u CURITIBA – PR – Para registrar perante o Consulado Geral de Curitiba dois nomes que integrarão sua chapa nas próximas eleições parlamentares italianas, esteve em Curitiba nesta segunda-feira (25.02.2008) o deputado Ricardo Merlo, da Argentina, eleito ao Parlamento italiano pela Circunscrição Eleitoral do Exterior. Os dois candidatos registrados foram Itamar Benedett (Senado), presidente do Comvesc – Comitê das Associações Vênetas de Santa Catarina, de Criciúma-SC, e o advogado Luis Molossi (Deputado), de Curitiba-PR. Embos são conselheiros do Comites Paraná/Santa Catarina. Segundo Merlo, que rompeu com o senador Luigi Pallaro, também da Argentina, sua chapa será totalmente independente e apoiará, pontualmente, a maioria que garantir os direitos dos italianos residentes no exterior. Ele desmentiu informações segundo as quais sairia como candidato independente mas que, depois das eleições, apoiaria o Partido Democrático de Walter Veltroni, candidato de centro-esquerda ao cargo de Presidente do Conselho de Ministros italiano.

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Merlo disse que registrará sua chapa no dia 8 de março, um dia antes do prazo final, mas que por enquanto não sabe ainda se ele próprio sairá candidato ao Senado ou à Câmara dos Deputados. Outro candidato certo em sua chapa é Gianni Boscoli, de São Paulo, e um quarto, cujo nome não foi revelado, será de Porto Alegre, para onde ele seguiu no final da tarde.

“Nós não estamos pensando em apenas vencer estas eleições – disse Merlo – mas nosso programa é construir um movimento onde buscamos a integração da grande comunidade italiana da América Latina. “Esta é a novidade”, acrescentou.

Acompanhado de Benedett e de Molossi, o candidato esteve na sede do Consulado Geral da Itália em Curitiba, onde manteve contato, entre outros, com o cônsul geral Riccardo Battisti, com o vice-cônsul Vittoriano Speranza, além do presidente do Comites PR/SC. Gianluca Cantoni e do conselheiro do CGIE – Conselho Geral dos Italianos no Exterior, Walter Petruzziello, que está inscrito na chapa de Luigi Pallaro, como candidato a senador. Com Petruzziello, Merlo travou diálogo reservado, cujo tema foram as surpresas ocorridas depois da confirmação do primeiro na chapa do senador argentino.

Merlo, sempre acompanhado dos candidatos locais, esteve também na sede do Centro de Cultura Italiana PR/SC, onde foi recebido pelo presidente Francisco Schiocchet e outros diretores, numa reunião em que foram debatidos aspectos das eleições e das propostas do candidato. Merlo descartou os rumores segundo os quais a inclusão de candidatos brasileiros em sua chapa teriam como fim enfraquecer candidaturas em território brasileiro, favorecendo candidaturas argentinas, especialmente a sua. “Nós estamos empenhados neste movimento que é de amplitude latino-americana”, disse Merlo, acrescentando que para quem vai a Roma é importante ter uma rede confiável de colaboradores. Em Buenos Aires, segundo ele, sua chapa tem um compromisso de não dividir o colégio eleitoral com mais candidaturas, fato que lhe deixaria em situação tranqüila seja como candidato a deputado, ou a senador. Merlo, que evitou todo o tempo pronunciar o nome de concorrentes, renovou o convite ao advogado Walter Petruzzielo para que entre em sua chapa, desde que superadas as dificuldades surgidas com a candidatura de Adriano Bonaspetti, do Rio Grande do Sul, também ao Senado, na chapa de Pallaro.

 

Ao editor da revista Insieme, jornalista Desiderio Peron, Ricardo Merlo concedeu a entrevista transcrita abaixo:

 

n Está no Brasil organizando a sua chapa?

Estamos organizando a chapa que agora espero tenha um grande sucesso no Sul do Brasil, porque teremos uma quantidade significativa de candidatos do Sul do Brasil. É uma chapa cívica, independente. Ao contrário das outras, nós não assinaremos nenhum cheque em branco. Iremos à Itália e somente apoiaremos aquele partido ou maioria que garanta a defesa dos direitos dos italianos no exterior.

 

n Essa independência está baseada nas associações?

Eu nasci nas associações. Nas associações de italianos no exterior, nas associações de voluntariado. É, portanto, uma lista associativa, que tem como finalidade principal defender e levar adiante projetos que já apresentamos no Parlamento. Por exemplo: a transmissão da cidadania também pelas mulheres, sem nenhuma discriminação; o cheque social para os italianos menos favorecidos na América; a reforma da lei de promoção da língua italiana, pois a língua italiana não é um privilégio para poucos que têm dinheiro; a paridade entre os professores daqui e os que vêm da Itália, que são tratados de forma diferente; a reforma da rede consular, que sabemos, para o Brasil é um problema fundamental… a presença forte de uma grande quantidade de brasileiros na minha chapa dará um sentido brasileiro a esta chapa.

 

n Quantos serão eles?

Diremos isso no dia 8 de março. Mas são todas pessoas que têm origem no voluntariado… Mas a coisa mais importante é que nós vamos à Itália para defender os direitos dos italianos que vivem no exterior.

 

n Como deputado no Parlamento italiano nestes dois anos, viveu uma experiência. Acha que vale a pena, isto é, que é possível realmente fazer alguma coisa pelos italianos esparramados pelo mundo?

