u CURITIBA – PR – O cartunista ítalo-brasileiro Carlos Henrique Iotti, criador de ‘Radicci” e “Genoveva” – espécie de estereótipos da grande comunidade de ‘oriundis’ no Sul do Brasil, é uma das novidades desta campanha para as eleições parlamentares italianas de abril. Candidato ao Senado pela chapa do argentino Ricardo Merlo, ele confessa sua falta de afinidade com campanhas políticas mas, ao mesmo tempo, é até aqui o único candidato a propor uma corrente contra a maré: não só difundir  e democratizar o ensino da lingua e da cultura italiana num país como o Brasil, com cerca de 30 milhões de ítalo-descendentes, mas, principalmente, levar a Roma e à Itália o que essa grande comunidade foi e é capaz de produzir e representar: “precisamos – diz ele – levar nossa cultura até a Itália”, pois “já é hora de mostrar o que se faz de novo em artes plásticas, música, teatro, literatura, nesse pedaço abençoado da América do Sul”.

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Assim como Iotti, de quem é conterrâneo, o advogado Luis Molossi, de Curitiba-PR, candidato a deputado também na chapa de Merlo, declara-se empolgado com o projeto proposto pelo argentino. “A proposta de um Movimento Associativo ‘Italiani all’Estero’ – diz Molossi – que envolve todo o nosso continente e com um projeto para os próximos 20 anos vem ao encontro de todos os meus ideais e me fez aceitar de imediato o convite para participar desta eleição.” Molossi, Segundo diz, ficou “entusiasmado” e aceitou o desafio. “Sabemos das dificuldades – acrescenta –  mas a energia e confiança são tantas que não enxergamos obstáculos devido à clareza e objetividade das propostas”. Dentre suas propostas está a questão das “filas da cidadania” diante dos consulados italianos que operam no Brasil.

Apresentamos, a seguir, as principais idéias dos dois candidatos, nos mesmos moles em que foram apresentadas as idéias dos outros dois ítalo-brasileiros que integram a chapa de Merlo, Janni Boscolo (Câmara) e Itamar Benedetti (Senado)

 

RICARDO MERLO E LUIS MOLOSSIn Quem é Molossi?

 

MOLOSSI – Desde criança sempre convivi com as Comunidades Italianas emigradas. Até os meus 15 anos, em Nova Bassano-RS, éramos uma grande comunidade vêneta (Vicentini/Bellunesi/Trevisani e outros) e nossa família, de outra menor, Lombarda (Cremonesi), mas sempre houve um convívio harmônico. Depois, em Curitiba, muitos anos de estudo e formação profissional até que reencontrei a língua italiana, estudando-a a fundo até me tornar professor desde 2003, mesma época que obtive, sozinho, a cidadania italiana. Com a intensa participação nas atividades culturais e movimentos associativos houve a oportunidade de participar das eleições para o Comites em 2004, onde fui eleito com mais que o dobro de votos que imaginava receber dos eleitores do PR e SC. Parte de minha família permanece no RS onde mantenho uma pequena propriedade rural de modo a nunca dissolver o vínculo com minhas origens. E o Carlos Henrique Iotti é da mesma região que a minha, motivo do nosso imediato engajamento na campanha. Do Comites e dos inúmeros contatos com a Comunidade Italiana do Paraná e em todo o Brasil surgiram amizades como o Itamar Benedet que sempre foi um parceiro leal, o Boscolo que conheci em uma assembléia vêneta, assim como Oscar de Bonna e, por último o Ricardo Merlo, que tem o orgulho de ser o único político italiano eleito na América Meridional em 2006, não nascido na Itália. A proposta de um Movimento Associativo ‘Italiani all’Estero’ que envolve todo o nosso continente e com um projeto para os próximos 20 anos vem ao encontro de todos os meus ideais e me fez aceitar de imediato o convite para participar desta eleição.

 

n Quem é Iotti?

