Renata Bueno assegura que quer ser candidata novamente, mas que isso depende de seu grupo de apoio

“Minha vontade é de continuar meu mandado – diz a deputada Renata Bueno –  ser candidata novamente, apresentar novas propostas e continuar a batalhar pelos nossos objetivos”. A parlamentar, que hoje está vinculada à Usei – Unione Sudamericana Emigrati Italiani, entretanto, diz que, não podendo ser candidata dela própria, tem “um grupo de apoio que vai dizer da minha continuidade ou não”.

Na entrevista solicitada pela redação da revista Insieme bem antes da indicação, neste domingo, do ex-ministro das Relações Exteriores, Paolo Gentiloni (ano passado ele esteve rapidamente no Brasil), para a sucessão do ex-premier Matteo Renzi, Renata Bueno dizia que apostava na formação de um governo técnico. Segundo sugeriu o próprio chefe do 64º governo da República Italiana, novas eleições serão realizadas provavelmente em meados do próximo ano.

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A deputada, ao participar das consultas realizadas pelo presidente Sergio Mattarella para a formação de um novo governo,  no final da semana que passou, defendeu a “formação de um governo amplo no país” capaz de superar “a instabilidade política que se instalou após a renúncia do primeiro-ministro Matteo Renzi”.

Como seu viu, o “amplo entendimento” não aconteceu e Gentiloni terá que contar praticamente com a mesma base de sustentação que possuía seu antecessor. Confira a entrevista de Renata Bueno, que fez campanha pelo ‘Sim’, mesmo contrariando a liderança de seu partido, porque entende que a Itália precisa se modernizar:

Venceu o ‘Não’. Melhor, ou pior, para a Itália?

Venceu o ‘Não’. A vitória é sempre a democracia, não temos dúvida em relação a isso, mas o nosso ponto de vista é que a Itália perde. Perde sobretudo porque deixa de modernizar seu sistema político. Vivemos um momento de crise na Itália que precisa ser tratado com a desburocratização e modernização, o que era proposto nesta reforma constitucional aprovada pelo Parlamento Italiano. Com o ‘Não’ deixamos de diminuir o número de parlamentares, de diminuir os custos da política, de acelerar o processo legislativo, de abolir sistemas que não tem necessidade de existir. Mas ainda assim, vence a democracia.

Que significa para os italianos no exterior este resultado?

Os italianos no exterior não sofrem impacto direto com esta reprovação do referendo popular. No entanto, com o resultado atual, a Itália não se moderniza, a Itália não ganha e, consequentemente, todos nós perdemos. Por outro lado se a reforma constitucional fosse aprovada, traria uma redução do Senado e consequentemente os italianos no exterior perderiam a representação de seus senadores.

Como interpreta a participação dos eleitores no exterior, especialmente os do Brasil?

A participação dos italianos no exterior foi esplêndida, contrária àquela dos italianos que vivem na Itália. Isto demonstra o quanto a visão é diferente do mundo que olha para a Itália, pois olhando para a Itália de fora dela, vemos muito mais os pontos positivos do que os italianos que estão dentro dela conseguem ver. Sempre defendi este princípio perante meus colegas e esta eleição demonstrou isso, o quanto os italianos no exterior apreciam a Itália e querem que ela melhore sempre mais. A participação em números foi muito boa. Tivemos sempre esta expectativa de que 30% dos italianos no exterior participassem das votações mas, mais do que isso foi o grande número de aprovação. O Brasil teve o maior número de ‘Sim’ de todo o referendo, o que significa que o Brasil recebeu a mensagem proposta pela reforma constitucional de Matteo Renzi e seu governo. O Brasil hoje passa por uma crise política e entende bem a necessidade de uma reforma, de uma mudança. Talvez este desejo de mudança vivido pelos brasileiros com nacionalidade italiana tenha motivado que votassem favorável à reforma.

Os defensores do ‘Sim’ falavam que, prevalecendo o ‘Não’, viríamos a ter problemas no exterior, tipo fim do direito de voto, continuidade das filas e coisas do gênero. Acredita em castigo?

Não acredito em castigo e fizemos uma campanha limpa pelo sim mostrando quais eram os pontos favoráveis para que a Itália ganhasse cada vez mais. Não falamos de castigo e não falamos de pontos que poderiam ser contrários aos italianos no exterior, tal como as questões das filas ou de sermos mais ou menos priorizados dependendo do resultado. Pelo contrário, nós queremos que todo bom tratamento que o governo Renzi deu aos italianos no exterior continue sendo dado. E de qualquer forma, nós parlamentares, continuaremos a lutar nossas batalhas e conquistar nossos objetivos.

A representação parlamentar na área da América do Sul/Brasil, toda ela vinculada ao ‘Sim’, passa agora à oposição?

Com relação à representação parlamentar da América do Sul não temos claro ainda qual governo técnico será montado e qual será a proposta de governo a ser tratada, portanto, enquanto isso não se define não sabemos quem será governo e quem será oposição. Além disso, também é importante que fique claro que aquilo que foi tratado na reforma não significa um programa de governo e nem mesmo uma próxima eleição, significa uma desaprovação das propostas colocadas por Matteo Renzi e seu governo. E, independente de governo ou oposição, cabe a nós tratar sempre com clareza o que é o interesse dos nossos italianos na América do Sul.

Aposta na antecipação de eleições? Seria candidato e a quê?

Está prevista a formação de um governo técnico, mas existe uma pressão muito grande para que se façam as eleições o quanto antes. No próximo ano, acontecerão dois importantes eventos na Itália, em março a comemoração dos 50 anos do Tratado de Roma, tratado que constituiu a União Europeia e, em abril o encontro do G7. O que se esta prevendo é que diante da necessidade de se convocarem novas eleições, que elas aconteçam o quanto antes, a fim de que se tenha um governo formado já neste período. Em relação aos meus objetivos, minha vontade é de continuar meu mandado. Ser candidata novamente, apresentar novas propostas e continuar a batalhar pelos nossos objetivos. Não posso ser candidata de mim mesma, portanto tenho um grupo de apoio que vai dizer da minha continuidade ou não.

Outras considerações que queira fazer.

A Itália sempre tem inserida no seu sistema uma certa instabilidade de governo. Por ser um parlamentarismo forte e tendo o Parlamento um bom grupo partidário, este acaba mantendo a gestão do país e a figura de governo acaba sendo um pouco deixada de lado, então muda muitas vezes esta figura de governo, mas o país segue. Olhando um pouco o panorama mundial, temos aí várias mudanças acontecendo, a saída da Inglaterra da União Europeia e a vitória de Trump, são apenas dois exemplos que nos levam a ter um certo cuidado quando pensamos na comemoração dos 50 anos da União Europeia. O que deveria acontecer é uma revitalização de seus princípios sem permitir que os países se enfraqueçam e deixem de fazer parte desta grande união que hoje é um dos pilares de sustentação da humanidade, até mesmo em relação a grande imigração no mundo. Vários fenômenos que estão acontecendo, giram em torno da União Europeia e ela precisa não só se manter em pé mas ser revitalizada e para isso os países membros precisam ser fortes. A Itália é um país que tem a sua história muito forte, uma história muito consolidada mas que hoje precisa se apoiar no presente para projetar um futuro, que não seja apoiado apenas na sua economia e em toda sua sustentabilidade, mas também olhando para todos os italianos no exterior que são seus grandes missionários no mundo. Por isso nós temos aqui uma missão de representar a voz dos italianos no exterior para tudo o que acontece com o país Itália. Não só no que diz respeito aos nossos interesses diretos, mas ao que diz respeito ao país e a pátria Itália.