u CURITIBA – PR – Candidato ao Senado da República Italiana pela chapa AISA – Associazioni Italiane in Sud America, o advogado Walter Petruzziello, de Curitiba-PR, tem uma preocupação, antes de pedir o voto para seu nome: que ninguém deixe de votar nestas eleições para a renovação do Parlamento Italiano e escolha de um novo governo para a Itália. Um dos quatro conselheiros brasileiros do CGIE – Conselho Geral dos Italianos no Exterior, Petruzziello explica porque está na chapa do argentino Luigi Pallaro, enumera suas principais preocupações, fala sobre as tentativas de um entendimento que unisse um pouco mais a comunidade ítalo-brasileira e toca num ponto crucial: o das filas da cidadania diante dos consulados italianos que operam na América do Sul, em especial, no Brasil. Ele advoga a simplificação do processo de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue.
Os cidadãos italianos regularmente inscritos nos Consulados de todo o mundo poderão votar por correspondência em candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e à presidência do Conselho de Ministros. Pelo correio receberão um envelope contendo o material eleitoral (cédulas para votação e orientações) que deverá ser devolvido, também pelos correios em tempo de chegar de volta aos consulados até as 16 horas do dia 10 de abril. Na Itália, as eleições se desenvolverão dias 13 e 14 de abril. Em toda a Circunscrição Eleitoral do Exterior, serão eleitos 12 deputados e seis senadores. Na área da América do Sul, os eleitos serão três deputados e dois senadores.
Confira a entrevista concedida ao jornalista Desiderio Peron, editor da Revista Insieme:
n Quem é, ou como define Walter Petruzziello?
PETRUZZIELLO – Me defino como uma pessoa alegre, leal e amiga. Sempre disposto a ajudar a quem precisa e talvez por isso sem inimigos.
n Quais os motivos que o levaram a se candidatar para o Senado italiano?
PETRUZZIELLO – Os motivos são vários, mas posso destacar a minha experiência de mais de 20 anos com a Comunidade Italo-brasileira, meu trabalho no Comites e no CGIE e, principalmente o apoio que recebi nas eleições de 2006, quando ficamos em primeiro lugar no Brasil, com 38% dos votos.
n Por quais motivos preferiu aderir à chapa de Luigi Pallaro?
PETRUZZIELLO – è necessário esclarecer que não “aderi” a Chapa Pallaro, eu já faço parte dela desde 2006, quando das eleições anteriores e, portanto, mantive a coerência de continuar o projeto de fortalecer as Associações e a Comunidade Italo-Sul Americana. Interessante que teve gente que defendia este mesmo projeto, usufruiu de dois anos do mandato que obteve graças a Associazioni italiane in Sud America e agora se perfila com partidos políticos italianos.
n Seu apelo é “se não agora, quando?”. Apela, ainda, à união dos eleitores ítalo-brasileiros quando isso não aconteceu sequer dentro das lideranças que ocupam postos de relevo no CGIE, Comites e Associações. Que razões o levam a acreditar na vitória?
PETRUZZIELLO – primeiramente devemos dizer que a união dos “brasileiros” não ocorreu por alguns motivos pontuais. O primeiro deles foi a convocação de eleições antecipadas, o que não nos deu tempo para dialogar com calma e com todas as lideranças; em segundo lugar o excessivo número de candidatos, inclusive alguns sem nenhuma chance de elegerem-se mas que insistiam em ser candidatos. Quanto as razões que me levam a crer na vitória são os números. Quem obteve a maior votação no Brasil fomos nós e embora a esperteza Argentina nos tenha dividido tenho convicção de que os Italo-Brasileiros saberão usar o voto para podermos eleger alguém e, por isso, prego inclusive o voto útil. Desta vez o voto não será duplo, mas em nossos candidatos, seja a Camara seja ao Senado.
n Que prognósticos faz, em linhas gerais, sobre o resultado destas eleições na América do Sul?
PETRUZZIELLO – Acredito que somente três chapas ( listas ou partidos) terão chances, os demais somente servem para tirar alguns votos e marcar presença. Entre os vitoriosos acredito que estarão candidatos de nossa lista.
n Que idéias, propostas e programas defende?
PETRUZZIELLO – As minhas propostas todos conhecem, pois as defendi sempre e não somente em época de eleições e posso destacar: a reestruturação dos consulados, a cidadania para filhos nascidos de mãe italiana antes de 1948, a reaquisição da cidadania para italianos naturalizados, a equiparação da pensão, a pensão social. De outro lado fui eu quem defendi no CGIE e enviei ao parlamento o pedido de cidadania para os Trentinos e prorrogação da lei que concedeu o direito à eles.
n A seu ver, quais os principais problemas que a comunidade ítalo-descendente da América do Sul, em especial a ítalo-brasileira, enfrenta?
