Fabio Porta e Adriano Cario, dia 10/11, perante a Comissão Eleitoral do Senado Italiano. (Fotogramas vídeo/TV Senado)

A sorte do ítalo-argentino Adriano Cario, um dos atuais seis senadores italianos eleitos no exterior, deverá ser decidida na próxima quarta-feira, quando o plenário da Câmara Alta do Parlamento italiano se pronunciar sobre as denúncias de fraude eleitoral relativas à eleição de 2018. A matéria, já votada na Comissão Eleitoral, deverá ou não ser referendada através do voto secreto. Se o mandato de Cario for cassado, em seu lugar deverá assumir o ex-deputado Fabio Porta, autor das denúncias que, segundo sua defesa, já estão comprovadas no âmbito da Justiça italiana.

A inclusão do tema na ordem do dia era 90% certa antes desse fim de semana, segundo informava Porta, esperançoso de que o Senado revise o entendimento da Comissão Eleitoral (10 votos a favor da manutenção do mandato do ítalo-argentino e cinco contrários). “Na terça teremos confirmação do dia e da hora desta votação”, dizia ele. Na edição deste sábado, entretanto, o quotidiano ‘Gente d’Italia’, editado em Montevidéu, anuncia que isso ocorrerá na próxima quarta-feira.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Embora tenha preferido não rebater pessoalmente a exposição de Porta perante a Comissão Eleitoral, Cario emitiu, no dia 22 último, um comunicado à imprensa em que, sem desmentir claramente as acusações e provas de manuseio das cédulas eleitorais (uso de mesma caneta, mesma grafia e outros detalhes apurados pela perícia técnica), afirma que sua campanha foi “honesta, totalmente transparente e maciça” e “com grande visibilidade pública”.

“É evidente – afirma Cario na nota – que a pressão que vem de todas as partes para força a minha destituição do Senado é movida por interesses políticos e econômicos na Itália, interesses que têm uma inevitável repercussão que prejudica o partido com o qual fui eleito (Usei), a minha imagem e a de toda a minha família”.

Entre os interesses econômicos, a nota à imprensa alude, logo após falar nos interesses ‘políticos e econômicos’, através da inclusão de uma nota da redação, a uma bolada de dinheiro que Porta receberia no caso de ser confirmado. A NR diz exatamente o seguinte: “O deputado Porta receberia uma cifra que poderia ser de cerca 400/500 mil euros se viesse a ser confirmado” (algo entre cerca de 2,5 e 3,1 milhões de reais).

Cario diz na nota ainda que conhece o clima político existente em função das eleições dos Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’, ligando o fato também à futura eleição do sucessor do presidente Sergio Mattarella. “Entendo a necessidade política da parte recorrente de aumentar sua presença parlamentar com minha demissão antes da eleição do Presidente da República italiana em fevereiro próximo” diz a nota a certa altura.

Não é possível assegurar que Cario pretenda distribuir eventuais responsabilidades, mas na nota ele também explica que em 2018 foi eleito senador como candidato pela lista Usei – ‘Unione Sudamericana di Emigrati Italiani’ – o mesmo partido pelo qual se elegeu anteriormente Renata Bueno. “Naturalmente, a campanha política foi projetada e levada adiante pelo presidente e fundador do partido (eleito deputado nas mesmas eleições) Eugenio Sangregorio e pelo seu vice presidente Victor Roque Moya que se uniu, juntamente comigo, à lista dos senadores”.

Em entrevista que concedeu dias atrás a Insieme, Fabio Porta fala sobre as fraudes denunciadas logo após as eleições e expressa seu entendimento segundo o qual “estamos numa encruzilhada difícil” e “no fundo do poço”. Segundo Porta, a prevalecer o entendimento político da Comissão Eleitoral apesar das “provas contundentes” envolvendo cerca de dez mil votos, seria melhor abolir o voto dos italianos no exterior, assim como também os Comites, diante do retumbante fracasso no índice de participação em todo o mundo.

“Temos agora uma ultima chance: o Senado no plenário deverá confirmar com votação secreta esta decisão e devemos mobilizar os italianos honestos para que peçam ao Senado a anulação do quanto aprovado pela Comissão Eleitoral (a “Giunta”). Além da minha situação pessoal, em jogo está o futuro do voto no exterior e a própria representação politica dos italianos no mundo. (…) Melhor aboli-las se for assim”.

Na internet, um abaixo assinado dirigido aos senadores pedindo “pela legalidade do voto e pela dignidade dos italianos no exterior” já computava, na tarde de hoje, quase 5.000 subscritores.