agora Battisti seja “prontamente entregue à justiça italiana, para que pague a pena pelos graves crimes que cometeu”.
As primeiras notícias da prisão foram divulgadas pouco antes da meia noite de sábado para domingo, confirmadas logo a seguir por Filipe Martins, conselheiro especial do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Battisti teria sido preso quando andava pelas ruas da cidade por policiais bolivianos, brasileiros e italianos. Segundo os relatos, na hora da prisão tinha barba e bigodes, menos de dois dólares no bolso e um forte odor de álcool. Não opôs resistência, falou português e apresentou documento brasileiro na hora da identificação.
Quase imediatamente, o governo italiano enviou um avião com agentes seus para a Bolívia, de onde esperava voltar para a Itália com o fugitivo. O governo Brasileiro, entretanto, informou que primeiro ele deveria ser trazido ao Brasil, notícia logo após contestada pelo governo italiano que anunciou sua partida Santa Cruz direto para Roma. O premier italiano Giuseppe Conte postou informação dizendo que Battisti deverá chegar à Itália “nas próximas horas” e que agradecera pessoalmente ao governo brasileiro e se dizia satisfeito pelo resultado “que o nosso país está esperando por muitos anos”.
A prisão de Battisti agitou o mundo político brasileiro e italiano. “Battisti está preso! A democracia é mais forte que o terrorismo!!”, tuitou o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, logo depois de ter retuitado post de Eduardo Bolsonaro e registrado, em italiano: “Arrestato Cesare Battisti in Bolivia. Preso a Santa Cruz”.
“Il Brasile non è più terra di banditi. Matteo Salvini, il ‘piccolo regalo’ è in arrivo (o brasil não é mais terra de bandidos, Mateo Salvini, o ‘pequeno presente’ está chegando), tuitou Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro. Do outro lado do oceano, o vice-premier italiano Salvini (Lega) respondeu imediatamente: “Capturado Cesare Battisti! O primeiro pensamento vai aos familiares das vítimas de um assassino que, mimado pelas esquerdas, durante anos desfrutou de uma vida covardemente tirada dos outros. A boa vida acabou”.
Além do presidente Mattarella, pronunciou-se o premier italiano, Giuseppe Conte, para dizer que finalmente haverá justiça às famílias e que os cárceres italianos esperam por Battisti para que ele possa cumprir a pena de prisão perpétua a que os tribunais italianos o condenaram com sentenças transitadas em julgado, não pelas suas ideias políticas, mas pelos quatro delitos cometidos (dois assassinatos e cumplicidade com outros dois) e por diversos crimes ligados à luta armada e ao terrorismo”. “Finalmente, justiça”, escreveu também o ex-premier italiano Paolo Gentiloni.
Da parte do atual governo italiano pronunciaram-se imediatamente também o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, um dos primeiros a vir a público para saudar a “justiça finalmente feita” e para dizer que “as tensões das últimas horas e o necessário silêncio podem dar espaço à satisfação pela obtenção de um resultado esperado durante 25 anos”. Battisti, que pertencia ao grupo “Proletários Armados pelo Comunismo – PAC”, fugiu da prisão de Frosinoni (Lácio) em 1981, foi encontrado na França, de onde veio ao Brasil clandestinamente, aqui foi preso em 2007; depois de sete anos de prisão, obteve o direito de asilo do presidente Lula, em 31 de dezembro de 2010.
Enquanto o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, pedia para que não haja nenhuma diminuição na pena, também, o ex-premier Matteo Renzi tuitou para dizer que “a prisão de Cesare Battisti na Bolívia é uma boa notícia. Todos os italianos, sem qualquer distinção de cor política, desejam que um assassino assim seja trazido de volta o mais rápido possível ao nosso País para pagar sua pena em uma prisão italiana. Hoje é um bonito dia”. Também para a ex-presidente da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, a prisão de Battisti representa “uma ótima notícia para as famílias das vítimas e para a justiça italiana”.
Os jornais italianos trazem, também, relatos sobre as reações dos parentes das vítimas de Battisti, como Alberto Torregiani, Maurizio Campagna e Adriano Sabbadin, todos eles esperançosos de que agora o condenado cumpra suas penas. Entretanto, Raffaele Piccirillo, outro graduado ex-funcionário do governo italiano, lembra que “no Brasil não existe a pena perpétua, vetada pela Constituição”. Assim, segundo ele, em 2017, a Itália comprometeu-se a garantir que a prisão perpétua “não será aplicada a Battisti. Entretanto, como Battisti fugiu do Brasil e foi preso noutro país, este acordo não teria valor algum, segundo outras fontes.
O subsecretário para os italianos no mundo, Ricardo Merlo (presidente do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’), também veio a público para comemorar: “Conseguimos. O novo contexto político ajudou a desamarrar o bloqueio à sua prisão. O resultado foi obtido graças ao importante papel da Farnesina e ao delicado e silencioso trabalho do embaixador da Itália no Brasil, Antônio Bernardini. Nosso pensamento vai aos familiares das vítimas. Agora, ao trabalho para fazer com que Battisti possa ser rapidamente extraditado para a Itália e colocado atrás das grades. Em nome da justiça”.
Em seu perfil no Facebook, Merlo replica um post de Daniele Bertozzi: “Uma análise dos últimos oito meses: novo governo, verde-amarelo, Ricardo Merlo na Farnesina para os italianos no mundo. Um assassino livre por anos e anos, sob as asas da esquerda, agora está na ‘gaiola’. Que dizer, viva Itália, aquela verdadeira”.
O tema da prisão de Battisti tornou-se assunto quase que obrigatório em quase todos os perfis de pessoas envolvidas com a política italiana. Dentre os atuais dois deputado ítalo-brasileiros (Fausto Longo – PD e Luis Roberto Lorenzato – Lega), apelas Lorenzato, que no final do ano passado trouxe uma carta de Salvini a Bolsonaro, se manifestou e, inclusive, republicou o vídeo que documentou a entrega. Ele fez eco à posição de Salvini e, no começo da tarde, informou que “primeiro voltará ao Brasil e Bolsonaro extraditará Battisti”.
Ox-deputado Fabio Porta, por exemplo, escreveu que a prisão de Battisti é uma boa notícia “para qualquer um que acredita na justiça e luta contra a impunidade”. “Dediquei – escreveu ele – anos de empenho político e parlamentar a essa batalha” e observa que há dez anos escreveu para explicar o motivo pelo qual a extradição devia ser feita e que chegou a organizar com o então vice-presidente da Câmara, Mauricio Lupi, em 2009, uma visita institucional ao Brasil para “explicar as razões do nosso pedido – uma reivindicação que mantivemos em todos esses anos com o apoio dos familiares e das instituições”. Porta agradece a “todos aqueles que de diversas formas colaboraram para este resultado”
Também a ex-deputada ítalo-brasileira Renata Bueno que, há uma semana dizia “sai governo, entra governo, e nem sinal de fumaça do cara!”, hoje escreveu em seu perfil no Facebook: “Finalmente nossa grande batalha está chegando ao fim… Mas festejaremos somente quando o terrorista estiver em terras italianas!”
Para Cesare Battisti, que continua a negar os crimes que lhe foram imputados, e seus simpatizantes, o terrorista “está sendo perseguido há quase 40 anos apenas e tão somente por se opor à direita”. Ele é considerado um “criminoso” exclusivamente “por ter feito oposição política a um regime altamente opressor e de extrema-direita”.