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Capa da edição de outubro da Revista Insieme.

CURITIBA-PR – São as mais desencontradas as reações colhidas sobre o inesperado novo adiamento das eleições para os Comites – Comitati degli Italiani all’Estero, por parte do governo italiano. O pleito já estava em curso, com o registro de listas eleitorais já consolidado e faltando apenas oito dias para o encerramento do prazo final (dia 19) para a inscrição dos eleitores que, a partir de então, passariam a receber o material eleitoral para expressar seu voto – processo que seria encerrado no dia 19 de dezembro.

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O novo adiamento – o quarto ou quinto já ocorrido desde 2009, quando venceram os mandatos dos atuais conselheiros – foi decidido na reunião do Conselho de Ministros no final do dia 10, de tal sorte que apenas na manhã desta terça-feira a informação circulou pelos quatro continentes. O motivo do adiamento é claro: apenas 2% dos eleitores inscritos no Aire – o registro oficial dos eleitores italianos que residem no exterior – haviam até então demonstrado interesse no voto. No Brasil, segundo algumas informações não confirmadas, esse percentual chegaria a 3%.

“Palhaçada”, “morte aos Comites”, “os italianos no exterior nada contam”, foram algumas das mais frequentes reações – todas cheias de supresa – ouvidas pela redação da Revista Insieme, ao lado de algumas outras saudando como positivo o novo prazo concedido – ao que se diz até aqui – para a “inscrição” dos eleitores. Os consulados todos, empenhados no processo eleitoral, também foram pegos de surpresa e, pior que isso: não existem ainda informações seguras sobre como será conduzido o processo daqui para frente.

É certo que em diversos Comites (no total são quase 130 em todo o mundo) não houve a apresentação de listas. O adiamento do processo não faria sentido sem que também fossem reabertos os prazos para a apresentação de listas – passaram a advogar lideranças ao redor do mundo. O argumento para a realização apressada das eleições tinha como base a necessidade de gastar a verba destinada ao pleito ainda no decorrer deste ano, em cumprimento ao orçamento estabelecido. Na Itália discute-se inclusive a possibilidade de realização de eleições políticas durante a próxima primavera. Se isso acontecer, adeus eleição dos Comites outra vez, sugeriu o jornal “l’Italiano”, linha parecida adotada pelo informativo “Italia chiama Italia”.

Onde o processo eleitoral estava em curso, como no Brasil, onde se formaram listas em todas as circunscrições, os prejuízos já eram contabilizados ainda na parte da manhã. Folhetos impressos, reuniões marcadas, viagens, campanha, sites na internet – tudo isto fica em compasso de espera agora.

O deputado Fabio Porta, da base governista, dava logo no começo da tarde sua opinião sobre o fato, dizendo que, “desde o início”, entendia que “o governo deveria desde o inicio ter determinado este maior prazo para a inscrição e não somente agora, no meio da corrida e no meio da eleição”.

 Mesmo assim – disse Fabio – “posso considerar uma postura positiva aquela de favorecer mais ainda, através de um período mais longo, a participação ao voto através da inscrição às listas eleitorais, considerando as dificuldades e as novidades do novo sistema”.

“Agora – continua Fábio Porta – para que tudo isto não seja uma ‘pagliacciata’, seria sério não abrir novamente o prazo pela apresentação de novas listas. Em todos os casos, será o governo a definir as modalidades desta re-abertura dos prazos”.

Para Franco Perrotta, presidente do Comites do Rio de Janeiro, “querem cada vez mais demonstrar que não contamos”. Ele disse que até aqui, apenas cerca de 1.500 pessoas, de um universo de 40 mil, demonstraram interesse em votar. Perrotta não se recandidatou e no RJ apenas uma chapa foi inscrita. Diz: “é muito cedo para dar opinião, até porque como a data foi adiada, outras listas eventualmente poderiam participar ou até as que foram apresentadas poderiam sofrer mudanças. Pode ser que estas listas podem  ser alteradas. Vamos aguardar”.

