“A empresa reforça que está absolutamente segura de que todos os pedidos de cidadania estão de acordo com o que determina a legislação italiana”, escreveu no início da tarde de hoje, através de assessoria de imprensa, a «Rotunno — Immigration Solutions & Business», empresa envolvida em investigação pelo Ministério Público italiano sobre o reconhecimento de cidadania iure sanguinis a ítalo-brasileiros no município de Lauriano, na Itália.
Na nota, a empresa diz que “a Rotunno está acompanhando e contribuindo com a investigação do Ministério Público da Itália sobre processos de reconhecimento de cidadania na cidade de Lauriano” que, conforme o jornal Corriere della Sera publicou no último dia 03/05, envolveriam cerca de 60 “falsas cidadanias”.
“A empresa atua há mais de uma década com processos dessa natureza e é reconhecida pela maneira clara e transparente como ajuda seus clientes. Assim, segue à disposição e está pronta para contribuir com a justiça italiana para o completo esclarecimento de qualquer dúvida levantada pelos agentes públicos”, diz ainda a nota.
Lauriano é um pequeno município com menos de 1.500 habitantes, pertencente região metropolitana de Turim, na Região do Piemonte.
Com sede em Santos – SP e dirigida pela advogada Gabriela Rotunno, a empresa é acusada de valer-se de um bed and breakfast da localidade italiana como endereço de residência para os requerentes que teriam obtido a residência de forma ilegal para depois solicitar o reconhecimento da cidadania”. Entre eles, estaria o pai do atacante do Arsenal Gabriel Martinelli e jogador da Seleção Brasileira de Handebol, disse o jornal.
A investigação, também segundo os jornais italianos (outro jornal que publicou a notícia foi o La Stampa, de Turim), envolve a própria prefeita do município, agrônoma Matilde Casa, “juntamente com outras nove pessoas pelos crimes – por motivos diversos – de associação criminosa, corrupção por atos contrários aos deveres oficiais, falsidade material e ideológica em documentos públicos”.
As investigações teriam começado a partir de uma denúncia oferecida há anos por um vereador da oposição do próprio município que atualmente vive “clima eleitoral”, segundo palavras da advogada Gabriele Rotunno. Em contato com Insieme na manhã do último dia 4, ela colocou-se à disposição para uma video-entrevista “assim que tomasse pé da situação”, já que chegara à Itália, inclusive com filhos menores, no dia anterior. Posteriormente, Rotunno comunicou que havia mudado de ideia, preferindo não fazer mais declarações no momento.
O escritório de advocacia Rotunno defende os interesses de requerentes que, recentemente, tiveram negados seus pedidos de reconhecimento da cidadania ‘iure sanguinis‘ pelo fato de seus “dante causa” terem nascido antes da instalação do Reino da Itália. Na edição deste mês, a revista publica um artigo assinado pelos advogados Gabriela Rotunno e Armando Ferreira (este último participou de um 4 Chiacchiere sobre o assunto, recentemente).
Os fatos (eles teriam ocorrido entre junho de 2018 e junho de 2019) narrados pelos carabinieri no comunicado de fim de investigação “parecem traçar – escreve o jornal Corriere della Sera – uma história articulada e complexa”. Teriam sido cometidos por funcionários públicos do Município, graças também ao ‘apoio organizacional ativo’ de outras pessoas. Em particular, os documentos de investigação sublinham o papel da Rotunno — Immigration Solutions & Business, empresa sediada em São Paulo, Brasil, que presta ‘serviços de intermediação a favor de terceiros, de nacionalidade brasileira, com vista à obtenção de residência italiana, e depois da cidadania jure sanguinis“.
O jornal dá destaque à controvertida questão das “residências falsas”.
“A suposta quadrilha – assim escreve – envolveria a dona de uma pousada e seu marido que permitiram que ‘os requerentes declarassem residência’ direto no estabelecimento, contribuindo assim para o processo administrativo que culminou com a concessão (sic) da cidadania (NR – o uso de concessão é altamente equivocado quando se fala de cidadania iure sanguinis). Figuras-chave da organização, para os investigadores, teriam sido o prefeito, o chefe do cartório do município e o funcionário responsável. O prefeito em particular – de acordo com a acusação da promotoria – supostamente ‘assinou todos os certificados de reconhecimento da cidadania italiana jure sanguinis“.
O advogado da prefeita, segundo reporta o jornal italiano, está convencido de que “não foi cometido nenhum crime” e pediu para seu cliente ser ouvido “o mais brevemente possível pelo magistrado para esclarecer a questão”. De acordo com a mesma fonte, ele considera ainda: “certamente o procedimento administrativo é muito complexo e se presta a diversas interpretações e pode ter havido alguns equívocos, mas certamente não dolo, atos contrários ao ofício em troca de qualquer vantagem”.