 

IOTTI – Sou jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atuo como chargista na ‘Zero Hora’ e ‘Pioneiro’ de Caxias do Sul. Em 1983 criei um personagem que me ligou de maneira indelével à comunidade italiana do sul do paÍs. Há 25 anos crio tiras diárias do ‘Radicci’ para esses jornais e mais outros de Santa Catarina e Paraná. Em 2006 fiz uma exposição na cidade italiana de Porto Viro e lancei a versão traduzida do ‘Demo Via’, a história da imigração italiana em quadrinhos. Para esse ano tenho a idéia de lançar um livro de quadrinhos em combinação com o jornalista Emanuelle Bellato, de Porto Viro. O convite do deputado Ricardo Merlo, foi uma grande surpresa , em um primeiro momento, e um grande desafio a ser encarado. Uma chapa associativa que busca a união dos diversos segmentos ligados ao italianos da América Latina é um grande projeto. Vamos em frente!

 

 

n Com que disposição aceitou o convite do deputado Ricardo Merlo para concorrer às próximas eleições?

 

MOLOSSI – Uma chapa mista, formada por candidatos comprometidos com os italianos residentes no exterior era a que melhor se ajustava às minhas idéias a respeito da situação dos italianos aqui residentes. Por este motivo, mesmo tendo sido sondado por outra chapa, mas conhecendo o Deputado Merlo, sua atuação em favor da comunidade italiana e o projeto que me foi apresentado, confesso que fiquei entusiasmado e aceitei o desafio. Sabemos das dificuldades, mas a energia e confiança são tantas que não enxergamos obstáculos devido à clareza e objetividade das propostas.

 

IOTTI – Para falar bem a verdade, quando o Deputado Ricardo Merlo me fez o convite, achei que era alguma brincadeira. Num primeiro momento fiquei estático, contemplativo e pensativo.  Jamais havia passado por minha cabeça me candidatar. Quanto mais ao Senado Italiano! Passado o susto, interado do grande projeto do Movimento Associativo ‘Italiani all’Estero’, que se movimenta como um monólito, sempre junto, resolvi aceitar a – como se diz no RS- essa empreitada. Procurarei compensar a falta de experiência e cacoete político por trabalho e dedicação. Não vou mudar meu jeito. Sou uma pessoa simples assim como o meu personagem. Evidente que é importante que as pessoas saibam diferenciar o criador e a criatura, mas sempre que possível vamos trilhar em paralelo essa caminhada. “ Fà pulito, Neno!”

 

n Que propostas e idéias vai defender?

 

MOLOSSI –  Os pontos fundamentais da Lista Merlo são os mesmos que venho defendendo desde a campanha vitoriosa ao Comites, sendo que podemos dividí-los em três blocos distintos, porém interligados:

Jovens (acesso privilegiado à língua, cultura e esporte; cursos de formação profissional, estágios e intercâmbios; oriundos: inserção da grande massa de descendentes no ambiente cultural italiano, benefícios do Sistema Itália hoje e no futuro, também com o estímulo ao desenvolvimento de projetos para pequenas e médias empresas);

Solidariedade italiana (Programas sociais que beneficiem os italianos menos favorecidos; acesso a remédios e assistência sanitária aos mais velhos, como o cheque social já existente em outros países da América do Sul, menos no Brasil);

Direitos civis (Reforma e otimização dos serviços consulares, diminuindo as exigências burocráticas e as filas para obtenção da cidadania italiana; aprovação da Lei Merlo em tramitação para os direitos de transmissão de cidadania às mulheres nascidas antes de 1948 e uma lei definitiva para o drama dos Trentinos);

 

IOTTI – O Movimento já tem bandeiras que são empunhadas pelo Deputado Ricardo Merlo. O fim da discriminação das mulheres nascidas antes de 1948, que não podem transmitir a cidadania.  A atenção aos pleitos dos descendentes de italianos com a situação precária dos Consulados e ao tempo excessivo de espera para a obtenção da cidadania. Mas minha dedicação maior será em relação à Cultura. Temos as Universidades Italianas, que deveremos ampliar convênios. Tanto em graduação e pós-graduação, principalmente nas área humanas, precisamos ampliar , e muito, a participação dos latinos, com atenção especial ao sul do Brasil, nessas universidades. A ampliação e democratização do estudo do italiano. Temos que pulverizar o ensino pois quando se estuda uma língua, também você mergulha nesse país. Por fim, precisamos levar nossa cultura até a Itália. Não falo apenas em corais cantando musicas da imigração. Nada contra os corais que cantam ‘Mérica, Mérica’, mas já é hora de mostrar o que se faz de novo em artes plásticas, música, teatro, literatura, nesse pedaço abençoado da América do Sul.

