Com o fechamento dos teatros, museus e cinemas já antes do comércio e da indústria, foram paralisadas todas as atividades culturais e do mundo do espetáculo na Itália, gerando uma crise sem precedentes no setor. Somente o Teatro Alla Scala, de Milão, perde, a cada semana, um milhão de euros, segundo a análise do jornalista Paolo Meneghini – um especialista no setor de música clássica.
Com estreitas e antigas ligações com o Brasil, em especial com a comunidade ítalo-brasileira do centro-sul, Meneghini faz, em tele-entrevista concedida hoje a Insieme, uma análise partindo da situação atual de completo isolamento para questionar como será o retorno.
Tendo em vista que as pessoas que vão ao teatro pertencem, em sua maioria, às faixas mais avançadas na idade, os horizontes são incertos também quanto ao retorno deles aos teatros, mesmo que – como já se conjectura diante do inevitável isolamento social que continuará por um tempo após cessada a pandemia – tomem assento banco sim, banco não, para manter a distância entre as pessoas. Isso cortaria pela metade a capacidade de faturamento desses teatros.
O problema, grave para uma Itália que tem mais de 60 teatros de ópera e cerca de 30 orquestras, entre líricas e sinfônicas, algumas financiadas em parte pelo Estado, na verdade envolve o mundo inteiro, observa o jornalista. Ele cita que o “Cirque du Soleil” – uma das maiores companhias de espetáculo do planeta – mandou para casa 4.600 pessoas e “está correndo o risco de falência total”, diante dos cancelamentos de inteiras turnês pelo mundo.
Além do fechamento das atividades sem que se saiba ainda quando poderão retornar, organizações culturais como o Teatro Arena de Verona estão às voltas com a inevitável negociação dos valores que há tinham sido pagos pelos interessados na compra antecipada de bilhetes para a temporada deste ano. “E isto não é apenas uma questão da indústria do espetáculo”, analisa Maneghini: com o cancelamento de espetáculos, cancelam-se também reservas em hotéis, restaurantes, e por aí a fora.
Em sua entrevista, o jornalista observa o número de mortos vítimas da pandemia que continua a impressionar, incluindo os 63 médicos italianos até a data de hoje, em contraste com cerca de 15 mil multas aplicadas nas últimas duas semanas pelas forças da ordem sobre pessoas que ainda insistem em romper o isolamento, expondo-se à contaminação.
Ele também analisa a situação política da Comunidade Europeia, onde alguns países integrantes tiveram comportamento inadequado perante a pandemia, e termina por conjecturar inclusive sobre o futuro da própria CE, em torno da qual viceja o movimento pela criação dos Estados Unidos da Europa paralelamente à outra visão extrema, que poderia levar países como a Espanha e a própria França a seguirem o exemplo da Inglaterra.