Luis Molossi
O advogado Luis Molossi (Foto Acervo Pessoal)

Um grupo “muito pouco homogêneo”, de propostas conflitantes e até antagônicas, cujos reais interesses incluem, entre outros, além de acesso às contribuições financeiras do governo italiano, a “patrolagem” da estrada para as próximas eleições que se avizinham – assim o advogado Luis Molossi, de Curitiba-PR, define em linha gerais o mais novo grupo político criado na Câmara dos Deputados italiana pela ítalo-brasileira Renata Bueno, que tem por sigla a Usei – “Unione Sudamericana Emigrati Italiani”.

O novo grupo sob a liderança de Renata vem sendo motivo de questionamentos desde a sua instalação, em dezembro último, que culminaram em extenso artigo publicado dia 06 pelo “Corriere della Sera”, sob o título “Camara, o estranho caso do grupo sulamericano de uma só emigrada”. No comunicado que distribuiu a órgãos da imprensa italiana, Molossi, que assina como primeiro suplente na Câmara dos Deputados do Maie – “Movimento Associativo Italiani all’Estero” e conselheiro do Comites PR/SC, vai além do episódio para criticar duramente “os nossos representantes no Parlamento italiano e suas obras” sob o título “O Fausto e o Iludido”.

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O artigo de Molossi faz alusão aos faustosos parlamentares baseados no Brasil, que incluem o senador Fausto Longo e os deputados Fabio Porta e Renata Bueno, de um lado, e os milhares de enfileirados à espera do reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue, iludidos com as reiteradas promessas e manobras protelatórias na distribuição de um direito, de outro.

“Você pretende continuar sendo iludido ou acha que está na hora de buscar as verdades deste mundo?”,  pergunta o advogado Luis Molossi, que há dias, juntamente com o conselheiro argentino Mariano Gazzola, do CGIE – “Consiglio Generale degli Italiani All’Estero”, fazia um apelo aos parlamentares eleitos pela Circunscrição Eleitoral do Exterior: “
Em seu artigo, além da ironia, Molossi repisa alguns fatos jocosos envolvendo os parlamentares e revela, também, suas ligações familiares e com o poder local. Cita, por exemplo, que o ex-marido de Renata Bueno – Juliano Borghetti, que é irmão da vice-governadora do Paraná e também conselheira do Comites, Cida Borghetti – ultimamente tem sido assíduo Parem de enganar os italianos que vivem no exterior”.fequentador das páginas policiais dos jornais; marca o deputado Fabio Porta como o autor intelectual da proposta que acabou se transformando na taxa dos 300 euros para o reconhecimento de cada processo de cidadania; ironiza Fauto Longo como o senador “que ainda está aprendendo a falar italiano” e teve a brilhante ideia de propor a instituição de um “imposto sobre a cidadania” a todos os italianos que residem fora da Itália.

Na questão do grupo parlamentar liderado pela deputada Renata Bueno, que, segundo ela, teria como objetivo melhorar o relacionamento entre a Itália e os italianos no exterior, além de apoiar o governo de centro-esquerda do primeiro ministro Matteo Renzi, Molossi revela a posição de cada um dos parlamentares que o integram sob a sigla de Sangregorio, argentino, historicamente vinculado à centro-direita de Silvio Berlusconi, conforme destaca o artigo publicado pelo jornal italiano acima referido. “Resta, então, entender quais seriam os reais interesses”, escreve Luis Molossi. Leia, a seguir, a nota de Molossi, na íntegra:

“O Fausto e o Iludido – Sobre os nossos representantes no Parlamento Italiano e suas obras.
O Jornal Corriere della Sera (junto com La Repubblica os jornais mais lidos e prestigiados na Itália) publicou em sua edição de 06/01/2016 matéria, de Renato Benedetto, com o título: “Camera, lo strano caso del gruppo sudamericano con una sola emigrata”. Quem lê este artigo vai realmente achar estranho, especialmente porque o novo grupo que nasce na Câmara dos Deputados Italiana, sob a sigla USEI (Unione Sudamericana Emigrati Italiani), tem como membros Renata Bueno, que todos nós conhecemos bem e única eleita com a sigla de Sangregorio na América do Sul, motivo da possibilidade de ser constituído o grupo, até mesmo com 3 parlamentares, mas também Nello Formisano e Gullermo Vaccaro – da Região Campania, Eugenia Roccella e Vincenzo Piso – da Região Lazio, que de emigrados nada tem, como bem destacado pelo artigo.