 

n Como pretende desenvolver a campanha e, tendo em vista a amplitude territorial (América do Sul), com que recursos, já que é uma chapa desvinculada de partidos políticos?

 

MOLOSSI – Com os meios disponíveis a todos os candidatos: Comunicações diretas com os eleitores pelos diversos canais disponíveis, apoio da comunidade que conhece nosso trabalho e propostas; visitas e reuniões com nossos contatos pelo Brasil e até em alguns países da América Latina.

 

IOTTI – Farei do meu modo, com calma, sem atropelos e sem loucuras. Sou um neófito em campanha. Vou usar a internet, que é um meio rápido e democrático.

 

n Merlo tem, segundo anuncia, um projeto a longo prazo: um movimento  ítalo-sul-americano. Conhece o projeto e em que consiste?

 

MOLOSSI – O que é mais interessante nesta fase inicial da campanha é que confrontando as propostas do Movimento Associativo ‘Italiani all’Estero con Merlo’ e o nosso programa para o Comites 2004, quando fui eleito, temos uma identificação perfeita, cujos pontos já foram apresentados na resposta da pergunta 2 acima. A idéia de levar este movimento de integração e de longo prazo a todo o continente sul-americano foi decisiva para apoiar a iniciativa. 

 

IOTTI – Sem dúvida esse foi um aspecto decisivo quando aceitei. É um projeto que não termina na contagem das cédulas. Ao contrário, começa ali.

 

n Como vê, diante disso, a atividade dos Comites, do CGIE e dos parlamentares eleitos há dois anos, nas primeiras eleições em que participaram os italianos no exterior?

 

MOLOSSI – Todos sabem que os votos do exterior foram decisivos para a formação do Governo Prodi. E a lei eleitoral não facilitou nada, dando muita importância aos partidos menores. O custo foi a queda. Falando dos políticos eleitos no exterior, era de se esperar acertos e erros pois tratou-se de uma experiência inédita, com grandes riscos.  Posso dizer que o Merlo foi muito atuante, não se furtando às suas responsabilidades, superando qualquer expectativa.  De qualquer modo, acho positivo, pois finalmente as discussões chegam  mais vivas ao CGIE e aos Comites e até à própria comunidade, mas ainda há muito que fazer. Grande parte dos italianos no exterior não sabem o que está acontecendo e ainda serão necessários alguns anos até que os mesmos se acostumem com esta nova realidade. Creio na revitalização dos Comites e do CGIE pois, com apenas 2 senadores e 3 deputados (no nosso continente) muitos líderes capazes e preparados ficarão de fora, mas continuarão dando sua contribuição à política em seu território e com sua comunidade.

 

IOTTI – Como já afirmei, sou um novato. Estou chegando agora e vou procurar estar informado sobre a revitalização dos Comites, que fazem essa interface com a Itália. Temos muito a caminhar nessa estrada.

 

n Outras considerações que queira fazer:

 

MOLOSSI – Uma das conseqüências da lista Merlo já está sendo sentida: houve uma grande surpresa junto às lideranças que se sentiam únicos postulantes a qualquer que fosse o cargo representativo da comunidade italiana, seja no Brasil ou qualquer outro país do continente. Todos falavam em “unir as forças”, mas isso somente se fosse em seu favor, sem risco de perder terreno. Nosso grupo propõe um Movimento Associativo em toda a América Latina, com as propostas que já foram explicitadas aqui. Trata-se de um projeto para o futuro, com a certeza de sua continuidade na próxima eleição, que, para nós, será apenas uma etapa a ser superada. Ao contrário do que muita gente vem falando a respeito de divisão no Brasil para beneficiar a Argentina, lembramos que estamos falando de eleições Italianas, e nosso movimento visa integrar os italianos do continente sul-americano e não dividi-los. “Alea jacta est”.

 

IOTTI – Não esperem um candidato tradicional ao Senado. Sou um cartunista e humorista, mas tenho a convicção que nós humoristas somos pessoas muito sérias. Não pretendo fazer bobagem, mas faremos tudo com bom humor.Tenho propostas sérias assim como é forte o Movimento Associativo. Muitas coisas estão mudando, sinto essa brisa que começa a levantar as folhas do chão. São os ventos da mudança. Hora de embarcar e enfunar as velas. “La nave và e nessuno la fermerà! Avanti!”