Tudo nasceu a partir de uma paixão adquirida pelo vinho, conta a jornalista carioca Marcia Monteiro. Ao pesquisar a bebida produzida no Brasil, descobriu nela o DNA italiano. Mais foi a fundo e vislumbrou – estamos falando da região da Serra Gaúcha – maiores oportunidades na multifacetada cultura italiana trazida pelos imigrantes, sobre a qual debruçou-se, engavetando o projeto original. O foco passou a ser todo o universo cultural de imigrantes italianos e seus descendentes que, segundo ela, reproduziram aqui seus conhecimentos não apenas no vinho, mas em todos os campos da atividade – da arquitetura à gastronomia, da indústria, à música, à religiosidade, ao jeito de falar e muito mais.

Quase um século e meio depois, o que sobrou disso tudo?

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Quem quiser saber deve comprar ingresso e “ir ao cinema”. Está tudo lá, numa edição de 80 minutos, com trilha sonora “empolgante e completamente original”, segundo Marcia, que havia sonhado um elaborado plano de apresentações, conferências e encontros para o lançamento de sua criatura. Veio a pandemia e tudo será virtual. Enbtão, para ir ao cinema basta entrar no site específico do documentário. Com a vantagem, como diz Marcia, de poder reunir a família para um almoço domingueiro e, depois da macarronada, todos assistirem o filme juntos.

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Nas versões em português, inglês e espanhol, o “Legado Italiano” é um pouco história e outro pouco atualidade. Na tecitura da linha do tempo que envolve a epopeia da imigração, mais de 90 pessoas foram entrevistadas e locações foram realizadas em cidades como Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi, Carlos Barbosa, Vila Flores, Farroupilha, Pinto Bandeira, Nova Pádua e Bonte Belo do Sul, todas no Brasil. Na Itália, foram realizadas locações em Conegliano, no Vêneto; comunidades de Vallagarina, Brentonico, Isera, Nogaredo, Rovereto, Terragnolo, Villa Lagarina, Castellano e Pedersano, no Trentino; e no porto de Gênova, na Ligúria – uma das portas de saída dos imigrantes italianos.

Sob roteiro e direção de Marcia, o documentário é uma produção de Camisa Listrada, com direção de fotografia de Elton Menezes e Dandy Marchetti e trilha sonora de Mú Carvalho. A produção executiva é de André Carreira e a montagem de Pedro Vinicius. São coprodutores Globo Filmes e GloboNews.

Na vídeo-entrevista concedida com exclusividade para Insieme, Marcia Monteiro explica como e quando surgiu a ideia de realizar o documentário e, embora ela nada tenha de italiano (“apenas meu coração, que deve ser verde e vermelho”) se diz impressionada com a “densidade da epopeia italiana”. Embora o documentário se atenha a atores ítalo-gaúchos, onde a terra exerceu papel fundamental, “também dá uma pincelada” na imigração italiana em São Paulo, diversa da primeira, pois tinha como endereço a mão de obra nas grandes fazendas de café.

Dentre os legados da imigração italiana, Márcia enumera, além da língua, da gastronomia, da indústria metalúrgica, das construções… o mutirão: “Eles se ajudavam o tempo inteiro, um sustentava o outro nos momentos de maiores dificuldades”. Também o filme foi feito através de um mutirão – argumenta Mária -, onde os próprios atores ajudaram generosamente em sua construção.

Uma das locações que mais impressionaram a diretora e roteirista foi a última, em Caravaggio, no município de Farroupilha – um local de fé e adoração, para onde afluem peregrinos da região e de todo o país. Ela conta que as pessoas foram surgindo com o amenhecer, vindas de todos os lugares e por todos os caminhos: estradas de chão, estradas de asfalto, trilhas… “e você descobrir que aqueles vários caminhos davam num só lugar, porque a comunidade foi organizada em torno da capela. Os caminhos eram longos, coisa diferente das vilas italianas, mas nessas capelas era o lugar de, aos domingos, rezar, pedir e agradecer. Mas também era o momento da unidade, o momento em que eles trocavam ideias e cresciam juntos. E eu com as câmeras pude voltar no tempo e perceber a força que deve ter sido tudo isto, esta fé, na vida das pessoas”.

(Texto originalmente publicado na edição 258 da Revista Insieme)