Cia de Teatro encena o episódio da Colônia Cecília no Festival de Teatro de Curitiba

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u CURITIBA – PR – Com direção de João Luiz Fiani, estreia dia 22 de março durante o Festival de Teatro de Curitiba, no Guairinha, o espetáculo “Colonia Cecília” de Renata Pallotini. A peça tem o patrocínio da Fundação Cultural de Curitiba que repassou recursos através de edital do Fundo Municipal de Cultura.
Desembarcados no Rio de Janeiro, em 1890, um pouco mais de cem imigrantes italianos dirigiram-se para o interior paranaense em busca de terras concedidas pelo Império brasileiro. O que diferenciou esta leva de colonos europeus, dentre centenas de outras, foi o sistema político adotado por estes, o anarquismo. Texto de Renata Pallottini descreve, através de fatos históricos, a única experiência do gênero realizada no Brasil.
O imperador D. Pedro II inspirado pelo livro “Commune in Riva all Mare”, experiência anarquista de Giovanni Rossi, convidou o autor para realizar seu intento no Brasil. Quando aqui chegaram, o império já tinha ido à bancarrota. Porém, os republicanos permitiram o estabelecimento dos colonos, que se realizou em território hoje ocupado pelo município de Palmeira.
A colônia recém estabelecida recebeu o nome de Cecília. Todos os rumos do núcleo eram definidos em assembléia. A idéia de uma sociedade igualitária ia se transformando. A conseqüência lógica do ideal anarquista se refletia na pregação ao amor livre, nas assembléias, nos barracões coletivos, na divisão igual de alimentos, nas multifunções que todos exerciam, na inexistência de cercas para a delimitação da área, no acolhimento de visitantes e no respeito à opinião alheia.
Em 1893, um fato ocasionou o principio do fim da colônia. José Gariga, que foi acolhido pela colônia transportou durante três dias, toda a safra de milho que já estava vendida, sumindo com o dinheiro obtido. Além disso, um vírus levou várias pessoas a abandonar a colônia para tentar a sorte em outros lugares, pondo fim à tentativa anarquista no sul do Brasil.
Segundo a autora Renata Pallotini, Colônia Cecília é um pouco como se fosse um álbum de poemas. Tem uma estrutura fragmentada épico-lírica, mas com uma seqüência dramática, que mostra os conflitos e a ação.  “A História e a realidade nos dizem que a Colônia Cecília não conseguiu sobreviver; teve vida por quatro anos e aí se findou. A isto não podemos fugir. Mas será que é isso o fim da Utopia?” questiona.  A peça inicia com o “Autor”, em visita ao local onde existiu a colônia. Um narrador, portanto, numa intervenção épica, brechtiana e desmistificadora, porém feita em versos-livres, dramáticos, evidentemente. A partir daí inicia-se um flash forward, uma antecipação do que será a partida, o abandono de Cecília.
“A Colônia Cecília é marca da obra de um Homem que não se contentou com sonhar: pôs mãos à obra e foi à luta. A pior tentativa é a que não se faz. A cada um de nós cabe a tarefa de tentar. Ao seu modo, usando suas próprias armas, no nosso caso a palavra, em suas várias possibilidades, desde a confissão lírica da página, na noite, até a explosão dramática e inconfundível do Teatro, sob as luzes. A isso vamos, hoje e sempre”, finaliza Renata Pallotini que estará em Curitiba especialmente para a estréia.
O diretor do espetáculo, João Luiz Fiani procura prestar uma homenagem ao seu mestre e amigo, o diretor teatral Ademar Guerra com quem trabalhou em “Colônia Cecília”, “Mistérios de Curitiba” e “O Vampiro e a Polaquinha”. Ademar foi responsável pela encenação deste texto em 1984 por ocasião do centenário do Teatro Guaíra em Curitiba.  O que desencadeou na década de 90 uma série de montagens em Curitiba: Noite na Taverna, de Álvares Azevedo, Mistérios de Curitiba e O Vampiro e a Polaquinha, ambas de Dalton Trevisan. Esta última permaneceu por mais de cinco anos em cartaz em Curitiba.
“Ademar Guerra era um artista que conseguia reunir eficiência, criatividade, modéstia e equilíbrio. Coisa rara num diretor de teatro. Aprendi muito com ele. Durante a convivência com ele, registrei seu processo. Guardo com muito carinho estas anotações. Utilizei como base para a encenação de O Vampiro contra Curitiba no ano passado e agora para esta nova Colônia Cecília. Com certeza, Ademar foi o diretor mais competente e inteligente com quem trabalhei” afirma João Luiz Fiani.
Ademar Guerra fez parte da geração de diretores de teatro no Brasil formada a partir da profissionalização que se seguiu ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), no início dos anos 50. “Além de ter sido o diretor da primeira montagem do espetáculo Colônia Cecília, Ademar foi um dos mais importantes diretores do teatro brasileiro. Dirigiu três das mais importantes produções do Teatro Nacional: “Hair”, “Missa Leiga”, “Marat Sade”. Revelou para o teatro brasileiro atores como: Armando Bogus, Ivone Hoffman, José Wilker, Sônia Braga, Paulo Betti, Eliane Giardini, entre outros”. Afirma o diretor e ator teatral Oswaldo Mendes, que também estará em Curitiba especialmente para a estréia. Oswaldo concebeu: “ADEMAR GUERRA: O TEATRO DE UM HOMEM SÓ” (EDITORA SENAC) onde faz um resgate histórico do diretor com uma autobiografia ficcional intercalada por depoimentos de amigos, professores de teatro, jornalistas e críticos. “Ademar era um diretor moderno, anárquico. Colônia Cecília era uma superprodução musical com elenco grandioso. Isso demonstra o talento de Ademar para montagens complexas”. finaliza Oswaldo Mendes.
O espetáculo de João Luiz Fiani, conta com 32 atores em cena. Entre eles: Marino Jr, Wellington, Simone Klein, Florival Gomes, Jader Alves e Mateus Zuccolotto. O veterano Enéas Lour (indicado ao prêmio de melhor ator em 2006) interpreta o histórico personagem de Giovanni Rossi. Para ele além da importância histórica do fato para o Paraná, o texto consegue sintetizar o problema ocorrido na Colônia Cecília de maneira singular: aceitar as diversidades e conviver livremente com outros seres, também de forma livre.
Para esta montagem foram criadas 08 músicas a partir das letras que fazem parte do texto de Renata Pallotini. O músico Ivan Graciano (filho do casal Nhô Belarmino e Nhá Gabriela) faz uma participação especial no espetáculo ao lado de Marcyo Luz, responsável pela direção musical e preparação vocal do atores. A iluminação do espetáculo fica à cargo de Beto Bruel, os figurinos são de Thamis Barreto a cenografia de Leopoldo Baldessar e a direção de movimento de Deborah Krammer.
Produção: Cia Máscaras de Teatro Texto: Renata Pallotini. Direção: João Luiz Fiani. Supervisão Artística e de Dramaturgia: Oswaldo Mendes Cenografia: Leopoldo Baldessar. Iluminação: Beto Bruel. Trilha sonora original: Marcyo Luz. Figurino: Thamis Barreto.  Direção de Movimento: Deborah Kammer. Músico Convidado: Ivan Graciano. Elenco: Florival Gomes, Mateus Zuccolotto, Wellington, Simone Klein, Marino Jr, Larissa Neufeldt, Jader Alves, Sônia Bacila, Marcyo Luz, Maicon Santini, Joel Vieira, Jeruza Quadros, Iares Schreiber, Thiago Tavares, Luana Roloff, Raphael Lobo, Marco Freire, Eidi Lucy, Fábio Jorge, Carla Coleto, Carol Nichele, Isabella Cavaletti, Luiz Borguezan, Aaron Ramathan, Guarany Jr, Josiane Larger, Juliana Davanso, Mel Maia, Nicole Dellatorre, Ricardo Hasselmann e Taciane Vieira. Participação Especial: Enéas Lour. Duração: 70’.

