u CURITIBA – PR – Mais de 4.500 descendentes de imigrantes trentinos são esperados sábado próximo (10.12.2005), em Curitiba, para a assinatura do termo de opção pela cidadania italiana jure sanguinis. A solenidade, prevista para ter início às 14 horas, acontecerá no auditório principal do Estação Embratel Convention Center, localizado no Shopping Estação, área central da capital do Paraná, segundo informa o presidente do Círculo Trentino de Curitiba, Ivanor Antonio Minatti, organizador do evento. A assinatura da opção abre caminho para a obtenção da cidadania italiana – chamada dupla cidadania a que têm direito todos os descendentes de imigrantes italianos.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Este será o último evento do gênero este ano, depois de similares realizados em Piraquara (Colônia Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra), Joinville, Jaraguá do Sul, Rodeio, Nova Trento, Florianópolis, Rio do Sul e Blumenau, que totalizaram perto de sete mil assinaturas. Será também o maior de todos, batendo o recorde ocorrido nos pavilhões da Proeb, em Blumenau (16.07.2005), com quase três mil documentos firmados.

Para assinar o termo de opção virão famílias do interior do Estado e, principalmente, de Santa Catarina, onde se concentra o maior contingente de descendentes de imigrantes trentinos em todo o mundo. Mas como os processos são realizados por núcleos familiares, são esperados também interessados residentes em outros Estados, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Espírito Santo, além de outros.

A realização de eventos dessa natureza atende a uma lógica: a assinatura precisa, por lei, ser realizada perante a autoridade consular. Assim, em vez de cada interessado dirigir-se ao Consulado Geral da Itália em Curitiba, é a autoridade consular que comparece ao ato da assinatura.

Um complexo sistema de informação está sendo montado pelo Círculo Trentino de Curitiba para funcionar no Estação Embratel Convention Center, escolhido por ser um local central, de fácil acesso a quem vem de fora (fica há duas quadras da estação rodoferroviária), por dispor de estrutura de estacionamento, alimentação e demais serviços necessários a grandes concentrações humanas. “A festa cívica do ‘juramento’ será, assim – observa Minatti – também uma oportunidade para turismo e compras de fim de ano para muitos”.

O JURAMENTO – Quando, no início do século passado, os habitantes das áreas italianas pertencentes ao antigo império Áustro-Húngaro foram convocados a realizar a opção de cidadania (Tratado de San German), quem havia migrado para outros países como o Brasil sequer ficou sabendo da exigência. Em função disso, quem não se declarou nem austríaco, nem italiano, estava impossibilitado de ver reconhecida a cidadania jure sanguinis. Uma lei aprovada pelo Parlamento Italiano permitiu que os descendentes daqueles imigrantes pudessem, em nome de seus “nonnos” ou “bisnonnos” (não há limite de geração), realizar a declaração – ou ‘juramento’, conforme o termo em voga. O documento a ser firmado neste sábado é, assim, a primeira condição para que futuramente venha a ser reconhecida a cidadania italiana.

De cada núcleo familiar é formado um processo (onde constam dados essenciais, como local e data de nascimento do ancestral que imigrou) que é remetido para Roma, onde uma comissão especial analisa se os pretendentes pertencem, de fato, ao ramo étnico itálico. O mesmo procedimento é exigido para todos os que habitam áreas ao Norte e Nordeste da Itália, uma vez integrantes do território italiano.

A lei que estabeleceu este procedimento inicialmente deu prazo para que as declarações fossem assinadas até meados deste mês de dezembro. O Parlamento italiano, entretanto, através de suas comissões técnicas, já aprovou a retirada do texto da lei esta exigência. Assim, descendentes de imigrantes um dia habitantes de áreas pertencentes ao antigo império Austro-Húngaro poderão, a qualquer tempo, realizar a opção para efeito de obtenção da cidadania jure sanguinis.

Segundo cálculos realizados pela Federação dos Círculos Trentinos no Brasil, hoje vivem em território brasileiro pelo menos três milhões de descendentes de imigrantes oriundos das Províncias Autônoma do Trento e Alto Ádige. Na verdade, segundo Minatti que é também assesor da Federação (presidida por Iracema Moser Cani) esse é um número subestimado. “E é necessário considerar que esse direito têm não apenas trentinos, mas também descendentes de imigrantes originários de algumas áreas do Vêneto e da Província do Friuli-Venezia Giulia também, entre outras”.

Segundo Minatti, a maioria que busca o reconhecimento de sua identidade trentina ou italiana o faz apenas por uma questão sentimental ou cultural. “É como se cada trentino tivesse agora o reconhecimento formal de sua procedência, embora se sinta perfeitamente integrado no Brasil, país que acolheu milhares de imigrantes de todo o mundo”. O reconhecimento da cidadania italiana, entretanto, permite a obtenção do passaporte europeu, com o qual sonham milhares de jovens interessados em alargar fronteiras, principalmente culturais e comerciais. Em busca desse documento, uma fila de mais de 80 mil pessoas aguardam o pronunciamento do Consulado Geral da Itália em Curitiba que, desde outubro do ano passado, fechou as portas ao recebimento de novos pedidos alegando falta de recursos e de pessoal. No Brasil, segundo alguns dados disponíveis, são pouco mais de 300 mil os que conseguiram inscrição perante os consulados, enquanto a comunidade ítalo-brasileira é calculada em mais de 25 milhões de “oriundi”.