Foto Desiderio Peron / Insieme
O ex-partisano, alpino e imigrante Giovanni Luigi Corso, que conta a sua saga em livro dedicado a seus netos.
No dia do 70 º aniversário da Liberação da Itália, também chamado de Festa da Liberação ou Aniversário da Resistência, que ocorre neste sábado, 25 de abril, a memória de um ex-combatente nas falanges partisanas que habita há mais de meio século em Curitiba: Giovanni Luigi Corso. Em seu livro de memórias, lançado dia 9 de abril no Restaurante Cascatinha, em Curitiba-PR, com a presença de mais de 200 pessoas de todos os matizes ideológicos, Corso conta um pouco da história que viveu e sobre os ideais que defendeu quando ainda jovem, para depois tornar-se um imigrante em terras alheias à sua Fonzaso, na província vêneta de Belluno, Itália: “Vivo no Brasil com o corpo, mas com o espírito estou sempre nas minhas montanhas, nas minhas dolomitas, nos meus pré-alpes”, segreda ele no vídeo que preparamos (ver também vídeo sobre o aniversário da Tomada de Monte Castello) para o lançamento do livro e que agora publicamos no canal Youtube de Insieme, incluindo imagens da noite de autógrafos. Abaixo reproduzimos matéria da edição 195 da Revista Insieme:
RETRATO DE UM PARTISANO – AOS 86 ANOS DE IDADE, GIAN LUGI CORSO RESOLVE CONTAR SUA EPOPÉIA DE VIDA QUE INCLUI, NA JUVENTUDE, UM PERÍODO EM QUE FEZ A GUERRA DE GUERRILHA CONTRA A DOMINAÇÃO ALEMÃ. O LIVRO DEVE SER LANÇADO, NO BRASIL, AINDA NO INÍCIO DE ABRIL E, NA ITÁLIA, EM MAIO PRÓXIMO.
Curto, direto, sincero e objetivo. Gian Luigi Corso, 86 anos, natural de Fonzaso, Província vêneta de Belluno, é assim. Diz, por exemplo, sem meias palavras, o que pensa sobre o voto dos italianos no exterior: é contra e entende que o governo italiano está jogando dinheiro fora com custosos processos eleitorais mundo afora que em nada contribuem para melhorar o nível do atendimento às comunidades italianas que vivem nos cinco continentes. A verdadeira questão, segundo ele, está no reforço das estruturas consulares que representam todas as instâncias do governo italiano no exterior.
Ele acompanha, em detalhes, o desenrolar quotidiano da política italiana. É crítico bem informado. Mas não lhe peçam para falar sobre política ou políticos brasileiros. Desde que chegou no Brasil, em 14de janeiro de 1951, pelo menos em público cumpre à risca a sua condição de estrangeiro. Por imposição legal e por vontade própria, mantém a coerência: “Sou cidadão italiano e não opino sobre questões brasileiras”, diz ele, embora seja o marido da brasileira Marlene Laffitte Moro Corso, pai de dois filhos (Fabiano e Daniela) igualmente brasileiros, que lhe deram quatro netos – Luiza, Luca, Bruna e Gabriel, aos quais dedica suas memórias. Única licença a que se dá é o confábulo com frequência quase semanal, em sua casa, com amigos mais chegados, como o ex-ministro Euclides Scalco.
Desde que iniciou sua vida de imigrante – primeiro na Bélgica, depois no Brasil – Corso foi e é continuamente fustigado por um sonho que não conseguiu até aqui realizar: voltar a viver na Itália (que, quando jovem, ajudou a liberar pelas armas), melhor, na sua Fonzaso. Para lá já voltou diversas vezes mas sabe que sua vontade continuará apenas no sonho (a imigração é uma ruptura, repete).
Pela idade que tem, intui que terá ainda uma chance de se despedir do solo natal, de alguns amigos que ainda lhe restam e – quem sabe – girar ainda uma vez pelos lugares em que passou sua atribulada infância e juventude, sempre cheia de projetos. Isso deverá acontecer em maio próximo, nos eventos que estão sendo organizados para o lançamento de seu livro biográfico que acaba de editar – “A saga de Gian Luigi Corso – Partisano e Imigrante” – onde conta a sua história, primeiro de protagonista ativo no movimento “Partigiano” italiano durante a II Guerra Mundial, depois como valoroso alpino a serviço da pátria.
Mas sua felicidade não decorre apenas da possibilidade de rever seu torrão natal. Antes disso, seu livro, escrito em português e em italiano e fartamente ilustrado com imagens colhidas ao longo de seu caminhar, será lançado no Brasil. Seus amigos beluneses estão organizando uma festa para isso, porque sabem quanto ele lutou para deixar alguma coisa escrita de suas memórias impregnadas de valores éticos e morais. “Diz a sabedoria oriental – raciocina ele – que o homem, para considerar-se realizado, precisa ter filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Tenho filhos e netos que são a alegria minha e de Marlene, plantei muitas árvores ao longo de minha vida; agora já tenho um livro. Estou pronto.”
A obra de Corso, além dos aspectos familiares e sentimentais, constitui também um registro histórico. Se de sua família ele é hoje o único sobrevivente, dos que fizeram a guerrilha de resistência em toda a faixa norte da Itália o velho soldado é, igualmente, um dos últimos protagonistas ainda vivos, a testemunhar diversos eventos na primeira pessoa. Sua narrativa interessa a muitos, pois, e, como num quebra-cabeça, vem a somar-se aos demais depoimentos de um importante período da história italiana e da própria humanidade.
O livro tem, ao todo, 300 páginas, cerca de 90 das quais com fotos, documentos e imagens.
A primeira parte é escrita em italiano (revisão de Claudio Piacentini) e, no final, o mesmo texto é apresentado em português, em tradução livre de Marlene. Registrado no ISBN (“International Standard Book Number”), traz o selo de Sommo Editora Ltda. “Há mais de 63 anos vivo no Brasil – conta o autor – conservando sempre a minha nacionalidade”. Fato é, assim, confirmado em sua “confissão escrita” por Marlene, sua esposa: “Gianluigi, meu marido, mora no Brasil mas, na realidade, nunca ‘viveu’ aqui”.