Segundo Perrotta, uma reunião estava já marcada para o dia 21 em Brasília, na sede da Embaixada. A maior parte dos atuais presidentes não demonstrara intenção de participar, mas agora, com o adiamento das eleições, segundo Insieme apurou, houve mudança nessa decisão e todos deverão participar, incluindo os conselheiros do Brasil no CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all’Estero e dos cônsules.

Um  desses conselheiros é Walter Petruzziello e, segundo ele, “o adiamento das eleições dos Comites para o dia 18 de abril de 2015, demonstra, mais uma vez, o que o Governo italiano pensa em relação aos italianos no exterior e o acaso que norteia suas decisões”.

“Não – segundo Petruzziello – que o adiamento em si seja maléfico, mas pela forma como foi feito. Sempre defendi a tese de que as eleições deveriam ser convocadas até 31 de dezembro, para que fossem realizadas em março 2015, dando prazo suficiente para todos pudessem trabalhar na elaboração das candidaturas e na inscrição para votar (outro ponto colocado no Decreto das eleições, a chamada inversão de opção ou seja só vota quem  manifestar  esse desejo). Pois bem, em nenhum momento minha sugestão foi avaliada ou levada em consideração. Diante dos prazos estabelecidos todos os candidatos ( ao redor do mundo) correram como loucos para buscarem as assinaturas necessárias para registro das chapas, alguns  nem conseguiram assinaturas suficientes e ficaram de fora do processo e,  em alguns países nem sequer uma única lista foi apresentada.

Agora, quando se esgota o prazo para a inscrição de chapas, quando estamos a poucos dias do término de fazer a opção para votar, o Governo, emite um novo Decreto e diz que as eleições estão adiadas para abril de 2015. Motivo? O baixo número (2%) de pedidos de inscrição para votar.

Ora, isso já se sabia desde o primeiro momento, pois o prazo que fora dado não permitia nada mais do que isso”.

O conselheiro Petruzziello pergunta: “Então, esse adiamento era necessário? Posso até achar que sim, mas o Governo corrigiu um erro cometendo outro. O que deixa ainda mais perplexo é o fato de não poder se inscrever nenhuma nova chapa ou tocar nas já inscritas. Ora, será que isso é legal? A lei não fixa os prazos para inscrição das chapas? Não é 60 dias antes das eleições? Com a palavra o Governo e os Parlamentares italianos”.
Walter, que encabeça uma chapa inscrita no Consulado de Curitiba (inicialmente tinha a intenção de ser única) conclui dizendo que “tudo isso poderia ter sido evitado se o governo italiano tivesse um pouco mais de consideração pelos italianos no exterior, mas ai, talvez seja querer demais”.

Cida Borghetti, vice-governadora eleita do Paraná e conselheira do Comites PR/SC que encabeça chapa de oposição a Petruzziello vê a questão da seguinte forma: “Esse adiamento vem da avaliação do Governo Italiano de que há uma baixa adesão no número de inscritos para votar. Um fenômeno que ocorre não somente aqui no Paraná e em Santa Catarina, mas no mundo inteiro. O Governo espera agora que os Consulados consigam ampliar a divulgação da eleição atraindo mais italianos e ítalo-brasileiros a se inscreverem para votar. Enquanto isso, continuaremos o trabalho voluntário dos candidatos e apoiadores do Movimento Passione Italia que acreditam que podemos melhorar as relações e ampliar as ações em benefício dos nossos irmãos italianos e ítalo-brasileiros”.

Pela manhã, houve quem falasse até em renúncia de todas as chapas inscritas. Mas, segundo Salvador Scalia, outro presidente de Comites que decidiu não concorrer –  dificilmente farão esse protesto, acho que continuam”, pois “os Comites nunca protestaram pelo adiamento das eleições, as listas seguirão o exemplar exemplo dos Comites”.