De acordo com o mesmo Benetto, os objetivos apontados pelos novos membros são: evidenciar a contribuição dos italianos no exterior, lealdade ao Governo Renzi e seus “princípios laicos e progressistas” segundo Renata Bueno; já Vaccaro, que deixou o PD, justifica o contrário, dizendo que quer desligar-se da fidelidade absoluta ao governo. O mesmo ocorre com Roccella e Piso que, eleitos pelo PDL, passaram ao NCD de Alfano e o deixam agora, justamente por ser muito subalterno a Renzi. Por sua vez Formisano, sendo mais prático, alega que, estando no Grupo Misto não se tem nenhuma voz no Parlamento e que o novo grupo que adere é apenas técnico, sem “identidade política”. Então o placar é de uma parlamentar que nunca foi aceita pelo PD no Brasil – tendo sido inclusive expressamente desautorizada a fazê-lo pelo seu responsável Andrea Lanzi na famosa carta de 2013 – se dizendo leal ao Governo Renzi, mesmo tendo sido eleita pela lista Usei de Sangregorio, um ativista de direita; 2 oriundos do PDL/NDC e 2 do próprio PD, que se desligam porque não pretenderem manter a fidelidade absoluta ao partido de Renzi. Um grupo muito pouco homogêneo, portanto.

Resta, então, entender quais seriam os reais interesses, além das razões técnicas: possibilidade de ter espaço físico em Montecitorio, equipamentos e acesso às contribuições financeiras do governo italiano, justamente para a manutenção política das cadeiras já conquistadas, as viagens necessárias pelo mundo para fazer propaganda e, evidentemente, “patrolar” a estrada para as próximas eleições que se avizinham. Bingo!

Se fizermos uma pequena revisão da trajetória, propostas concretas e posições políticas de nossos representantes brasileiros no Parlamento Italiano (já tratamos da taxa de Eu$ 300,00, ideia do On. Fabio Porta, que virou lei por proposta, pasmem, de um senador trentino, sua grande obra até o momento e o seu colega do PSI, senador Fausto Longo, que ainda está aprendendo a falar italiano e teve a brilhante ideia de propor a instituição de um “imposto sobre a cidadania” a todos os italianos que residem fora da Itália), vemos que estas novidades não têm nada de “anormal”, razão do título que apresentamos: O Fausto: Renata Bueno é filha de Rubens Bueno (deputado federal e secretário do PPS em Brasília), que todos conhecem na Itália, mais pelas opiniões sobre o IOR e o Vatileaks, foi casada, mais de uma vez, com Juliano Borghetti (bastante presente nas páginas policiais dos jornais recentemente), que é irmão de Cida Borghetti, que é vice-governadora do Estado do Paraná, conselheira do Comites, recém-eleita na lista “Passione Italia” capitaneada pela deputada Bueno. Cida, por sua vez, é casada com Ricardo Barros, deputado federal, aliado do governo Dilma do PT, presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Itália em Brasília, sendo ambos pais de Maria Victoria, recém-eleita deputada estadual aqui no Paraná e leal ao Governo do Estado, o menos popular do país, 13º entre os 13 avaliados em recente enquete da Paraná Pesquisas. Tudo isso muito correto e legítimo, com resultados obtidos nas urnas, com alguns incômodos nas prestações de contas, mas nada que se compare à Lava-Jato.

Uma eleição tranqüila para quem tem esta estrutura toda aqui nas Américas, portas abertas desde as embaixadas em Brasília até o diretório municipal de Nova Veneza-SC, aonde eu mesmo ouvi a candidata a deputado Renata Bueno prometer em praça pública um Consulado Italiano para SC, sob os aplausos de muitos parlamentares daquele estado, inclusive o presidente da Alesc (NR: Assembléia Legislativa de Santa Catarina). Mas é preciso avançar para o continente europeu, de onde foi primeiramente importada a expressão do “fausto”, aquele que vive na riqueza e prosperidade, com muitas viagens e fotos, devidamente ovacionado pelo séquito dos atuais e milhares de futuros eleitores, quando a fila acabar, como está sendo reiteradamente prometido para todos os tranqüilos enfileirados.

Já os iludidos, que acreditam em sonhos bons, fotografias e mentiras somos nós todos, aqui preocupados em ajudar a quem precisa de apoio, mesmo que seja para saber para que ano está prevista a chamada para o acesso à dupla cidadania. Você pretende continuar sendo iludido ou acha que está na hora de buscar as verdades deste mundo?

Nota: Fausto, além do nome do nosso Senador, é um termo para fazer referência à corte portuguesa devido à aparente riqueza e prosperidade com que viviam em determinado período da sua permanência no Brasil. As luxuosas festas, os desfiles pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, o vestuário e as jóias ostentadas pelas mulheres e todo o aparato em torno da realeza eram vistos com fascínio pelos brasileiros. Sabe-se que praticamente todo o fausto da corte era suportado por donativos de ricos comerciantes brasileiros. Avv. Luis Molossi, Membro do Comites PR/SC, primeiro suplente na Câmara dos Deputados pelo Maie.”