Reprodução de 'Patria indipendente' de 22/10/2021

A proposta de concessão do título de cidadão honorário de Aguillara Veneta, na Itália, ao presidente Jair Messias Bolsonaro, além de gerar protestos na terra dos ancestrais do presidente brasileiro, está mexendo com as paixões políticas tupiniquins. Mais que isso, está mexendo inclusive com pessoas que ocupam algum tipo de representação no seio da comunidade ítalo-brasileira

O advogado Luis Molossi informou ter enviado aos consultores vênetos (ele é vice-presidente da Consulta dos Vênetos no Mundo) mensagem externando sua opinião pessoal sobre a homenagem que seria prestada a Bolsonaro por ocasião de sua ida à Itália, no final de Outubro, para participar do G20, em Roma. As origens italianas de Bolsonaro foram publicadas pela primeira vez no Brasil pela revista Insieme, um trabalho de Daniel Taddone em colaboração com Danilo Villani, Anna Buzolin e Isis Laguardia.

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“Como vice-presidente não posso emitir opiniões, mas como simples cidadão ítalo-brasileiro, de origens vênetas, não aprovo nada que diga respeito a qualquer reconhecimento a esta pessoa”. – escreveu Molossi que é também presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ da jurisdição consular de Curitiba-PR. E completou: “[Bolsonaro] não representa nenhum dos valores que compartilho sobre aquilo que diz respeito a nós, Vênetos no Mundo”. (Come vicepresidente non posso emettere opinioni, ma come singolo cittadino italo-brasiliano, di origini venete, non approvo niente che riguardi a qualsiasi riconoscimento a questa persona. Non rappresenta niente dei valori che io condivido per quanto riguarda a noi, Veneti nel Mondo).

Aguillara Vêneta é uma cidadezinha do vêneto (Província de Pádova) com cerca de quatro mil habitantes e é lá que nasceu o avô do presidente brasileiro – Vittorio Bolzonaro (no Brasil erroneamente grafado como Bolsonaro), nascido em 1878. A cidade é atualmente governada Por Alessandra Buoso, de direita, e a oposição à concessão da homenagem parte da Anpi – Associazione Nazionale Partigiani d’Italia, uma associação fundada por participantes da Resistência italiana contra o regime fascista italiano e a subsequente ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Questionado por Insieme, Molossi disse que “a iniciativa da prefeita foi no sentido de registar que um bisneto de um imigrante, nascido em Anguillara Veneta-PD tornou-se Presidente da República e que nada sabia – até a polêmica surgir e as manifestações contrárias, especialmente no Brasil – a respeito das acusações recentes que pesam sobre a sua atuação, não só quanto à pandemia e negacionismo”.

Molossi acrescenta: “Aí eu pergunto: quais são os vínculos que o Sr. Bolsonaro tem e quais foram as iniciativas ligadas à imigração que justifiquem a concessão da cidadania honorária? Apenas um fato histórico, do nascimento e imigração do ‘bisnonno’; nada mais. Respeito aqueles que defendem e apoiam o presidente, mas espero que a Câmara de Vereadores de Anguillara Veneta-Padova não conceda nenhuma honraria ao Sr. Bolsonaro”.

Em sua oposição à homenagem, a Anpi fala das acusações que pesam sobre Bolsonaro, a partir da CPI da Covid, que o responsabiliza pela morte de mais de 600 mil pessoas. “Ele administrou de forma irresponsável a pandemia, entre outras coisas, negando ajuda às populações tribais da Amazônia, talvez porque assim consegue mais rapidamente desmatar a região, como faz há muito tempo” argumentam os ‘partisãos’ da Anpi. “”Bolsonaro destrói um dos mais importantes pulmões da terra”, dizem mais, conforme relata o jornal “Patria Indipendente”.

O ‘Consiglio Comunale'(Câmara Municipal) de Aguillara Veneta deveria ter se reunido no final da tarde de hoje para deliberar.