Uma 'print' da página oficial da Embaixada da Itália no FB, às 23h13min do dia 31/05, com a avaliação de 1,1 (reprodução)

A página oficial da embaixada da Itália no Brasil no Facebook foi tirada do ar neste primeiro de junho, poucas horas antes de ter início a festa comemorativa ao 71º aniversário da República Italiana na sede da unidade diplomática, em Brasília.

O fato sem precedentes aconteceu depois que diversos integrantes do grupo virtual “Cidadania Italiana – Área Livre” passaram a avaliar, na noite anterior, os serviços consulares da embaixada a partir do relato de uma das integrantes, denunciando  “descaso” com que foi tratada, vindo de Manaus a Brasília, para inscrição no Aire (serviço eleitoral). Ao final da noite, o conceito médio dos serviços da Embaixada tinha caído para 1,1 – praticamente o mínimo possível, já que a nota mínima atribuível é uma estrela.

PATROCINANDO SUA LEITURA

“Não suportaram a crítica”, diziam hoje ao final da tarde alguns internautas que, pouco a pouco foram descobrindo que a página oficial da Embaixada no FB, criada em 31 de janeiro último, tinha sito retirada do ar. Além das avaliações (209, no total, desde o início), os internautas teciam comentários como: “não respondem e-mails e telefone”, “péssimo atendimento, morosidade no andamento dos processos, falta de respeito e consideração”. Ou, ainda, “falta transparência, falta educação, falta respeito com os ítalo descendentes” (ver a sequência em forma de imagem).

Curioso é verificar que, enquanto os internautas reclamavam (#maistransparência) dos serviços, a embaixada se empenhava numa campanha denominada “Ambasciata porte aperte” (Embaixada portas abertas).  O “Cidadania Italiana – Área Livre” reúne quase 90 mil seguidores, maioria ítalo descendentes em busca de informações e de orientação para a obtenção do reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue.

As chamadas “filas da cidadania” deixam em longas esperas que podem chegar a 10 ou mais anos  milhares de pretendentes (calcula-se em mais de 500 mil atualmente) ao reconhecimento da cidadania italiana por transmissão sanguínea. Devido a essas longas esperas, nos últimos anos, muitos passaram a ir buscar tal direito na Itália, onde geralmente “compram” endereço temporário para alcançar o direito que, nestes casos, não se estende aos demais integrantes de um mesmo núcleo familiar. As críticas aos serviços consulares aumentaram depois que a Itália passou a cobrar, a partir de julho de 2014, o equivalente a 300 euros sobre cada requerente maior de idade.

Mesmo depois de impossibilitados de continuar criticando os serviços da Embaixada em sua página oficial do FB, os internautas passaram a fazê-lo no endereço da página antiga,ou não oficial. “Acorda, Embaixador, melhore os serviços consulares. Pior serviço consular do Brasil…” escreveu também ali o ex-presidente do Comites – Comitato degli Italiani all’Estero do Recife, Salvador Scalia.

A crítica mais completa e extensa aos serviços consulares da Embaixada foi feita por Daniel Laguna (ele é moderador de outro grupo no FB, denominado “Contra as Filas dos Consulados Italianos no Brasil”). Está escrito nos seguintes termos: Os piores serviços consulares italianos no brasil, talvez no mundo. • 150 pedidos de reconhecimento da cidadania italiana iure sanguinis ao ano (muito pouco), mas com fila de até 15 anos de espera (mesmo tendo muito menos pedidos que todos os outros consulados italianos no Brasil). •A fila ilegal para reconhecimento da cidadania italiana iure sanguinis não é pública, é secreta. • Casos comprovados de pessoas que furaram a fila secreta (há pessoas de 2010 esperando convocação, mas algumas de 2014 já foram convocadas). • Até 120 dias dias para envio da mancata rinuncia/NR (mesmo tendo muito menos pedidos que todos os outros consulados italianos no Brasil). • Até 180 dias para Aire (mesmo tendo muito menos pedidos que todos os outros consulados italianos no Brasil). • Vários casos de perda de certidões e outros documentos para reconhecimento da cidadania italiana e, principalmente, Aire. • Muito raramente atendem o telefone. • Muito raramente respondem a e-mails. • Atendimento presencial péssimo e nada cordial”.

