Rommano diz que se convenceu pelo “Sim”, mas acha que maioria votará no Referendum por ouvir dizer ou se absterá

Mesmo tendo ficado decepcionado com a visita da ministra Maria Elena Boschi a Porto Alegre, no mês passado, o diretor do Círculo Trentino local, Rommano Conzatti Giordani, disse que convenceu-se pelo ‘Sim’ no Referendum Constitucional em curso após uma palestra promovida nas dependência da entidade pelo PD – Partido Democrático. “Valério Bartolucci, um italiano residente aqui em Porto Alegre, fez uma ampla explanação da situação italiana e deu o caminho de retrocesso caso o ‘Não’ vença e indicou a modernidade e os benefícios que trará o ‘Sim’”, disse Rommano que, “então, agora que sei, voto ‘Sim’”.

Rommano, entretanto, continua em dúvida se os italianos no exterior contam, isto é, têm algum peso na política italiana. Apesar das inúmeras visitas ao Brasil de políticos italianos nos últimos tempos, “Tenho dúvidas se contam. A impressão que eu tive é que vieram à América do Sul num giro pelo ‘Sim’, porque eles têm receio que na Itália vença o ‘Não’. Sobre o grau de informação dos eleitores ítalo-brasileiros, ele é categórico: “Não, não têm o mínimo conhecimento e discernimento para tal” e a maioria votará “no embalo dos outros” ou sequer votará. Confira a entrevista com Rommano que publicamos a seguir.

Esteve na recepção organizada pelo Consulado de POA à ministra Boschi. Que achou?

Estive e me decepcionei. Eu esperava que nos dissesse os motivos pelos quais eles entendem de fazer a reforma constitucional. Quais os benefícios que teriam a Itália e os italianos, inclusos nós aqui no exterior. Mas nada se disse. Perguntei a quem participou da entrevista com a imprensa e me disseram também lá nada foi dito.

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Pelo que se está verificando, os ex-enfileirados agora contam. E que dizer dos milhares que, mesmo pagando os 300 euros de taxa para cada processo de reconhecimento da cidadania, ainda continuam na fila e poderiam também contar?

Tenho dúvidas se contam. A impressão que eu tive é que vieram à América do Sul num giro pelo ‘Sim’, porque eles têm receio que na Itália vença o ‘Não’. E como a maioria ficou só na euforia, no glamour e na beleza da juventude da Ministra, decidiram pelo ‘Sim’. Já a questão dos enfileirados, mesmo pagando os 300,00 euros por requerente maior de idade, que não é pouco, no meu entender o problema está em que:
1º) Este dinheiro não fica no próprio Consulado;
2º) Os Consulados mesmo que ficassem não têm poder para admissão de funcionários suficientes para atender a demanda para a eliminação das filas que, no Consulado de Porto Alegre, há tempos que já se fez o cálculo e só para a transcrição da cidadania seriam necessários mais 10 funcionários;
3º) Em não ficando aqui, ninguém sabe aonde esse dinheiro vai parar e logicamente o governo italiano, às voltas com dívidas homéricas, os usa para outros fins.

Considera que os italianos no exterior, particularmente os brasileiros e gaúchos com direito a voto, têm bom conhecimento do debate político na Itália para votar no Referendum?

Não, não têm o mínimo conhecimento e discernimento para tal. Quem está interessado procura se informar, os demais vão no embalo dos outros, quando vão. A maioria sequer vota.

Pela reforma pretendida, os italianos no exterior perdem as seis cadeiras que têm atualmente no Senado. Que diz disso?

Bom, nesse quesito eu tenho uma opinião que vale tanto para o Brasil, quanto para a Itália. O Senado deveria ser extinto. Até a Idade Média até tinha algo a fazer, hoje em dia não mais. Além do mais, não consigo entender como um país com somente 60 milhões de habitantes pode se dar ao luxo de ter 315 senadores. Já que serão eliminadas as Províncias e ficarão só as 20 regiões, na minha opinião, 20 senadores já seriam suficientes.

Como vê o engajamento de alguns Comites nos “Comitês do Sim”?

No caso dos Comites, no passado muito se falou em renovação e parece que agora conseguiram. Só que o que eu vejo é que mudaram as moscas… o mel continua o mesmo. E eu acho sim, que os Comites deveriam ter convocado os italianos para um debate, antes da chegada da Ministro.

Tem outras considerações a fazer?

Como fiquei contrariado com o nada da vinda da ministra Boschi, eu estava propenso ao não. Mas, numa reunião para a reorganização do PD, às 7:30 (da manhã, heim?!), e que aconteceu aqui no Círculo, um dos participantes – Valério Bartolucci, um italiano residente aqui em Porto Alegre – fez uma ampla explanação da situação italiana e deu o caminho de retrocesso caso o ‘Não’ vença e indicou a modernidade e os benefícios que trará o ‘Sim’, e então agora que sei, voto ‘Sim’. Talvez tenhamos problemas com o reconhecimento da cidadania italiana, muito provavelmente a lei geral da cidadania será modificada e também muito provavelmente será limitada somente até os netos. Nesse caso, a jurisprudência já nos indicou o caminho.

Realmente eu tenho dúvidas se pra eles os italo-estrangeiros contam. Eles nos usam. Se contássemos, eles não estariam com a mudança da lei da cidadania na manga, limitando somente até ao neto. A minha postura parece contraditória. Mas é assim. Os pequenos detalhes dizem muito; o Renzi veio para o Brasil e batia fotografias com as pessoas, olhando pra não sei aonde, numa clara e total falta de respeito. Se o ‘Sim’ vencer, a economia que farão de 500 bilhões de euros por ano, eu espero que com pelo menos uma parte desse dinheiro eles contratem pessoas para acabar com as filas da cidadania. Porque o resto a justiça fará por nós