A XIII Reunião da coordenação do Sistema Itália no Brasil, realizada no início de dezembro, no Rio de Janeiro, deixou muito a desejar, segundo afirma em entrevista exclusiva a Insieme um dos seus participantes, o presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife, Daniel Taddone.

Conforme Taddone, o problema começa já no formato do encontro, que reserva o tempo de apenas duas horas para 20 pessoas falarem – um assunto que ele próprio foi impedido de abordar durante o encontro. Um dos principais e mais criticados problemas da Itália no Brasil – as filas da cidadania -, também sequer foi abordado, conforme explica Taddone na entrevista em que revela: “Todos os cônsules, inclusive o embaixador, não querem – e deixam isso muito claro – que os Comites se envolvam com o problema cidadania”. “Acham – aduz – que os Comites devam se ater apenas aos que já são reconhecidos como cidadãos italianos”.

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A reunião foi realizada nas dependências do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro. Dela, como sempre, a “imprensa italiana” no Brasil sequer foi comunicada. Participaram, segundo se conseguiu depreender de algumas poucas informações que circularam pelas redes sociais (e de onde foram obtidas algumas fotos do início do vídeo), além dos cônsules, o embaixador italiano no Brasil, Antônio Bernardini, o senador ítalo-argentino e subsecretário para os italianos no mundo Ricardo Merlo, juntamente com o diretor geral para os italianos no mundo da Farnesina, Luigi Maria Vignali, o deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato, os três conselheiros do Brasil no CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, os presidentes dos Comites e representantes das Câmaras de Comércio Ítalo-Brasileiras.

Segundo Taddone, a abertura para falar do problema das filas da cidadania é cada vez menor e, no entanto, apesar da cobrança, desde meados de 2014, da taxa de 300 euros para cada processo de reconhecimento da cidadania por direito de sangue (tema que também virou tabu dentro do Sistema Itália), outros problemas passaram a surgir, como o caso dos chamados “filhos diretos”, com preferência sobre os demais no atendimento consular.

Por filhos diretos, explica Taddone, o consulado de São Paulo entende os filhos de italianos nascidos na Itália, que têm preferência na fila, de tal forma que, por exemplo, o filho de um italiano nascido em Roma é atendido em seis meses, enquanto o filho de um italiano nascido em São Paulo deve esperar 12 anos na fila. Uma situação “inadmissível e anticonstitucional sob qualquer aspecto”, que foi considerada ilegal tanto por Merlo quanto por Vignali e, também na reunião, definida por Lorenzato como um ‘reato’ (crime)”, segundo conta o presidente do Comites do Recife, em sua entrevista.

Embora falando também de alguns aspectos positivos, “o encontro do Rio foi definido por Taddone como uma “reunião atropelada – uma bagunça generalizada”, com tempo muito reduzido e onde puderam falar somente alguns participantes, mesmo assim sem o tempo necessário para a exposição de problemas e questões importantes para a comunidade ítalo-brasileira. Ficou claro, entretanto, que nenhum consulado pode pedir documentos que já estão em poder dos próprios consulados, informa Daniel Taddone.

Ainda conforme ele, a iniciativa do Consulado de São Paulo de abandonar o sistema ‘Prenota Online’ para o agendamento de passaportes e de adotar um sistema baseado em vídeo-mensagens de WhatsApp (duramente criticado pelo Sindicato Confsal-Unsa – “All’estero, non ti serve il Whatsapp, ma gente competente e in numero sufficiente che, presso i consolati, si occupi del servizio richiesto!” nr: no exterior não é necessário o Whatsapp, mas gente competente e em número suficiente que, junto aos consulados, se ocupe do serviço solicitado”) foi muito elogiada. Ao final da entrevista, Taddone coloca um tema que não teve oportunidade de falar durante o encontro: as ilegais desculpas para a concessão do passaporte italiano. Taddone pede: “jamais aceitem qualquer negativa dos consulados sem ser por escrito”.