Pasquale Matafora licenciou-se de seu emprego na Embaixada para candidatar-se ao Parlamento italiano. (Foto Divulgação)

“Devolver a dignidade aos usuários dos serviços consulares, melhorando também a imagem de nossas instituições”, pois “devemos ter o orgulho de sermos italianos também pelos serviços oferecidos”. Assim o candidato a deputado no Parlamento Italiano, Pasquale Matafora, conclui a entrevista exclusiva à revista Insieme onde fala sobre suas metas e propostas de campanha.

Desde semana passada, Matafora é funcionário licenciado da Embaixada da Itália no Brasil, onde trabalha há 26 anos e sua candidatura se dá pelo PD – Partido Democrático, para o qual trabalha há mais de uma década, tendo sido fundador do círculo em Brasília. Para ele, os recursos oriundos da taxa de cidadania devem voltar integralmente aos consulados. Ele é favorável ao “ius soli”, mas não admite nenhum tipo de restrição ao “ius sanguinis”.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Italiano de nascimento (21 de novembro de 1957, Nápoles) mas no Brasil desde 1985, ele considera que “os descendentes de italianos presentes no mundo inteiro são, e sempre serão, uma riqueza inesgotável”. “A mensagem que pretendemos passar – acentua ele – é a de que não existem italianos dentro da Itália e descendentes com cidadania limitada. Todos temos os mesmos direitos e precisamos fortalecer este vínculo”.

Sem se referir à Fnib – Fundação Nacional Ítalo Brasileira em organização, o candidato tem entre suas propostas uma “Fundação Itália” destinada a todos os ítalo-descendentes da América do Sul, oportunizando processos formativos e de estágios para os jovens e acesso a fundo de assistência social, apoio útil para todos aqueles que procuram melhores possibilidades de vida”.

As eleições para a renovação do Parlamento italiano acontecem dia 4 de março na Itália. No Exterior, os italianos regularmente inscritos no serviço eleitoral votam por correspondência para eleger 12 deputados e seis senadores e o processo acontece um pouco antes, já na segunda quinzena de fevereiro. Na América do Sul, os italianos elegem 4 deputados e dois senadores.

Veja, a seguir, os compromissos e pensamentos do candidato Matafora na entrevista concedida com exclusividade à revista Insieme, onde ele fala também sobre o problema dos trentinos, da descendência italiana pelo lado materno,  da difusão da língua e cultura italiana e muito mais:

Quem é Pasquale Matafora?

Matafora nasceu na Itália em 21 de novembro de 1957. Reside em Brasília e é funcionário da Embaixada Italiana desde 1992. Responsável pelas áreas de Cooperação Jurídica e Assistência Social, há 26 anos se dedica e presta apoio aos cidadãos italianos no Brasil. Teve passagens por grandes empresas brasileiras e italianas como Ansaldo, Banco Nacional, Instituto per la Ricostruzione Industriale (IRI) e participou de projetos da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil. Matafora é membro da Associação de Marinheiros da Itália e promove a relação entre as forças navais dos dois países. Em 2013, foi reconhecido com o título de Cidadão Honorário pela Câmara Legislativa de Brasília por ter consciência de exercer seus direitos e deveres com o Brasil (Biografia completa clique aqui)

É candidato nas próximas eleições e por qual partido? Que o motiva a isso? A sua função pública não o impede?

Concorro pelo Partito Democratico- PD em função de um trabalho junto ao partido há mais de uma década. Fui o fundador do círculo do PD em Brasília, o segundo círculo com número de afiliados após São Paulo. Pedi licença sem vencimentos. Portanto, não existe incompatibilidade de minha função pública com a candidatura.

Como pretende desenvolver a campanha? Que compromissos assume com os eleitores?

Como italiano, parto do princípio que os descendentes de italianos presentes no mundo inteiro são, e sempre serão, uma riqueza inesgotável. Certa vez, comparei o ítalo-descentes ao pré-sal da Itália. Uma riqueza incrível e imensa, que necessita de investimentos para ser extraída. A Itália foi a grande mãe biológica que teve de abrir mão de alguns de seus filhos e os entregou para países adotivos, que os acolheram e também exigiram a única bagagem que tinham: a garra, a força de vontade e muito trabalho. A mensagem que pretendemos passar é a de que não existem italianos dentro da Itália e descendentes com cidadania limitada. Todos temos os mesmos direitos e precisamos fortalecer este vínculo. (Propostas no site)

Como vê a atuação dos parlamentares italianos eleitos no exterior até aqui?

O vínculo partidário prejudicou a atuação de alguns eleitos. Existe uma frase napolitana que sempre cito: “Dos filhos bonitos todos querem ser pai”. Muitas vezes faltaram propostas que estimulassem o interesse das direções dos partidos. Durante minha trajetória de 26 anos de trabalho na Embaixada Italiana conheci os problemas e as necessidades da comunidade italiana, não apenas no Brasil, mas na América do Sul inteira. Por isso, tenho propostas viáveis e realizáveis.