Perdemos uma oportunidade histórica. Tínhamos a oportunidade de, com o nosso voto no Senado, obter tantas coisas. Por isto me separei politicamente (de Luigi Pallaro: NR). Porque não concordei. Não falo de questões pessoais… a amizade, dependendo da outra parte, pode continuar… mas politicamente me separei porque entendi que perdemos uma grande oportunidade… Ter em mãos um governo… olha quantas coisas se podera fazer. Na Câmara fizemos tudo o que estava a nosso alcance. Pode visitar meu site Internet  e ali ver todas minhas iniciativas e meu relacionamento com as Regiões. Porque nós não queremos apenas ficar em Roma. É por isso que temos um grande projeto para toda a América do Sul. Creio no Sul do Brasil como uma grande potencialidade para associar-se à Itália. São economias que se completam… são tantos italianos. Por isto minha escolha de colocar na chapa não apenas candidatos de São Paulo, mas também do Sul do Brasil.

 

n Então, agora derrubamos o muro entre a Argentina e o Brasil?

Em todos os meus comunicados, enviados a todos,  nunca falei de um país particularmente. Eu represento a América Latina. Nasci na Argentina mas tenho estas coisas bem claras: Eu represento a América Latina. Para mim, os problemas de Buenos Aires, de Santa Catarina, de Caracas ou de São Paulo são problemas que devemos resolver. Não damos prioridade a ninguém. Eu jamais falei num país particularmente, a menos que seja um problema específico.

 

n Ao entrar em nosso consulado (de Curitiba), certamente percebeu e viu o que acontece ali!…

Sim, uma vergonha! Porém precisa não confundir o bom trabalho que desenvolvem os cônsules com a falta de pessoal. Porque alguns candidatos, como eu vi, criticam os consulados gerais. Eu não os critico, porque os cônsules são vítimas. Como se pode fazer, aqui, trabalhar com apenas 13 pessoas? Alguém pode oferecer um serviço a uma região como esta com 13 pessoas, contando o Cônsul? Então esta é uma luta que precisamos travar na Itália: a reforma da rede consular; procurar convencer os sindicatos que eles devem deixar trabalhar também os descendentes de imigrantes italianos no exterior, porque com um salário de um italiano que vem aqui podemos contratar seis ou sete. Esta seria uma solução. Poderemos fazer uma “força-tarefa” para resolver todos os problemas da cidadania.

 

n E porque não a colaboração das associações?

Sim, com a colaboração das associações, que seriam escolhidas pela Embaixada com muita sabedoria.

 

n Mas temos o exemplo dos trentinos, pelo menos dos trentinos do Paraná e Santa Catarina. Todo o trabalho que eles fizeram está bloqueado em Roma!

Roma não responde. Eu estive falando… para mim foi uma honra falar face a face com o presidente Napolitano quando da consulta que ele fez. Itália para mim não é um país difícil de governar. Itália é um país de difícil sistema político. Não se pode governar um país com 20 partidos políticos… Itália precisa fazer uma grande reforma. O número de parlamentares é excessivo. Deve-se eliminar o bicameralismo… a única coisa que não deve ser mexida é a lei dos italianos no exterior. Ela deve ser respeitada, porque acredito que para a Itália os italianos no exterior representam uma grande oportunidade, com seus 18 parlamentares. A idéia que tinham é que iríamos para a Itália pedir dinheiro para os pobres. Não! Nos formos à Itália para dizer aos italianos que esta é uma grande oportunidade. Que a América Latina é uma grande oportunidade. Que eles devem associar-se com empresários da América Latina para realizar negócios. Este é o discurso que interessa aos italianos. Não o discurso, segundo o qual, se não me derem cinco milhões de euros eu não aprovo o Orçamento. Esta, infelizmente, é uma imagem muito triste,

 

n Que mensagem o deputado atual, e o também atual candidato a deputado, deixa aos eleitores e também àqueles que estão na fila, aguardando para também poderem votar?

Que nós somos um movimento independente, que representa as associações, que iremos à Itália com as prioridades acima referidas, defender os direitos dos italianos no exterior. E sobretudo que não assinaremos um cheque em branco a nenhuma maioria. O discurso de que apoiaremos quem vencer, não é verdadeiro. Nós haveremos de apoiar quem defender os direitos dos italianos no exterior…

 

n Caso por caso?

Exatamente. Porque dizer que assinaremos um cheque em branco à maioria que vencer, segundo penso,  é um erro político de alguém que da política italiana não entendeu nada.

 

n Disseram do deputado Merlo que ele é candidato independente mas que depois apoiará o programa de Veltroni, de centro-esquerda…

Nós faremos o discurso dos italianos no exterior. Para nós seria mais fácil fazer o discurso do Partido Democrático, isto é, ser de esquerda, do que fazer todo esse movimento, um movimento ítalo-latino-americano, pensando nos próximos 20 anos, não apenas nestas eleições. Estamos convencidos que venceremos, mas estamos pensando no futuro.

 

n De fato, a principal força italiana fora da Itália está na América do Sul…

Exatamente. Nós queremos pensar na América Latina. E devemos ir à Itália como latino-americanos de origem italiana, a defender os direitos dos que vivem em nosso Continente. Fui claro, não?