“O direito à cidadania italiana não pode se transformar num direito plutocrático, onde somente as pessoas que possuem mais dinheiro a ela tenham acesso”, critica o candidato a deputado nas próximas eleições para o Parlamento Italiano, Daniel Taddone. Ele se refere à cobrança da chamada “taxa da cidadania”, que considera inconstitucional, mas também a todas as dificuldades que acabam forçando os interessados a gastar dinheiro com advogados, viagens e coisas semelhantes.

O presidente do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de Recife e ex-funcionário dos consulados italianos de São Paulo e Recife critica também duramente o sistema de agendamento ‘prenota online’, que chama de “Cassino de vagas”, usado pelos consulados para o fornecimento de passaportes e, no Rio de Janeiro, também para o agendamento da requisição da cidadania italiana por direito de sangue.

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O nome que ele encontrou para designar o serviço se refere à sorte que o interessado tem que ter para conseguir um agendamento, muitas vezes em período de tempo que supera mesmo a dois anos. “As pessoas não têm esse tempo todo para ficar diante de um computador por meses e meses, só para conseguir agendar o pedido de fornecimento de um passaporte”, critica Taddone.

Segundo o candidato pela Unital – ‘Unione Tricolore America Latina’, que é sociólogo de formação, no Rio, o cônsul italiano defendeu o serviço ao dizer que as pessoas, dentro da cota estabelecida, conseguem fazer o agendamento. “Algumas pessoas também conseguem ganhar na Mega Sena” – replica ele, mas “o direito à cidadania não é exatamente uma loteria e o ‘prenota online’ não pode ser um cassino de vagas”.

Taddone começa a vídeo-entrevista que integra esta matéria explicando os motivos da “guerra” a que se referiu durante reunião do Intercomites havida em Curitiba. Nela, e em resposta a um discurso da deputada Renata Bueno, em que ela falava dos problemas consulares mas dizia que não podia assumir posições mais duras, ele exclamou não querer ouvir falar de armistício e, sim, “vogliamo la guerra” (queremos a guerra). O vídeo que publicamos na época contribuiu como uma das causas motivadoras do protesto que Taddone liderou diante do Consulado Geral da Itália em São Paulo, no dia 12 de outubro.

Agora, Taddone conta que algumas pessoas o censuraram, inclusive seu pai, dizendo que falar em guerra era “muito agressivo”, mas ele explica que a “guerra” referida é no sentido de não se poder ficar impassível diante das ilegalidades cometidas contra os cidadãos”. “Conheço – disse ele – esse tipo de comportamento há décadas, e ele não surtiu absolutamente nenhum efeito. As coisas continuam ruins, sempre piorando, e eles [os representantes] sempre com esse discurso de acomodação, de diplomacia”.

“A guerra que me referi – prosseguiu ainda Taddone – não é no sentido de agressão, mas sim, de verificar os problemas e de não descansar enquanto eles não forem resolvidos e, também, de reclamar o quanto for necessário”. “Não quero ser deputado ou um representante para ficar fazendo foto com cônsules, ou ir a coquetéis e jantares de altos escalões; eu quero representar as pessoas e poder chegar a um cônsul e dizer: isso é inaceitável, isso tem que ser resolvido”, argumentou Taddone.

Crítico, ele observa que, apesar de problemas internos, “não há falta de recursos”. E exemplifica com os cerca de 16 milhões de euros (em torno de 60 milhões de reais) arrecadados apenas com a taxa da cidadania no Brasil, durante os primeiros três anos desde que a cobrança entrou em vigor. “Não retornou um só centavo para nada”. Diante de tudo isso, Taddone pergunta: onde estavam e o que fizeram nossos representantes que, durante esses cinco anos, apoiaram o governo em tudo? Que posição tomaram eles?