Num de seus post de hoje, Laguna dirige-se aos integrantes do grupo assim: “Parabéns, pessoal! Foi uma boa sequência de reviews sinceros e justos. Isso vai resolver o problema? Claro que não! Mas a pressão e manifestação constantes, por todos os meios ao alcance (seja protesto em frente aos consulados, emails ao URP do Maeci [Ministério das Relações Exteriores], diffida, processos judiciais, reviews negativos, tweets ao Embaixador) darão o recado e promoverão a melhora. O que não é aceitável é ficar quieto por derrotismo ou covardia. Quem cala, consente! Vamos em frente; quanto mais manifestações de descontentamento, melhor!”

O fato que acaba de ocorrer com a página da Embaixada pode demonstrar, também, uma tendência: ontem mesmo três internautas criticaram os serviços do Consulado Geral em Porto Alegre, para desaponto do cônsul Nicola Occhipinti que, além de inscrito no grupo, vem se notabilizando como um “interlocutor” em meio ao tiroteio diário de críticas, dúvidas dos chamados ‘enfileirados’. Aos três que avaliaram o serviço com uma só estrela, ele reclamou dizendo parecer “um ataque organizado”.

“Estou – escreveu o cônsul – administrando esta página sozinho com máxima dedicação, carinho e compromisso, respondendo a todos. Quem seria [estaria] contente em ver o próprio trabalho massacrado desta forma pouco ortodoxa? Agora tenho medo de receber mais “1” injustificados. Alguém conhece essas 3 pessoas? Gostaria convidá-las no Consolato para conversar com elas, perguntar o que é que não gostam e ilustrar como desenvolvemos o trabalho e como fornecemos os serviços consulares. De toda forma, um dado fundamental: Se os usuários (brasileiros, descendentes de italianos, cidadãos italianos) querem protestar, precisam [as]sinalar formalmente ao Ministério eventuais faltas de atenção ou erros dos Consulados. A pagina Facebook è uma outra ferramenta, desligada dos serviços consulares. Se vingar contra a página Facebook para protestar contra serviços consulares considerados fracos pode gerar satisfação pessoal mas fica um sistema de protesto iníquo. Quem ficaria contente de ver o próprio trabalho massacrado por motivos alienos [alheios] daquele mesmo trabalho?”

Em resposta, recebeu da internauta Neili Dalla Rovere a seguinte resposta: “A nota não é para a página do consulado ou para o cônsul, em particular, que pelo menos está tentando resolver!!! Essa nota é para a fila e outros problemas que existem antes do Sr. Nicola…”.  Fátima Martini, outra internauta repica: “A avaliação nas páginas do Facebook não se referem à página em si, e sim ao atendimento prestado pelo estabelecimento que administra a página. Imagino que estes 3 estejam na fila para o reconhecimento da cidadania há, talvez, uma década. Não avaliaram mal a página, avaliaram o atendimento do consulado.  É perfeitamente justificável que as pessoas estejam inconformadas com o atendimento em todos os consulados.

Ao que o cônsul Occhipinti respondeu: “Desta forma, se avaliam a página (que ontem tinha 4,9!) com “1”, vou fechar a página Facebook”, para outra saraivada de argumentos de Fátima Martini, em troca: “Me desculpe a vulgaridade do exemplo, mas fechar a página para não aparecer as avaliações negativas é como aquela velha história de pegar a mulher com outro no sofá e trocar de sofá. O problema não é o sofá.”

O post que detonou a onda de críticas à Embaixada em sua página oficial do FaceBook, foi de Roberta Benoliel, publicada às 13h29min, e fala inclusive em perda de documentos da interessada, que reside em Manaus.