Senador Ricardo Merlo. Rede consular.
Uma imagem de Ricardo Merlo, ainda como deputado.(Foto Desiderio Peron / Arquivo Revista Insieme)

A situação da rede consular italiana no mundo foi de tal forma deteriorada ao longo dos últimos anos que, para voltar à situação de 2008, seria necessária a contratação imediata de 1.000 funcionários concursados, com o investimento de pelo 96 milhões de euros (mais de R$ 360 milhões) anuais.

A informação é do deputado Ricardo Merlo, fundador e presidente do Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero, ao reivindica para a coordenação do partido no Brasil a convocação ao manifesto previsto para a próxima quinta-feira – um feriado – diante do Consulado Geral da Itália em São Paulo, a partir da iniciativa organizativa do presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife, Daniel Taddone.

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O protesto nesta quinta-feira deverá acontecer no centro da cidade de São Paulo (Avenida Paulista, na altura do numero 1963, ao lado da Estação Consolação do metrô). Diversas caravanas do interior paulista e de outros Estados já confirmaram presença. Um documento deverá ser entregue no Consulado Geral de São Paulo, o principal da América do Sul, segundo informa Merlo.

Os 96 milhões de euros necessários para recolocar a rede consular italiana em todo mundo na situação de 2008 – “quando já não era das melhores” – segundo calcula ainda o deputado ítalo-argentino, não representam nenhum desassombro: significam a bagatela de qualquer coisa em torno de apenas 0,009% do PIB italiano. “Em termos de despesa pública, isso não é nada significativo”, diz Merlo, mas “aí, sim, começar-se-ia a falar em resolver o problema; do contrário, infelizmente, é apenas conversa fiada”.

“Que fique bem claro – acrescenta o deputado Merlo – que é o Maie Brasil que está convocando este protesto”, ao qual aderiu todo o partido na América do Sul. “Quem quiser aderir, será bem-vindo, independentemente de partidos”, acentua Merlo. “Nós esperamos que as pessoas compareçam em bom número para se encontrar e, principalmente, para pressionar o governo italiano para que ele mude de política, sobretudo com respeito à rede consular, entre outras coisas desastrosas”.

Segundo Merlo, o governo italiano precisa entender que “as políticas adotadas nos últimos cinco anos [em relação aos italianos no exterior] não servem para nada”. Para ele, a “invenção” da taxa da cidadania (cobrança de 300 euros sobre cada pedido de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue), além de inconstitucional, é uma “truffatura” (fraude). “Anuncia-se que o governo te pega 300 euros e ele [governo] promete devolver 90”.

Ainda, segundo Merlo, “com o dinheiro dessa taxa não se pode aumentar o pessoal concursado, pois a contratação de pessoal permanente não está nos objetivos da taxa”, então, “não contemos mentiras às pessoas. Somente a contratação desses mil funcionários representaria uma real solução ao problema dos consulados”.

Um problema que toca nos limites: na Patagônia, para uma comunidade de 70 mil italianos espalhados num vasto território, “há um consulado com o cônsul e apenas um funcionário concursado – um absurdo” que se repete também em outros lugares: “Se vais a Curitiba, Porto Alegre ou São Paulo, verás que o pessoal concursado é exíguo”, observa Merlo que sequer admite discutir sobre a taxa dos 300 euros. “A discussão da taxa não existe; é necessário aumentar o pessoal em pelo menos mais mil funcionários concursados”, o que significa gastar apenas 0,009% da despesa pública italiana – um troco”.

Se o valor em termos de despesa pública global italiana é pouco significativo, “para fazer isso é necessário uma vontade política forte”, raciocina Merlo. E os italianos todos merecem isso. Um consulado mal estruturado e sem condições de prestar serviços dignos não é problema apenas dos italianos no exterior mas, também, dos italianos peninsulares. “Quando alguém vem aqui, no Rio ou em São Paulo, e precisa do consulado italiano, ele precisa ser bem atendido”, disse Merlo. Perguntado sobre possíveis medidas no âmbito judicial para a solução das filas, ele disse que o assunto não foi descartado e continua sob análise das possibilidades no uso partidário da representação coletiva.

Merlo observa que as posições assumidas pelo Maie não têm a ver com tendências de centro-esquerda nem de centro-direita. Para ele, o desmantelamento da rede consular ocorreu tanto no governo de Berlusconi, quanto no governo do PD – este com 60% de responsabilidade. “E nós fomos oposição a Berlusconi, como somos oposição aos governos de Renzi e de Gentiloni, enquanto os três parlamentares do Brasil agem diversamente, apoiando o governo do PD”.

O deputado espera que o Maie, nas próximas eleições, aumente o número de sua bancada no Parlamento italiano e anuncia que apoiará um futuro governo, seja ele de qualquer tendência, desde que se comprometa com os italianos no exterior, “resolvendo nossos problemas”.