PETRUZZIELLO – Por incrível que pareça os principais problemas ocorrem para aqueles que não são “ainda” cidadãos italianos ou seja aqueles que tem o direito mas a longa espera, em virtude da estruturas consulares, os deixam a margem e sempre desesperados. Isso será modificado se fizermos alguma mudança, inclusive na lei e que permita simplificar este reconhecimento. Outro problema é a questão social de muitos italianos, que são caracterizados como “necessitados” mas que o Governo insiste em ignorar. Para mim um problema de enorme grandeza é a falta de informação e o desconhecimento que a maioria de nossa comunidade tem em relação a politica italiana. Este conhecimento poderia aumentar a participação da comunidade nas eleições parlamentares italianas.
n Na questão específica das “filas da cidadania”, a despeito de todas as desculpas de falta de estrutura consular e ou recursos, não acha que está havendo pura e simplesmente sonegação de direitos (inclusive o do exercício do voto) a milhares de ítalo-descendentes?
PETRUZZIELLO – Eu acho que este é um problema estrutural e que vem de longa data. Se não houver vontade politica e alguém que nos defenda no Parlamento vamos continuar choramingando pelos cantos. Veja que elegemos um Senador e que por problemas políticos ele não conseguiu nos ajudar a resolver os problemas. E não acredito que tenha sido por falta de vontade do Senador, mas por falta de vontade do Governo a quem ele ajudou a eleger. Cito outro caso grave: O Senador e Vice Ministro Franco Danieli nos visitou e prometeu várias coisas e, com a queda do Governo, tudo volta a estaca zero, inclusive com a surpresa da não candidatura do Senador Danielli pelo partido Democartico (PD). Quer dizer devemos começar tudo com um novo interlocutor e isso, não é bom para a comunidade ítalo-brasileira.
n Na condição de conselheiro do CGIE (Conselho Geral dos Italianos no Exterior) como explica seu silêncio durante o longo período em que o Consulado de Curitiba esteve fechado para pedidos de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue?
PETRUZZIELLO – Não é verdade que fiquei calado. Fui o único Conselheiro do Brasil (na gestão anterior) que levou a lista de espera e esbravejou na reunião do CGIE contra aquele estado de coisas. Quando mostrei fisicamente a lista e bati com ela na mesa houve um silêncio sepulcral e uma incredulidade em relação aquela quantia de pessoas que estavam na fila de espera. Infelizmente o CGIE é um órgão consultivo e não houve providências dos políticos e do governo para resolver os problemas. De outro lado de que adiantaria as pessoas se inscreverem numa fila sem saber quando seriam chamadas? Você se inscreveria numa fila se lhe dissessem que te chamariam daqui a vinte anos? Temos que resolver o problema e não fazer as pessoas entrarem numa lista infinita.
n Sua candidatura se dá por uma chapa que diz representar as Associações Italianas na América do Sul. Quais suas ligações com essas associações?
PETRUZZIELLO – Sempre defendi as Associações como base da manutenção de nossa cultura. São elas que mantém as tradições, o folclore e o frango com a polenta, muito embora nossa cultura seja muito mais do que isso. Muitas vezes me perguntaram porque não fundo um associação e minha resposta é sempre a mesma ou seja, porque tem associações suficientes e temos que dar forças á elas para que se estruturem e sejam ativas. Tenho um projeto que levará dois anos e que servirá para desenvolver as Associações e a Comunidade Ítalo-Brasileira e com qualquer resultado vou colocá-lo em prática.
n Se eleito, que tendência política seguirá na sua atuação? Imagina ser possível manter independência no Parlamento Italiano?
PETRUZZIELLO – Se alguém pensa que, sendo eleito, poderá fazer tudo sozinho, já começa mal. É importante que o parlamentar entenda que deve se integrar ao parlamento para todos os efeitos. Deve trabalhar sério, inclusive preocupando-se com os problemas da população residente na Itália. Só assim você vai ganhar credibilidade dos demais parlamentares e conseguir algo para os italianos no exterior, e, para isso, você não precisa deixar de ser independente.
n Outras considerações que julgar necessárias.
PETRUZZIELLO – Convido e convoco toda a comunidade ítalo-brasileira para que participe dessas eleições. É muito importante elegermos nossos representantes. Não deixem de votar e se me derem a honra de representá-los no Senado da Itália, tenham a certeza que não vou decepcionar vocês.