u CURITIBA – PR – Para o candidato a deputado italiano pelo Partido Socialista, Fausto Guilherme Longo, “o debate que todos deveríamos travar é sobre qual a Itália que queremos e qual nossos direitos e nossos deveres na construção desta nação que rompeu fronteiras e é, verdadeiramente, globalizada”. Ele espera que encerrada a campanha eleitoral e o processo das eleições por correspondência na Circunscrição Eleitoral do Exterior, tanto o debate quanto os projetos não sejam engavetados, pois “o exercício da cidadania não se esgota com o processo eleitoral”.
Ele observa que questões como a burocracia e a falta de estrutura mais ágil dos consulados, o acesso aos serviços e direitos adquiridos, tais como aposentadoria, previdência, reconhecimento de cidadania, emissão e/ou renovação de passaportes, entre tantos outros, são questões pontuais que devem ser devidamente tratadas sem perder o foco da discussão central a que se refere.
Nesta entrevista ao editor da Revista Insieme, jornalista Desiderio Peron, Longo admite que a greve dos carteiros “pesa na legitimidade do processo eleitoral e no pleno exercício da cidadania”. Confira.
n Com que disposição está chegando ao fim da campanha eleitoral?
FAUSTO LONGO – Importante ressaltar, como princípio, que o exercício da cidadania não se esgota com o processo eleitoral, neste sentido, ao encerrar-se a campanha eleitoral nos sentimos animados pelo vigor da participação que esse pleito produziu no ambiente dos italianos e descendentes em toda a América do Sul. Todo o interesse demonstrado aponta cristalinamente para dois aspectos, o primeiro: a necessidade de se ampliar os mecanismos de participação de toda a comunidade italiana no processo político e, o segundo:a responsabilidade e comprometimento de cada um dos candidatos na continuidade de suas lutas, para que, independentemente dos resultados revelados pela vontade popular, se empenhem na consolidação suas propostas e, principalmente, as de seus partidos.
n A seu ver, quais foram os temas mais importantes debatidos nestas eleições de interesse da comunidade italiana no exterior?
FAUSTO LONGO – Os temas mais debatidos não foram necessariamente os mais importantes para um momento tão crucial para o futuro da Itália e de toda a comunidade italiana, mas foram bastante significativos para revelar os problemas que mais afetam a vida de cada cidadão que vive no exterior, nato ou descendente. Questões como a burocracia e a falta de estrutura mais ágil dos consulados, o acesso aos serviços e direitos adquiridos, tais como aposentadoria, previdência, reconhecimento de cidadania, emissão e/ou renovação de passaportes, entre tantos outros, são questões pontuais que devem ser devidamente tratadas, mas, a discussão central, o debate que todos deveríamos travar é sobre qual a Itália que queremos e qual nossos direitos e nossos deveres na construção desta nação que rompeu fronteiras e é, verdadeiramente, globalizada. Também indispensável alertar que as discussões devem se voltar notadamente para a direção e o sentido da política que se adotará na Itália, que classe de políticos estarão à frente da nação, pois os reflexos de uma má conduta política irá prejudicar ou beneficiar toda a comunidade italiana, quer no território peninsular quer no exterior.
n Como analisa o comportamento geral dos candidatos em campanha e que sinais importantes obteve dos eleitores?
FAUSTO LONGO – Presenciamos uma campanha de alto nível do ponto de vista do comportamento ético e do comprometimento de todos os candidatos com suas respectivas bases. Talves, em minha singela opinião, precisaríamos do exercício mais intenso da cidadania no processo eleitoral, qual seja, ampliar o debate, expor de forma comparativa o ideal e os projetos de todos os partidos e seus respectivos candidatos, de forma a permitir um maior conjunto de informações que pudessem contribuir para a decisão mais acertada de cada eleitor quanto ao seu voto.
n Caso não alcance a eleição, pretende continuar atuando politicamente dentro da comunidade italiana e de que forma?
FAUSTO LONGO – Tres são os compromissos que, independente dos resultados obtidos no pleito eleitoral, assumimos com o Partido Socialista Europeu.
1 – Lutar, por todos os meios democráticos possíveis, para que todos os direitos consignados na constituição vigente sejam respeitados em sua ampla e total legitimidade.
2 – Lutar de forma organizada e sistemática para ampliar a articulação entre as agremiações, partidos e lideranças de alma socialista na América do Sul para pensarmos racionalmente um projeto socialista, democrático e plural para a integração dos povos sul-americanos, quer italianos ou não e,
3 – Lutar para que haja um processo amplo de discussão de um novo projeto para a Itália e seus cidadãos. Numa economia globalizada, um nação, que possui praticamente a metade de seu povo espalhado pelos quatro cantos do mundo e relega esse fato a um plano secundário, precisa rever seus conceitos de modernidade e reconstruir conceitualmente sua estratégia de inserção internacional e de seus cidadãos.
n Poderia avaliar de alguma forma objetiva a influência da greve dos carteiros brasileiros, deflagrada no meio do processo eleitoral?
FAUSTO LONGO – É evidente que o eleitor italiano residente no Brasil está em desvantagem em relação aos eleitores dos colégios eleitorais do exterior em função dessa greve. Esse é um fator que pesa na legitimidade do processo eleitoral e no pleno exercício da cidadania. As autoridades italianas precisam achar a forma e o caminho para que esse evento não adultere e produza distorção na manifestação da vontade popular.
n Entende que o processo eleitoral na Circunscrição Eleitoral do Exterior, da forma como está configurado, merece reparos, e onde?
FAUSTO LONGO – O processo eleitoral no exterior precisa ser repensado em todos os sentidos, na forma e no conteúdo. Mas, principalmente precisamos que os representantes eleitos para o parlamento italiano, quer senadores ou deputados, provoquem e promovam amplos debates com as lideranças representativas das comunidades e dos partidos italianos aqui constituídos para elabora uma proposta séria e conseqüente a ser levada, debatida e defendida no âmbito do parlamento.
n Que prognósticos faz sobre o resultado eleitoral, no Exterior e na Itália?
FAUSTO LONGO – Acredito que, uma vez mais, teremos um resultado equilibrado nesse pleito eleitoral. Nada de novo aconteceu na política italiana que pudesse causar alguma surpresa, infelizmente não se apresentou um só projeto consistente para nosso futuro. Dois desfechos podemos vislumbrar: o “conchavo” das duas principais lideranças para acomodarem-se e, talvez, pensar as reformas necessárias para a manutenção de um governo pelo tempo necessário para se implementar essas mudanças com estabilidade ou, dado o equilíbrio entre as duas principais correntes, que haja uma competição burra que conduza, novamente e em muito pouco tempo, a uma nova crise e, conseqüentemente, um novo processo de consulta popular, novas eleições, portanto.
n Outras considerações sobre o tema que queira fazer
FAUSTO LONGO – Parabenizar todos os que participaram deste momento cívico a desejar que os resultados apontem um caminho mais generoso para todos os cidadãos de nossa querida Itália…de “dentro” ou de “fora”!