Referendo: Agravamento da pandemia, greve nos correios e consulados fechados complicam voto no exterior. Porta pede urgente posição do governo e é contestado pelo Maie

Há menos de um mês da data de encerramento do referendo constitucional sobre a redução das cadeiras do Parlamento italiano, a votação no exterior, que deve ser realizada por correspondência, constitui ainda um enigma. Além do problema decorrente da pandemia do coronavírus em todo o mundo em agravamento, determinando não apenas restrições ao trabalho consular, mas também o fechamento de alguns, no Brasil há a greve dos funcionários do serviço de correios, deflagrada no último dia 17 sem data prevista para a volta ao trabalho.

Para dizer pouco, este é “um contexto preocupante”, afirma o ex-deputado Fabio Porta, coordenador geral do PD na América do Sul e integrante de um “comitê pelo ‘Não’, contrário à redução aprovada pelo Parlamento com o voto favorável do próprio partido. “Consulados fechados, greve dos correios, contágios em aumento: o voto de seis milhões de italianos no exterior está seriamente comprometido pela pandemia” é o título da nota à imprensa que ele distribuiu na manhã de hoje, e na qual pede urgente tomada de posição do governo italiano.

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“Dezenas de empregados na rede consular italiana em todo o mundo revelaram-se positivos ao Covid, pelo menos 20 consulados fechados depois de descobertos contágios”, observa a nota. Dentre os consulados da Itália no Brasil, todos operando com os serviços reduzidos, sem atendimento ao público, o de Recife está fachado depois que foi descoberta contaminação entre seus funcionários. A nota refere ainda as “greves dos correios convocadas na sequência da pandemia: é este o quadro inquietante que faz pano de fundo à organização do voto para os italianos no exterior, diante do silêncio incompreensível do Ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio”.

O comunicado afirma que “a participação de quase seis milhões de cidadãos italianos, um décimo do total dos eleitores, está seriamente comprometida pelo agravamento da pandemia em países onde é grande a presença italiana, do Brasil à França, dos Estados Unidos à Espanha. São pelo menos 25 os empregados junto às sedes consulares italianas no exterior que revelaram-se positivos ao Covid, enquanto 20 consulados foram fechados nesses dias; para agravar o quadro da situação, estão as greves convocadas em alguns desses países na sequência da pandemia sobre os serviços postais. No Brasil, onde o número de eleitores supera os 500 mil (maior que uma região como a Basilicata!), a greve por tempo indeterminado dos correios arrisca tornar de fato impossível a participação na eleição de nossos concidadãos”.

“É um contexto para dizer o mínimo preocupante, a respeito do qual o governo italiano (que há pouco prorrogou o estado de emergência até o final de outubro) não se pronunciou ainda, como seria oportuno e desejável”, argumenta Porta, concluindo: “Não quero acreditar que a participação na eleição de um décimo da população italiana conte menos que a dos residentes na Itália e, por isso, peço ao Ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional que tome uma posição clara e corajosa sobre uma situação que nos próximos dias só pode piorar, como já faz algumas semanas denunciam todos os sindicatos de trabalhadores do mesmo ministério”.

Pelo calendário eleitoral, o voto na Itália será dias 20 e 21 de setembro próximo. No Exterior, os eleitores deverão receber os envelopes eleitorais no final de agosto e primeiros dias de setembro, encerrando-se às 16 horas locais do dia 15.

A posição de Porta, entretanto, foi contestada pelo Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ presidido pelo senador Ricardo Merlo, também subsecretário da Farnesina para os italianos no exterior. Em nota, o partido difunde resposta dada por Francesco Patamia, secretário do Maie para a Europa: “Me mas rir a tomada de posição do ex-deputado Fabio Porta, hoje coordenador do PD para a América do Sul” – diz Patamia: “Se de um lado é necessário dizer que os consulados fechados já foram todos reabertos, é também oportuno enfatizar que a decisão de realizar o referendo em setembro, e ao menos até agora não adiá-lo de novo, foi tomada pela maioria de governo. Portanto, exatamente por aquela maioria da qual também Porta faz parte”.

Assim, Patamia aconselha Porta a pedir esclarecimentos ao próprio partido, o PD. “Ele não sabe, por exemplo, que o PD é representado também na Farnesina por uma vice-ministra dos Exteriores? Não sabe ele que mais da metade dos ministros desse governo faz parte de seu partido ou são ex-PD?”. E conclui dizendo que Porta “se dirige a um executivo que é também o seu e o interpela sobre uma escolha tomada por aquela que é também a sua maioria. Talvez, em vez de apontar o dedo contra qualquer outro, o coordenador do PD sulamericano agiria melhor se prestasse mais atenção à sua própria casa”.

Deve-se lembrar que tanto Fabio Porta quanto o Maie fazem campanha pelo voto “Não” no referendo.