 

SOBRE O DIRETOR: JOÃO LUIZ FIANI formou-se pelo Curso Permanente de Teatro do Teatro Guaíra. Tem em seu currículo alguns dos mais importantes espetáculos do teatro paranaense. Trabalhou com importantes diretores como: Ademar Guerra, Oraci Gemba, Oswaldo Mendes, Ivone Hoffmann, Lala Schneider entre outros. Esteve como ator em:  “Zumbi”, “Colônia Cecília” “Mistérios de Curitiba” e ”Carrasco Do Sol” e “O Mágico de Oz”, “Noite na Taverna”, “O Vampiro e a Polaquinha”, “O Inimigo do Povo”, “Gritaria nos Muros da Cidade” entre outros. Dirigiu mais de 50 espetáculos em Curitiba entre produções profissionais, amadoras, próprias e para outras companhias. Escreveu mais de 70 textos para o teatro entre infantis, comédias e dramas. Criou e mantém a Fundação Teatro Lala Schneider em Curitiba. Vencedor do Troféu Gralha Azul Prêmio Governador do Estado do Paraná como Melhor Diretor de 1999.  Recentemente realizou a adaptação e a direção de “O VAMPIRO CONTRA CURITIBA” de Dalton Trevisan o maior contista vivo brasileiro.

 

SOBRE A AUTORA: RENATA PALOTTINI estreou no teatro 1965, com “O Crime da Cabra” que ganhou os prêmios Molière e Governador do Estado de São Paulo. Ainda na área da dramaturgia merece destaque sua trilogia de peças sobre a imigração italiana: O país do Sol, Colônia Cecília e Tarantella. Na televisão foi redatora do programa Vila Sésamo. Em 1977, ganhou o prêmio de Melhor Roteiro da APCA pela telenovela O Julgamento, escrita em parceria com Carlos Queiroz Telles. Em 1977 lançou o livro Chão de Palavras. Em 1994 Renata Pallottini publicou sua Obra Poética, reunindo seus livros anteriores. O texto também virou filme na década de 80, sob a direção de Berenice Mendes, com elenco totalmente paranaense e locações em Palmeira (PR), município onde existiu de fato a Colônia Anarquista, tornando-se assim uma das principais obras históricas do teatro paranaense. Renata Pallotini realizou diversas pesquisas sobre o anarquismo no Brasil, para a produção do texto de Colônia Cecília que revela diversos fatos pouco explorados pelo estudo acadêmico da história do Brasil e em especial do Paraná. Uma narrativa que exige tanto despojamento, quanto refinamento para fazer a ponte entre o óbvio naturalista do fator histórico e o lirismo que a concepção teatral exige.

 

FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA

Teatro Guaíra – Auditório Salvador de Ferrante

Dias: 22 e 23 de março às 20h30.

informações: www.festivaldeteatro.com.br

Contato: 41 32328108 e 41 99732293