Se eleito, Como pretende atuar no parlamento e prestar conta aos eleitores do seu trabalho?

Como deputado, quero sensibilizar o meu partido e o governo italiano sobre as grandes oportunidades que a nossa comunidade no exterior oferece. A Itália precisa compreender por inteiro todas as oportunidades recíprocas que podem ser desenvolvidas, como negócios e intercâmbios culturais, por exemplo. A comunidade italiana está presente no mundo inteiro é a força da Itália. Minha atuação será transparente e minhas propostas de lei serão, antes de serem apresentadas, avaliadas por todos os eleitores. Meu mandato será participativo e dialogará com a comunidade, pois as problemáticas variam muito em um universo tão grande de eleitores. Pretendo utilizar, principalmente, os meios de comunicação digital, como as redes sociais, promovendo fóruns onde cada eleitor poderá formular perguntas e ser atendido em tempo real, além das visitas presenciais periódicas. O importante é encurtarmos a distância. O eleitor precisa se sentir dentro da Câmara.

Que pensa sobre a nossa estrutura consular, incapaz de responder às maiores demandas da comunidade ítalo-brasileira, como cidadania e passaportes?

Nossa estrutura consular está subdimensionada. Para atender a demanda não podemos permanecer desta forma, a rede consular necessita de mudanças emergenciais. Minha proposta é que os recursos oriundos da taxa de cidadania retornem integralmente aos Consulados, permitindo a contratação de pessoal, informatização (como digitalização de todos os arquivos), e acesso em tempo real dos processos e requerimentos de cidadania e, portanto, a melhoria de todos os serviços e agilidade para diminuir as filas.
Taxa da Cidadania: extinção pura e simples ou a entende, como alguns, como um recurso capaz de resolver nossos problemas?

Entendo como recurso, mas deve voltar integralmente para os Consulados, e não um terço como é hoje.Que diz do sistema “prenota on line” para passaportes? Já o qualificaram como um “monstro informático”, mas ninguém faz nada para mudá-lo. O que o candidato diz do problema real de milhares?

Ele surgiu de uma boa intenção e se transformou em um mecanismo perverso. Minha proposta é uma reformulação do sistema para abrirmos mais posições de agendamento, bloquear IP’s de agências que vendem os agendamentos e permitir o agendamento presencial diário em nosso Consulados.

A Itália volta a debater a ampliação do “ius soli”. Como vê essa questão em confronto com o “ius sanguinis” que, dizem, está sendo diminuído. Aceita, por exemplo, algum limite geracional?

Não aceito nenhum limite geracional. Sou favorável ao “ius soli”, pois foi a lei que permitiu que os nossos emigrantes não fossem discriminados. O “ius soli” é um tributo aos nossos antepassados que recomeçaram a vida em outros países. Muitos partidos que são contra esqueceram nossa história.

A questão da descendência pelo lado materno e aquela dos “trentinos” não sai do papel. Que ideias tem sobre isso?

Sou favorável que a jurisprudência consolidada se transforme em automatismo sobre a questão do lado materno. Já é hora de um projeto de lei para resolver definitivamente essa questão e acabar com o paradoxo de, às vezes dentro da mesma família, um irmão ter direito e outros não. Sobre os “trentinos”, o Ministério do Interior está atrasando o andamento. Só pode ser resolvido com uma força política que faça o processo correr. Estou disposto a empenhar todas as energias para que essa problemática seja solucionada o quanto antes.

Cultura, língua e ‘made in Italy”: sua visão e suas propostas sobre esses três temas?

Escolhemos ser cidadãos no mundo para contribuir com a exportação de energias materiais e espirituais do nosso “Made in Italy”. É o nosso dever reunir o legado daqueles que buscaram o melhor para seus entes queridos em tempos remotos e sombrios e transformá-lo no compromisso constante. Cabe a nós, cidadãos italianos residentes no exterior, estarmos ativos na linha de frente. Pretendo criar a “Fundação Itália” destinada a todos os ítalo-descendentes da América do Sul, oportunizando processos formativos e de estágios para os jovens e acesso a fundo de assistência social, apoio útil para todos aqueles que procuram melhores possibilidades de vida. Promover e implementar intercâmbios culturais e comerciais para descendentes e gerações, isto é, tornar os cidadãos presentes na América do Sul conscientes do fato de serem um patrimônio. Além da criação de incentivos para bolsas de estudos para filhos de italianos estudarem na Itália.

Qual seria seu primeiro ato como parlamentar? Quais problemas considera prioritários atacar em relação à comunidade ítalo-brasileira?

Quero agradecer os cidadãos italianos, mesmo os que não direcionaram o voto a mim, e confirmar o comprometimento junto aos eleitores. Agradecer pela participação nas eleições e reforçar que serei o representante de todos. Considero como prioritário e imediato devolver a dignidade aos usuários dos serviços consulares, melhorando também a imagem de nossas instituições. Devemos ter o orgulho de sermos italianos também pelos serviços oferecidos.