u SÃO PAULO – SP – Na qualidade de descendente de “italianos”, mais verdadeiramente Vêneto de origem (adiante se explica o porque desta “dicotomia”), pesquisador e estudioso da história Italiana e brasileira do final do século XIX, principalmente da grande diáspora cujos meus antepassados foram protagonistas; busco respostas para entender as atitudes dos políticos italianos de hojE.
Quando me deparo com propostas de grupos políticos italianos elaborando leis e projetos tentando tolher os direitos dos cidadãos à cidadania e ao voto, eu me pergunto:-
Sabem eles que a Itália só se estabeleceu politicamente com a unificação forçada havida após os anos de 1.866?. Que antes o território italiano era composto de povos de diversas etnias e organizações políticas?”
Sabem eles que até o final do século XIX o Reino da Itália não conseguia se organizar política e socialmente e juntamente com a drástica majoração dos impostos foram as causas da miséria e das doenças que assolavam milhões de italianos que foram obrigados a deixar suas terras em busca de sobrevivência em outras partes do mundo?”.
Sabem eles que na época da grande emigração (final do Século XIX), em pleno parlamento um político e orador italiano proferiu as seguintes palavras:_ I contadini, privi di capitali e di cognizioni, sarano sempre e dovunque proletari. E la miséria che tentano di sfugire abbandonando la pátria, li seguirà sempre come l’ombra del loro corpo”.
Sabem eles que o governo quando perguntado a respeito do grande êxodo de cidadãos, simplesmente respondia: Non possiamo fare nulla”.
As propostas destes políticos chegam às raias do absurdo e da ignorância, quando propõem a obtenção da cidadania e o direito ao voto somente aos cidadãos que falem a língua italiana.
Ainda me pergunto:
Sabem eles que quase a totalidade dos emigrantes que deixaram a Itália não falavam a língua italiana, e sim seus respectivos dialetos”?.
Sabem eles que no caso de meus antepassados vindos do Vêneto não se consideravam italianos, pois falam a língua veneta, cultura e tradição de séculos antes da unificação da Itália”?.
Sabem eles que grande parte destes emigrantes morreram ainda em portos italianos no aguardo dos navios que os livrariam da morte”?.
Sabem eles que muitos também morreram durante a viagem e os que conseguiam chegar ao destino morriam pelas seqüelas contraídas ainda em território italiano”?.
Verdadeiramente não vejo o mínimo respaldo na possibilidade de se exigir de um imigrante ou de descendentes o conhecimento do idioma italiano.
O que esperamos dos políticos italianos com relação aos emigrantes e descendentes são Leis que resgatem a identidade e a cultura deste contingente de cidadãos que em nosso ponto de vista foram “banidos” silenciosa e sorrateiramente do país.
Os políticos italianos têm que entender que essa herança deixada pelo Reino da Itália deve ser assumida como a grande “Dívida Externa” do governo atual.
Minha esperança é que este meu desabafo tenha repercussão junto a classe política italiana e aguardo ansioso a réplica às minhas afirmações, pelo menos assim sentiria a disposição de se abrir um amplo debate sobre o assunto.

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* AUGUSTO BORTOLOZZO é

 Economista e Pesquisador de Historia Politica Italiana e Brasileira e Migrações; – Presidente CEPIAVE Centro de Estudos e Pesquisas de Imigração Italiana e Assuntos Venetos – São Paulo – Brasil; – Presidente do Conselho ATM. Associazione Trevisani nel Mondo – São Paulo – Brasil; -Conselheiro da Federazione delle Associazioni Venete dello Stato di San Paolo – Brasil.