“Ele claramente demonstra uma opinião raivosa”, disse há pouco o sociólogo Daniel Taddone, um dos quatro conselheiros do Brasil no CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, ao comentar o pronunciamento do ministro Antonio Tajani durante a 41ª Assembléia Nacional da Anci – Associazione Nazionale dei Comuni Italiani (Associação Nacional dos Municípios Italianos), realizada de 22 a 24 últimos em Lingotto Fiere, Turim, no norte da Itália.
Tajani que, além de Ministro das Relações Exteriores e Cooperação Internacional – Maeci, é o presidente do CGIE e também o líder do partido Forza Italia, voltou a criticar o alto volume de “brasileiros” que requerem o acertamento da cidadania italiana por direito de sangue (ius sanguinis) e repetiu seu já conhecido bordão: “eles querem apenas o passaporte”.
“Nós concedemos (sic: “Noi concediamo centinaia di migliaia di cittadinanze a persone che…) centenas de milhares de cidadanias a pessoas que podem alegar ter um antepassado nascido após 1861. São centenas de milhares”, disse Tajani, acrescentando que “muitas vezes, segundo o resultado de uma investigação, uma inspeção que fizemos como Ministério das Relações Exteriores, essas pessoas não se importam em nada em ser italianas, não querem ser italianas, querem apenas o passaporte para ir a Miami”.
Segundo Taddone, Tajani fala mais do mesmo, isto é, da mesma equivocada “ladainha” segundo a qual a cidadania iure sanguinis seria uma concessione (concessão): “Ele claramente não entendeu como a cidadania é transmitida, ou por conveniência política finge não saber”, aduziu Taddone.
Falando a uma plateia com muitos prefeitos, Tajani observou também que, ao final, “todos os controles e todos os processos recaem sobre os ombros dos prefeitos, especialmente dos pequenos municípios.” Por isso, advogou a cobrança de pelo menos “o dobro do valor atual” ou seja, 600 euros por processo como remuneração do trabalho de pequenos municípios ao “conceder a cidadania”.
O ministro falou de casos em que municípios italianos, tendo apenas 300 cidadãos, figuram com 1.500 inscritos, “todos no Brasil”, e que nunca virão à Itália. O ministro se referiu a municípios da Região do Vêneto, “mas também de Molise”, no Sul da Itália.
Disse que se o procedimento burocrático-administrativo não é realizado pelos municípios, aí “vêm os processos judiciais”, numa clara referência ao rumoroso caso de Val di Zoldo, cujo prefeito Camillo De Pellegrin foi intimado pela Justiça para realizar transcrições de documentos dentro de, no máximo, 90 dias, sob pena de intervenção.
O pronunciamento deve ter encorajado De Pellegrin que, ao encaminhar ao editor de Insieme o link com o vídeo contendo o pronunciamento do ministro Tajani observou: “Buonasera, magari potrà fare una trasmissione con ospiti che insulteranno il ministro Tajani. E perché no…il presidente del tribunale di Venezia e di quello della corte d’appello che ha parlato di pericolo democratico” (Boa noite, talvez você possa fazer um programa com convidados que insultem o ministro Tajani. E por que não… o presidente do tribunal de Veneza e aquele da corte de apelação que falou sobre perigo democrático.)
Uma outra fonte informou à redação que o prefeito De Pellegrin está distribuindo a fala de Tajani com a observação: “A festa acabou” (Li manda in giro Camillo, accompagnati dalla frase ” la festa è finita”).
O ministro Tajani vem criticando com frequência o alto número de cidadanias italianas com base no direito de sangue e chegou a pedir mais rigor principalmente para os latino-americanos. Na fala de Turim, ele voltou a referir também casos de falsificação de documentos.
Segundo relatos do site oficial da Anci, o congresso reuniu, nos três dias, as mais altas autoridades da Itália, a partir do presidente Sergio Mattarella, onde se pronunciaram 54 prefeitos e 12 ministros de Estado, com a participação de mais de 16 mil pessoas entre prefeitos, administradores e convidados.