Referendum: Única parlamentar da Usei, Renata Bueno, vota contra a orientação do presidente de seu partido. E o PD ironiza.

Dias contraditórios para a deputada italiana Renata Bueno, única eleita na Circunscrição Eleitoral do Exterior pela América do Sul através do partido Usei – Unione Sudamericana Emigrati Italiani, que, em 30 de novembro do ano passado, constituiu-se em grupo no Parlamento do qual é líder: em suas andanças com altas figura do governo de Matteo Renzi ela manifesta apoio ao “Sim” das Reformas Constitucionais sob processo de referendum, mas o presidente de seu partido solitário, o ítalo-argentino Sangregorio, acaba de declarar-se visceralmente pelo “Não”.

“Acho que as opiniões das minorias parlamentares devam fazer parte da cultura democrática”, anuncia um Sangregorio argumentante ao introduzir as razões de sua posição contrária ao Referendum constitucional em andamento que, lá na única ponta parlamentar disponível, encontra uma Renata Bueno favorável ao ‘Sim’. Uma situação que incomoda os coordenadores brasileiros do partido de Renzi: Andrea Lanzi, secretário do PD no Brasil, num extenso post em sua página do Facebook, dias atrás (não mais encontrada desde o início da semana), estranhava o conflito e aconselhava: “Seria o caso de Eugenio [Sangregorio] e Renata entrarem em acordo entre eles”.

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Lanzi observa que o fato de Sangregorio se manifestar pelo ‘Não’ não significa problema algum, mas “o problema aparece quando a deputada Renata Bueno, que se diz favorável ao ‘Sim’ (e que tinha iludido o subsecretário Luca Lotti sobre sua capacidade para a mobilização das massas na sua visita ao Rio de Janeiro, embora na verdade naquela oportunidade conseguiu reunir três pessoas além dela própria) é presidente do grupo misto na Câmara dos Deputados”.

O episódio veio à tona há quase uma semana. Hoje, o presidente do partido de Renata Bueno volta à tona e faz outra declaração que pode aumentar ainda  mais a contradição entre ele e sua comandada, ultimamente sem muita atividade na tarefa a que se entregou todo o staff do governo Renzi: voltando às velhas denúncias de fraudes eleitorais com o atual sistema de voto para os italianos no exterior, Sangregorio simplesmente antecipa seu temor de ocorrência de “fortes irregularidades no [sistema] de voto” já em curso entre os italianos no exterior (o referendum na Itália ocorre no próximo dia 4), e simplesmente ironiza o ex-senador Pallaro (que também se declarou pelo ‘Não’) quando ele, numa entrevista, diz que não existiriam possibilidades de fraudes nessas eleições.

“Fraudes no [sistema de voto] no exterior sempre existiram (…) se não for mudado o mecanismo através do qual se vota no exterior, fraudes e irregularidades acontecerão sempre”, diz Sangregório que, ao mesmo tempo, se diz consciente da posição de Renata Bueno: “Não forço a ninguém seguir o meu pensamento”, “ela é livre para escolher”. Assim livre, a deputada ítalo-brasileira poderia vir à descoberto e, como o presidente de seu partido, dizer claramente quais seriam as razões que motivam o seu anunciado discurso pelo ‘Sim’ à reforma, mesmo e apesar de, como diz Sangregorio, ela eliminar os seis senadores eleitos no exterior o que, a mim, parece “alguma coisa de inaceitável”, pois “a reforma reduz a nossa representação em Roma”.