u CURITIBA – PR – Sob a regência de Alessandro Sangiorgi e com um elenco de 16 solistas, entre eles alguns italianos, a ópera “Dom Giovanni” (Mozart), estreou quinta-feira (17.08.2006) no grande auditório do Teatro Guairá para uma temporada que inclui cinco apresentações até domingo. Com direção cênica de Francisco Moura, o espetáculo agradou o público que, por diversas vezes, aplaudiu a performance dos intérpretes. O espetáculo, montado em parceria entre o Centro
Os solistas, dividos entre cantores italianos e brasileiros, são: Don Giovanni: Douglas Hann (BR) Paolo Drigo (IT); Commendatore:
Don Giovanni – O material difundido pela produção do espetáculo explica que “Don Giovanni” narra as aventuras amorosas de um homem da nobreza que pauta sua vida nos divertidos – e algumas vezes trágicos – jogos da sedução. Ele se confessa um eterno apaixonado, mas nunca pela mesma mulher. A ação tem início numa noite quando ele tenta seduzir D. Anna, noiva de D. Otávio. O pai da jovem, o Comendador, surpreende o casal, obriga o galanteador a um duelo de espadas e acaba morrendo. A vida, enfim, continua, especialmente para Don Giovanni que se envolve em novas conquistas, mas tem em seu encalço uma ex-amante que insiste em reatar o namoro. Para o diretor de cena, Francisco Moura, é marcante a dedicação e os sentimentos que ela nutre por Don Giovanni. Este, no entanto, tem olhos para uma bela jovem do povo, Zerlina, que está para se casar com Masetto.
A obra de Mozart foi escrita em 1787, com libreto de Lorenzo da Ponte. Tem um tom surreal – ou alegórico – em seu final, quando uma estátua erigida no túmulo do Comendador, surge numa festa. O brasileiro Douglas Hann e o italiano Paolo Drigo vivem o personagem-título. O papel do Comendador é defendido por
Uma ópera humanista – Uma ópera que fala de amor e da inconstância humana, com suas riquezas e peculiaridades. Em poucas palavras é sob essa ótica que o diretor de cena Francisco Moura vê “Don Giovanni” Para o diretor Francisco Moura, esta é uma obra atual pois coloca em cena um dos dois mitos da civilização moderna. O outro é Fausto. “Então a gente pode falar muita coisa, tem o que dizer. Esse é o ponto de partida do meu trabalho”.
“Ter o que dizer” é o que move o diretor. “Só escolho um texto, só monto um espetáculo, só aceito um convite quando tenho alguma coisa a dizer com isso. Às vezes leio textos lindíssimos, mas não tenho interesse em montar porque não tenho nada para dizer com eles, apesar de serem maravilhosos”, afirma.
“Don Giovanni” é significativo por representar uma ruptura na história da ópera. Ela configura os musicais que se conhece hoje em dia, e toda vez que Moura a lê ou a ouve descobre novas possibilidades de “dizer alguma coisa”. Mozart, um engajado na filosofia do Iluminismo, transforma seu personagem central num ícone do mundo contemporâneo.
Ao contrário daquilo que se convencionou em retratar Don Giovanni como um homem egoísta, desumano e mulherengo, que carrega nas costas um assassinato, para o diretor ele é um ser com suas múltiplas facetas. Nem bom, nem mau: um homem. Esse olhar estende-se também aos demais personagens, isentos de julgamentos morais.
Por essa razão a última cena da ópera foi suprimida. Embora a música seja “lindíssima” o trecho final é “extremamente moralista”, com o volúvel amante sendo levado ao inferno, e a mulher que mais o amou, encerrando-se num convento, entre outros alinhavos. “Não tem porquê esse desfecho moralista”, entende Moura. “Os personagens são diferentes uns dos outros”, explica. Cada qual traz consigo sua crença e sua verdade. Sem castigos.