“Trazer a Itália para mais próximo da comunidade” é um dos objetivos a que se propõe a chapa formada sob o escudo do ‘Comitato Tricolore per gli Italiani nel Mondo’, uma das quatro que disputam a eleição para a renovação do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ de São Paulo – uma das também quatro maiores circunscrições consulares italianas de todo o mundo. “’Assistere’, em italiano, quer dizer assistir, dar atenção, prestar atendimento” e esta é outra meta importante, diz a tradutora pública Giuliana Patriarca, designada pela chapa para a vídeo-entrevista dentro da série que a revista Insieme está publicando com todos os grupos em disputa.
Nessa assistência, ela vislumbra um “envolvimento de verdade” da comunidade através de uma comunicação precisa e efetiva a todos os cidadãos, que devem ser estimulados a aprender e se aprofundar na língua (e cultura) italiana – segundo Giuliana, “a quarta mais estudada no mundo”. “O Comites, como um órgão que está acima das associações, tem a obrigação de ajudar a todos” e “incentivar na oferta de mais cursos de italiano”. Afinal, “não faz sentido ter um passaporte e não falar o italiano”, diz a candidata.
Para Giuliana, a Itália oferece muitos cursos, graduações, pós-graduações e oportunidades em diversos setores que “sequer chegam ao conhecimento das pessoas”, e o Comites deveria estar na liderança dessas informações. Ela observa que tem experiência de 21 anos na área e decidiu “ajudar as pessoas através do Comites” que, em sua opinião, “deixa muito a desejar”. “Tem gente que está lá há muito tempo, a renovação é salutar”, diz ela.
A eleição para a renovação dos Comites em todo o mundo está em processo através do voto por correspondência, e serão concluídas no dia 3 de dezembro próximo. Entretanto, somente poderão votar por correspondência os cidadãos que se inscreverem especificamente para estas eleições junto ao consulado até quarta-feira próxima (dia 03/11).
Para Giuliana Patriarca, que de formação é médica veterinária, os Comites devem representar “sem discriminação” tanto os cidadãos já reconhecidos perante a lei italiana quanto a grande maioria de ítalo-descendentes que até aqui não conseguiu ou não solicitou ainda o reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue. Para justificar, ela vale-se de um dito que aprendeu do pai: ‘Gatto che nasce nel forno non è biscotto’ (gato que nasce em forno não é biscoito).
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Embora reconheça os “avanços” dos últimos tempos, a tradutora pública critica a atuação do consular (“existe muita reclamação contra o consulado e muita coisa pode ser melhorada”), e entende que o Comites precisa exercer essa função de verificar como anda o atendimento aos cidadãos. “A gente sabe que os Comites têm poucos poderes, mas um mosquitinho dentro do quarto faz terror”, disse ela, completando: “Se a gente ficar em cima, consegue alguma melhoria no atendimento consular, que melhorou, mas pode melhorar ainda e muito”.
Giuliana, que informa trabalhar também com cidadania, critica a omissão das instâncias representativas da comunidade ítalo-brasileira (Comites, CGIE e Parlamentares eleitos na América do Sul) na questão da ressuscitada tese da Grande Naturalização brasileira, pela advocacia do Estado italiano, como forma obstativa ao reconhecimento da cidadania italiana ‘iure sanguinis’ aos que chegaram no Brasil antes de 1889.
Ela defende a intervenção dos Comites dentro de uma ação articulada. “Tem que começar a se mexer, não tem que esperar acontecer”, disse ela, referindo-se às orientações já emanadas pelos Ministérios do Interior e das Relações internacionais às Prefeituras italianas e Consulados italianos no Brasil. Para Giuliana Patriarca, o obstrucionismo consular visando dificultar o reconhecimento da cidadania de ítalo-brasileiros existe e não apenas na fila da cidadania. Ela exemplifica com a exigência da prova, pelo cidadão, da transcrição da certidão de nascimento no município italiano – um ato que é dever da administração pública – exigência que está em vigor desde o ano passado.
Entre outros assuntos, a candidata explica como a chapa está tentando vencer as amarras impostas pela chamada “inversão de opção”. Ela mesma está fazendo o “corpo a corpo” e recolhendo as fichas de inscrição anteriormente distribuídas para garantir o maior número possível de cadastramento de eleitores. Por fim, ela entende que seria “extremamente importante, principalmente para os nossos idosos”, existir uma urna nas sedes consulares onde aqueles que não solicitaram a remessa do envelope eleitoral pudessem votar presencialmente.