O advogado Luis Molossi, coordenador do Maie – Movimento Associativo Italiani all’Estero no Brasil e concorrente às eleições, remete sua posição à pergunta que consta da capa da edição de outubro da Revista Insieme: “Considerando que até o momento, faltando 9 dias para o fim das inscrições e os números dão conta de pouco mais de 60 mil em todo o mundo, o que é pouco mais de 2% dos votantes, não seria surpresa se tivéssemos apenas 3% de votantes, o que é perto do “zero” que eu previa há alguns meses atrás em outra entrevista. Então, mesmo com todo o esforço que “nós” estamos fazendo, continua a pergunta que está na capa da Insieme 190: “Quem leva a sério?” O risco de comprometer o voto – nas palavras do MInistro Mário Giro – me parece foi levado em conta pelos responsáveis da área do governo que acharam prudente o adiamento (“Rimane ferma la volontà del governo di informare tutti gli aventi diritto di voto all’estero” sulle nuove scadenze e le modalità di iscrizione all’elenco degli elettori”).

Molossi aduz, ainda: “na minha opinião, o adiamento pela metade não é correto. Muitas listas não tiveram tempo de reunir as assinaturas e ficaram de fora do processo. Por que não adiar tudo? São Paulo, por exemplo, o que nos entristeceu muito”.

Renúncia dos candidatos inscritos nas atuais listas? “Se tiver um movimento neste sentido eu apoio. Todos renunciam para zerar tudo. É mais democrático. O adiamento só das eleições é só 50% democrático. E insisto que a família agradece pela minha presença nas férias de Natal e Capodano. As minhas únicas e semanas no ano. Isso é pouco?”

A deputada Renata Bueno, já no fim da tarde, dizia: “Inutil dizer que teria sido sábio fixar desde o começo os novos prazos estabelecidos para as eleições. Entretanto, considero a decisão de adiar as eleições dos Comites tomada ontem pelo Conselho de Ministros uma ótima notícia. Trata-se, de fato, de uma oportunidade para continuar a trabalhar duramente para que o maior número de cidadãos italianos se inscreva para poder votar. Contribuirei, portanto, para fazer todo o possível no sentido de aproveitar ao máximo esses quatro meses que, por sorte, o governo achou ser indispensável para incentivar informações e ir além do limite dos 2% dos inscritos”.

Para Renata,  “reabrir também os prazos para a apresentação de listas seria interessante mas, certamente, considerando tudo o que foi feito até aqui, isso representaria uma complicação”.

Em Belo Horizonte, a presidente do Comites e cabeça de lista única às próximas eleições, Silvia Alciati também manifestou seu desaponto com o adiamento das eleições. ”Que chato!” – disse ela, ao considerar: “corremos tanto pra morrer na praia? Desde o começo eu achei que eles não iriam fazer as eleições este ano, mas só o ano que vem…. aí fizeram agente correr como loucos …  para conseguir as assinaturas, montar a lista às pressas…. conseguir candidatos…. è agora dá nisso?”

Andrea Lanzi, quel encabeça a cappa unica do Rio de Janeiro, diz: ”Com certeza adiar, em cima da hora, não é muito respeitoso relativamente àqueles que estavam trabalhando para garantir a maior participação possível ao voto. Uma solução poderia ser marcar uma outra data somente para aquelas circunscrições consulares onde nenhuma chapa tinha conseguido se apresentar.”

Em tom quasi triunfalista, o senador Fausto Longo postou em seu FaceBook: “Na reunião do Conselho de Ministros de ontem (dia 10 de novembro) foi firmado o decreto de adiamento das inscrições e respectivas eleições para o renovaçao dos Com.it.es, a Comitato degli Italiani all’Estero. O novo Ministro de Relaçoes Exeriores, Paolo Gentiloni, acatou a sugestao do CQIE – Comitato delle Questione degli Italiani all’Estero e sugeriu, para uma melhor e transparente organizaçao das listas e incriçoes, o adiamento das datas, fixando 18 de março o limite para inscrições e 17 de abril o processo eleitoral. Os senadores eleitos nas circunscrições que se demonstraram sensiveis ao problema, desde o inicio, apoiaram totalmente a resolução. Vence a democracia!”