“É muito bom para a Itália e para os italianos ter um governo político, eleito pela maioria do povo e que faça, como espero, boas coisas para os italianos e também e sobretudo para os italianos no exterior”. Assim reagiu no início desta noite o senador Ricardo Merlo, eleito pela América do Sul, ao comentar o anúncio do nascimento de um novo governo italiano, 88 dias após a realização das eleições parlamentares. Também o deputado Luis Roberto Lorenzato saudou o fato dizendo que “começou o governo da mudança; viva a nossa Itália e nós, os italianos!”

O novo governo será presidido pelo advogado Giuseppe Conte, que se auto-definira o “advogado dos italianos” mas que, há quatro dias, havia desistido em função do veto imposto pelo presidente Sergio Mattarella ao nome do economista eurocético Paolo Savona, gora remanejado para outra pasta e em cujo lugar entra o também professor de Economia, Giovanni Tria.

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Quando tudo já se encaminhava para a formação temporária de um governo presidido por Carlo Cottarelli, e já se falava em novas eleições em outubro próximo ou, mesmo, já no final de julho, a negociação entre as duas formações vitoriosas nas últimas eleições – Lega, sob a liderança de Matteo Salvini, e Movimento 5 Stelle, sob o comando de Luigi Di Maio – foi retomada diante da proposta deste último de deslocar Savona para outro ministério, indicando para seu posto alguém sem os vetos de Mattarella.

Em nome de um governo com o perfil político e não técnico – uma meta desde o início buscada por ambos -, nasceu o entendimento após momentos de tensão em que até o “impeachment” de Mattarella fora sugerido. A nova equipe prestará juramento já nesta sexta-feira, às 16 horas (hora italiana) mas, segundo se pode presumir dos fatos, não terá o voto de confiança de nenhum outro partido italiano, excetuando-se uma posição mais favorável de “Fratelli d’Italia”, que anuncia abster-se.

Apesar da mudança, o apoio do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ será mantido, disse Merlo que afirmou conhecer o novo ministro das Relações Exteriores, Enzo Moavero Milanesi. Com isso, a situação do novo governo fica um pouco mais confortável, principalmente no Senado, onde a margem majoritária era muito estreita.

Se valeu esperar tanto tempo – o maior da história republicana italiana – para chegar a um governo político? O fundador e presidente do Maie não entra no mérito, mas observa que “perdemos tempo… isso poderia ter sido feito antes”. Nas redes sociais, o senador ítalo-argentino fez circular uma foto em que é cumprimentado por Giuseppe Conte, encimada pela inscrição: “Aconteceu, o governo amarelo-verde está por nascer, Giuseppe Conti jurará sexta-feira, às 16 horas. Os votos são que o Governo Conte se preocupe com os italianos no mundo e com os temas que mais perto interessam a nossos concidadãos. O Maie estará ali para lembrar dos compromissos colocados claramente no contrato de governo”.

Merlo e os augúrios em favor dos italianos no exterior (reprodução).

Por sua vez, Lorenzato (Lega) fez questão de acentuar que “uma Itália, cuja soberania emana do povo, elegeu esses parlamentares na Península e no Exterior. Assim, prevaleceu a vontade popular de uma mudança. A velha política passa, pois a nova chegou!”.  “Iremos mudar – acrescentou Lorenzato –  a forma de como a comunidade italiana sempre foi apresentada: sempre pedindo algo; chegou a hora de se conhecer e cooperar”.

O deputado também eleito na América do Sul e residente no interior de São Paulo, aproveitou para externar “nosso agradecimento ao senador Luiz Osvaldo Pastore (NR: candidato ao Senado nas últimas eleições e ex-senador do Brasil pelo Espírito Santo) pelo imenso apoio e participação nesse momento histórico da Itália”. Segundo ele “a introdução dos italianos no exterior no contrato de governo teve forte inspiração na trajetória  do cidadão Pastore, que é um italiano no mundo que dá orgulho à nossa Itália”.

No curto pronunciamento que fez após o sinal verde de Mattarella, ainda no ‘Palazzo Quirinale’, e logo após um lacônico agradecimento do próprio Mattarella pelo esforço realizado pela formação de um governo, Giuseppe Conte anunciou os nomes dos ministros (18 no total, dentre eles cinco mulheres) para assegurar que “trabalharemos intensamente para realizar os objetivos políticos antecipados no contrato”, e que “trabalharemos com determinação para melhorar a qualidade de vida de todos os italianos.

Os líderes das duas forças políticas que estabeleceram o “Contratto”, além de vice-presidentes do Conselho de Ministros, serão também ministros: Di Maio, no Trabalho e Salvini no Interior.

Reprodução de “La Repubblica” com a imagem dos novos ministros italianos.