A transmissão da cidadania italiana ‘iure sanguinis’ pelo lado materno surgiu espontaneamente durante a entrevista que três representantes da chapa “Giustizia e libertà nel Mondo” – uma das duas que concorrem às eleições do Comites – ‘Comitato degli Italiani all’Estero’ do Recife – concederam à revista Insieme na tarde da última sexta-feira. Ao lado da questão agora ressuscitada da Grande Naturalização perante os tribunais italianos, “Comites e CGIE deveriam assumir isso como bandeira”, concordaram Maria Rosa Signaroldi, Adriana Romano e Concetta Di Vincenzo.

Das três, apenas Adriana nasceu no Brasil, e este – ao contrário do que ocorre nas outras seis circunscrições italianas do Brasil – é um espelho da realidade da mais extensa circunscrição, que além de Pernambuco, engloba os Estados do Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe: a maior parte dos eleitores são italianos nascidos na Itália.

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Apesar de sua extensão territorial (todo o Nordeste brasileiro), o número de eleitores estaria, segundo Adriana Romano “em torno de 1.500”. As eleições por correspondência se encerram dia 3 de dezembro próximo, mas os eleitores precisam se inscrever junto aos consulados até o dia 3 de novembro.

Para as três candidatas entrevistadas, muito antes do passaporte (que não é ‘rosso’, mas grená, no dizer de Adriana), “a italianidade passa pela língua e pela cultura” e essa deve ser sempre a prioridade do Comites em suas ações em prol de uma comunidade italiana. Elas concebem um Comites “incentivador e articulador das manifestações culturais da comunidade italiana”. Apesar do nome, que caracteriza diversas listas formadas em diferentes circunscrições, elas negam, entretanto, que a chapa tenha alguma conotação partidária. “Alguém pode lá ter suas preferências, mas não há esse compromisso”, disseram.

A questão da transmissão da cidadania pelo lado materno a nascidos antes de 1938 surgiu no bojo da discussão sobre a ressuscitada tese da Grande Naturalização, uma tentativa “grosseira” de impedir o direito de sangue a que têm milhões de ítalo-descendentes no Brasil. “Quais seriam as razões recônditas que estão por trás disso?” perguntaram elas, após considerá-la “uma questão grave e perigosa” a que devem se dedicar, além dos Comites, o CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’ e os parlamentares eleitos no exterior. “A italianidade para onde vai, assim?”, perguntam.

As entrevistadas consideram o fato de o Estado italiano (aí entendido também os Consulados) não reconhecer administrativamente cidadania italiana pelo lado materno antes de 1938 uma “discriminação” contra a mulher, uma vez que a Suprema Corte já definiu que essa é uma matéria vencida. Por qual motivo obrigar os interessados a terem que recorrer à Justiça?, perguntam elas, observando que isso talvez se deva ao fato de os parlamentares eleitos no exterior terem até agora sido, em sua maioria, homens.

Elas criticaram também o silêncio dos Comites, do CGIE e também dos próprios parlamentares no episódio que acabou diminuindo o número de cadeiras do Parlamento destinadas aos italianos no mundo.

Na entrevista, elas qualificaram os Comites como o “primeiro degrau básico e necessário de nossa representação perante o Parlamento italiano” e reiteraram que a chapa se empenhará para uma aproximação objetiva do Consulado, “não só para reclamar e atirar pedras, mas também buscar uma maneira de colaborar na solução daquelas necessidades que, infelizmente, nunca foram sanadas”.

Os Comites, segundo elas, não são conhecidos como deveriam ser pela comunidade italiana, nem quais são, efetivamente, suas funções. “Às vezes são confundidas com as funções consulares” e, na opinião delas, há a necessidade de “um diálogo construtivo em benefício do associativismo e das entidades que se dedicam à cultura. Por isso, propõem a retomada de algumas ações que nos últimos tempos foram abandonadas, como participar de festividades importantes tais como os “festejos de São João e o Dia da República italiana” e promover “um melhor acolhimento à comunidade italiana de todo o Nordeste”.