“Quiseram a bicicleta, agora tem que pedalar”, diz a professora Lugia Sgobaro sobre a fila dos passaportes. (Foto / Arquivo Revista Insieme)

“Mas a função dos consulados não é sobretudo atender os seus cidadãos no exterior?”


 

Se na retomada das convocações de “enfileirados da cidadania” reina temporada de relativa paz para o Consulado Geral da Itália em Curitiba, o mesmo não está acontecendo na outra ponta – a fila dos passaportes: É cada vez maior o volume de reclamações de cidadãos italianos inconformados com a longa espera de um ano para a obtenção/renovação do documento de viagem.

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“Como resolver a questão? A quem se dirigir? À Embaixada italiana, ao Ministério das Relações Exteriores?”, perguntou esta tarde em sua página no Facebook a professora universitária Lucia Sgobaro, nascida em território italiano, ao descobrir que poderá estar impedida de viajar este ano a seu país – como faz frequentemente – porque no “agendamento para a renovação do passaporte apareceu-me como possibilidade [a data de] fevereiro de 2021”. “Então este ano não poderei ter o meu documento?”, pergunta ela, acrescentando: “Mas a função dos consulados não é sobretudo atender os seus cidadãos no exterior?”

Escrevendo em italiano e também em português, Sgobaro explica que nesses dias vivi uma “experiência inédita”. E conta que há muitos anos reside no Brasil, tendo inclusive obtido a cidadania brasileira “sem perder a italiana”, o que aceitou com prazer. Diz que “nunca teve algum problema com o passaporte, nem brasileiro (“salvo restrições para os naturalizados”) e muito menos com o passaporte italiano, “que é o meu documento principal, considerando os vínculos familiares e as frequentes viagens para a Itália.”

Este ano, entretanto – continua a professora em sua narrativa – “surpreendeu-me uma novidade, para dizer o mínimo, inusitada”. Ela informa que interpelou o consulado de São Paulo, onde “me disseram que também eles têm muitos pedidos, mas estabeleceram prioridades, organizando duas listas: uma dos italianos natos, outra dos italianos por direito de sangue”. Para a professora, a decisão de SP “parece justa e também mais rápida”, enquanto aqui em Curitiba “decidiram fazer lista única e, com poucos empregados, existe de verdade uma fila muito longa de espera para se ter aquilo que nos pertence por direito”.

Nos debates que se seguem após seu post, Sgobaro argumenta que “quando um país se propõe de dar a cidadania às pessoas, ele também tem que oferecer um serviço digno e não podem vir com a desculpa que tem muita gente! Quiseram a bicicleta (mais por motivos políticos que por real interesse em relação aos descendentes de emigrantes!) agora têm que pedalar decentemente!”.

Nos mesmos canais da Internet, o inconformismo de Sgobaro contrasta com a felicidade de enfileirados que, passado o carnaval e retiradas enfim as exigências do novo ‘vademecum’ (roteiro da cidadania), começaram a comparecer ontem (02/03) cedo para a apresentação dos documentos. O internauta Luiz Fernando Romão descreve como tranquilo e rápido o atendimento consular: “Ontem estive no consulado entregando a documentação. Tinha uma grande fila esperando, liberarem a entrada depois das 14 horas. Subimos, e é entregue um papel explicando como devem ser colocados os documentos tudo dentro de um saco plástico que eles dão. Realizei o pagamento diretamente no consulado por um cartão de debito. Tudo muito tranquilo”. Ele acrescenta, como orientação aos demais, uma observação: “desligar o celular ao entrar e não é permitido entrar acompanhantes!”

Na parte da manhã, segundo Caroline Pugin, era assim: “Chegamos às 09h37min. Deixamos os celulares no guarda-volumes. O simpático da entrada nos deu um papel e pediu que organizássemos a documentação de acordo com as instruções de tal papel e deixasse em sua mesa. Era pra colocar por primeiro os modelos 7 e 8, a árvore genealógica, seguida de todas as certidões e traduções apostiladas. Não levou nem 5 minutos, uma moça saiu lá de dentro, pegou os documentos da mesa dele, conferiu e nos chamou no guichê 2 (fomos atendidos pela Cassiana). Ali ela perguntou sobre o pagamento e comprovante de residência. O pagamento foi feito no débito, sem maiores problemas. Ela pediu pra aguardar um momento.Uns 5 minutos depois, nos chamou de novo e nos entregou o modelo 7 preenchido no final com a data de recebimento, número de protocolo, carimbo do consulado e uma etiqueta com os dados do pagamento (número do registro, data, valor em euro e em reais) com a assinatura da atendente”.

Segundo Caroline, “não ficamos nem 20 minutos ali. Foi muito rápido. Não havia ninguém antes de nós pra cidadania mas quando saímos havia um rapaz chegando. Tinha umas 10 pessoas sentadas (provavelmente para fazer o passaporte ou tratar de outros assuntos). Achávamos que passaríamos a manhã toda mas não, foi muito tranquilo. Agora é esperar”.