A candidata Silvana Rizzioli lembra fatos que envolvem sua família em campos de concentração: repúdio a qualquer visão antissionista e de segregação racial, política e religiosa. (Fotograma Debate/Insieme)

Também a candidata ao senado Silvana Rizzioli (LeU) entra no movimento que pede à coligação ‘Civica Popolare’ a retirada da candidatura do ítalo-argentino Rodolfo Barra ao Senado. Barra é inscrito como candidato ao Senado na chapa formada na área da América do Sul ela ex-deputada Renata Bueno e, desde o início, seu nome vem sendo contestado devido a seu alegado envolvimento com atividades antissionistas que o levaram a, no passado, renunciar ao cargo de Ministro da Justiça, na Argentina do ex-presidente de Carlos Menem.

“Ressaltamos – diz Rizzioli em nota enviada a Insieme – o quão importante é o pedido ao partido ‘Civica Popolare’ pela retirada do Sr. Rodolfo Barra, declaradamente antissionista, de sua lista eleitoral. Se assim não for, corremos o risco de ferir nossa dignidade dos emigrantes que sempre contribuíram para o desenvolvimento e a igualdade dos Países que nos quais foram acolhidos”. Órgãos da imprensa italiana, nos últimos dias, também têm se ocupado em criticar a ex-ministra Beatrice Lorenzini, que encabeça a coligação “Civica Popolare”, de centro-esquerda, por permitir a candidatura de Barra.

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Instada por Insieme, a candidata Renata Bueno não quiz se pronunciar sobre o caso. “Eu não estava nem a par disso porque estou em uma agenda frenética de campanha” – disse ela respondendo se queria se manifestar a respeito das críticas que vem recebendo. “Mas posso dizer que somos um movimento político italiano organizado em todo o Brasil, inclusive com candidatos de vários estados. Além do que ter contato com os eleitores Ítalo brasileiros é resultado de anos de um intenso trabalho. Afinal somos o único grupo verdadeiramente ítalo-brasileiro!”, disse Renata. Mais tarde, ela acrescentou que “a visita do ministro [Angelino] Alfano foi um sucesso! Essa sim vale a pena divulgar”, aconselhou a ex-parlamentar e candidata à reeleição.

As eleições italianas pela renovação do Parlamento ocorrem no próximo domingo, mas na Circunscrição Eleitoral do Exterior, onde o voto é por correspondência, elas já entram na fase final: os envelopes contendo as cédulas votadas têm que estar de volta até as 16 horas da próxima quinta-feira. Todo o material será encaminhado em seguida a Roma, onde haverá a apuração. A nota de Silvia Rizzioli tem o seguinte conteúdo, na íntegra:

“Não reconheço em Rodolfo Barra, do partido (sic) Civica Popolare, legitimidade para ser meu representante, ou de qualquer cidadão italiano, ao Senado da República Italiana.

Repudio qualquer visão antissionista e de segregação racial, política e religiosa. Acredito na integridade e a universalidade do ser humano.

Conheço de perto a perversidade do racismo, cujo combate eu faço por razões pessoais, ética e, sobretudo, humanitárias.Em 1943, coligacaocoligo primo de minha mãe, Secondo Sacchetto Ferraris, foi aprisionado e deportado ao campo de concentração em Auschwitz.

O único motivo desta represália que levou ao genocídio de milhões, foi o fato dele ser judeu e não pertencer a casta “ariana”, ou seja, por não pertencer ao modelo antropológico nazista.

Minha família recebeu notícias que Secondo tinha falecido ainda jovem, vítima da Câmara de Gás em Auschwitz, após longos sofrimentos, destruição, trabalho forçado e o próprio confinamento. E me pergunto até quando vamos ter indivíduos racistas que contaminam nossa sociedade, se estabelecem como superiores através de ideologia de raça e definem políticas de supremacia sobre a humanidade?

Minha primeira viagem na juventude foi para Auschwitz justamente para tentar entender o que não tem explicação. Foram ideais tenebrosamente distorcidos, comuns aos de Rodolfo Barra que conduziram ao genocídio de uma população.

Vivemos em um mundo globalizado onde ideias, costumes e competências se amalgamam em um espírito de solidariedade e fraternidade.

‘Civica Popolare’ jamais poderia propor Rodolfo Barra como representante dos italianos emigrantes que buscam realmente na América do Sul a dignidade de nossa essência humana. Este grito sempre foi e sempre será a nossa voz no Parlamento.

Ressaltamos o quão importante é o pedido ao Partido ‘Civica Popolare’ pela retirada do Sr. Rodolfo Barra, declaradamente antissionista, de sua lista eleitoral. Se assim não for, corremos o risco de ferir nossa dignidade dos emigrantes que sempre contribuíram para o desenvolvimento e a igualdade dos Países que nos quais foram acolhidos. Nesse sentido, também aconselho a leitura do livro ‘Casa Grande e Senzala’ de Gilberto Freire, clássico da literatura, a todos que vivem na América do Sul e que cultivam ideias segregacionistas. Talvez coloquem sua cabeça no lugar!”.