u CURITIBA – PR – A “Società Giuseppe Garibaldi”, de Curitiba, festeja nesta sexta-feira (04.08.06) o 123º aniversário de sua fundação com um jantar dançante em sua sede social (Palácio Garibaldi, no Largo da Ordem), ao som de Beppi International Band Lider. Durante o evento a atual diretoria, presidida por Celso Luiz Gusso, prestará homenagem ao presidente de honra da sociedade, Wladimir Trombini. Todos os assolciados terão ingresso livre e aos não associados serão cobrados R$ 40,00 por pessoa. A festa começa às 20 horas.

A homenagem a Trombini é um “ato de gratidão” pelo seu trabalho à frenta do centenário palácio, construído pelo trabalho dativo dos primeiros imigrantes italianos em Curitiba, sob o nome de “Società di Mutuo Socorso”. Depois da retomada do prédio que durante mais de um decênio passou às mãos do governo do Estado, na época do Estado Novo e Segunda Grande Guerra, Trombini comandou as obras de restauração do edifício, que assim retomou suas características originais.

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O texto a seguir, da autoria do jornalista Desidério Peron,  foi extraído da edição número 54 da Revista Insieme, quando a Sociedade Garibaldi completou 120 anos:

Serviu a muitos senhores, é verdade. Mas a contragosto e sem perder sua identidade. Hoje, tanto tempo depois, tem orgulho de sua história. Viu a cidade crescendo a seu redor até perder-se no horizonte que continua a observar impassível, ali do Alto São Francisco. Os primeiros arranha-céus – e todos os outros, depois, nenhum lhe fez sombra. Pelo contrário, guarda boas memórias daquelas tardes de piano em concerto, da algazarra da meninada aprendendo italiano, la casa, il zoccolo, la mamma… das bodas ali realizadas com as juras de sempre. Também recorda os primeiros tempos. Difíceis para todos, saudade da Itália, mas muito mais dos parentes e amigos que ficaram. Ou sumiram por outros caminhos. Tempo em que esse teto e as paredes pareciam uma segunda casa, todos reunidos apesar do dialeto de cada um, primeiro para construí-la no tempo livre ou nos fins de semana, depois no lazer das horas folgadas. Para matar saudade, ensinar, comemorar. Para rezar, também. Para os atos necessários de socorro e  solidariedade que, afinal, inspiraram seus passos formalizados naquele 1º de julho de 1883, com a constituição da sociedade: Società Giuseppe Garibaldi di Beneficenza fra gli Italiani Dimoranti nel Paraná. Tijolo sobre tijolo, cada imigrante fez a sua parte nesse sonho coletivo. Ernesto Guaita assinou o projeto; Giovanni de Mio executou a fachada. A maioria contribuiu anonimamente por longos anos. Nem a foto da festa da cumeeira, imortalizada na porcelana à sua entrada, traz a identificação de tantos construtores que deram a obra por encerrada em 1904. Não a escadaria, porém, que ficará pronta somente em 1918. Na lembrança desse passado comum à cidade à qual se integrara sem restrições ou resguardos, entra o I Congresso Operário, que abrigou em 1906, contribuindo, assim, aos atos que dão origem à Federação Operária Paranaense. Tudo ia bem enquanto a Itália distante era apenas uma lembrança bonita na cabeça de todos, já agradecidos pela sorte aqui encontrada. Quando a velha Bota passou a fazer parte do Eixo, na Segunda Guerra, entretanto, os horizontes se turvaram. Também no Alto São Francisco. Literalmente expropriada,  a sentença de morte da associação foi assinada em 20 de março de 1942, pelo chefe da Delegacia de Ordem Política e Social (ver página seguinte). Primeiramente entregue à Liga de Defesa Nacional, Centro de Letras do Paraná, Centro de Cultura Feminino e Academia Paranaense de Letras, a Garibaldi serviu depois ao governo do Estado e foi sede do Tribunal de Justiça – justiça que, provocada, somente mais de 20 anos depois manda devolver o prédio aos legítimos donos. Em 1965. Mas já não era a mesma coisa, não tinha o mesmo charme, nem conseguia mais reunir os sócios de outrora, todos em debandada. Seu madeirame nobre mal cuidado já era a festa aos cupins. Não tinha os lustres, móveis, nem o piano, atirado que fora pela janela, numa ofensa simbólica também ao gênio italiano. Tombado ao patrimônio histórico em 1987, o edifício exigia cuidados. Que não vinham, nem do poder público, nem de seu quadro social, literalmente desmingüilido e sem identidade alguma – exceto o nome que ficou – com a comunidade italiana. A sorte do antigo palácio começou a mudar em1991, com a eleição do empresário Wladimir Olympio Trombini à frente de uma diretoria disposta a restaurá-lo. Esta encontrou pré-disposição não menor do então prefeito Rafael Greca de Macedo, que honrou sua promessa de apoiar a obra, executada com esmero e dedicação. Idêntica àquela da construção original. Novamente, assim quis o destino, os trabalhos foram realizados numa espécie de mutirão. Trombini, que ainda preside a sociedade, entregou aos sócios e à comunidade de Curitiba o palácio restaurado e a  Sociedade Giuseppe Garibaldi no dia 12 de dezembro de 1996. (DePeron)