O advogado Andrey Taffner acaba de ser nomeado como Coordenador dos Círculos Trentinos de Santa Catarina e Paraná. Catarinense de Rio dos Cedros, área geográfica brasileira que aglutina a maior comunidade de descendentes de imigrantes trentinos em todo o mundo, ele é agora o responsável pela intercomunicação de 27 entidades, duas das quais em território paranaense, “entre si e com a Associazione Trentini nel Mondo, que congrega mais de 200 círculos congêneres em quatro continentes.”

Após tele-entrevista exclusiva concedida à revista Insieme na manhã de hoje, ele disse que sua nomeação foi consequência do grande apoio que recebeu das associações e círculos na recente campanha para a escolha do consultor da Província Autônoma de Trento, que acabou recaindo sobre o nome de outro ‘trentino’ de Rio dos Cedros, Oscar Lenzi.

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Na entrevista, Taffner explica o que ele pretende fazer já de partida: ouvir os círculos e elaborar planos de ação que envolvam interesses comuns. “Vou tentar – disse ele – reunir os círculos trentinos que têm e seguem uma linha parecida, que têm interesses em comum, para que um possa reforçar o outro”

“Eu recebi esta nomeação – aduziu Taffner – com bastante alegria e orgulho e, ao mesmo tempo, com um senso de responsabilidade muito grande porque nós viemos de uma sequência, de uma história muito grande”. Confira a entrevista, na íntegra.

Taffner, como é que você recebeu essa indicação da ‘Trentini nel Mondo’?

Essa nomeação ocorreu nesta semana. No início da semana nós tivemos a primeira reunião com os coordenadores aqui do Brasil e de outros países junto com o ‘staff’ da Trentini nel Mondo e depois foi emitida a carta oficial para os círculos trentinos e para a comunidade tentina, oficializando a minha nomeação para esse cargo.

Qual é o seu plano de trabalho? O mundo do associativismo não está um pouco em baixa atualmente?  Como é que você vê isso?

A nossa região, que engloba Santa Catarina e Paraná, tem, de fato, a maior concentração de descendentes de imigrantes trentinos em todo o mundo. São pesquisadores, historiadores da área que dizem e atestam isso. Consequentemente nós temos nessa região uma concentração muito grande de círculos trentinos e de outras associações italianas. E a gente sempre teve aqui uma uma vivacidade, uma atividade muito grande por parte dessas associações. A gente observou nos últimos anos, especialmente com o início da pandemia, uma caída dessas atividades, o que, a nosso ver, era inevitável porque os círculos, tradicionalmente, sempre operam presencialmente, seja nas reuniões, seja nos eventos. Não são associações que se movem virtualmente. Encontros virtuais sempre foram exceções. São associações que promovem bailes, encontros, enfim muitas atividades importantes. Então o início da pandemia realmente foi um golpe muito duro para os círculos trentinos e para as outras associações. Mas a gente tem esperança de que agora, com o avanço da vacinação, esse ano de 2022 represente a virada desse período  mais complicado.

O que eu pretendo fazer nos próximos meses?  Eu vou realizar visitas aos círculos daqui da minha área de coordenação, nos dois Estados. Eu quero escutar esses círculos, tanto naquilo em que eles operavam até então, o que eles pretendem fazer daqui em diante, nesse novo cenário que a gente tem. E, depois de ouvidos os círculos, elaborar planos de ação que envolvam interesses em comum. Vou tentar reunir os círculos que têm e que seguem uma linha parecida, que têm interesses em comum, para que um possa reforçar o outro, uma atividade que possa ajudar o outro. Esse seria, assim, o meu objetivo mais imediato: procurar esses círculos e escutá-los e, depois, elaborar planos de ação com círculos que tenham atividades em conjunto.

Na função de coordenador, o meu outro grande objetivo vai ser sempre levar as ações da ‘Trentini nel Mondo’  para deixar os círculos a par de tudo o que está acontecendo, do que se planeja fazer, porque os círculos, além de sua atuação local, têm também uma atuação regional e até internacional por conta dos eventos que a Trentini nel Mondo coordena. Então nessa parte eu vou estar atento e vou estar fazendo comunicação entre os círculos também.

Você recentemente foi candidato a um outro cargo, o de consultor da Província Autônoma do Trento. O que exatamente diferencia um do outro e no que os círculos dependem dessa sua coordenação agora?

O cargo de coordenador dos círculos trentinos envolve especificamente os círculos e a Associação Trentini nel Mondo e, naturalmente, eventuais associações ou grupos que queiram se aproximar dessas atividades para, eventualmente, criar um novo círculo. E a função do coordenador é uma função de agregar esses círculos e, na linguagem que a própria Trentini nel Mondo utiliza, de facilitar a comunicação entre os círculos, dos círculos com a TNM e entre os sócios.  o cargo de coordenação não tem nenhuma ingerência nas atividades internas dos círculos, que continuam sendo associações com o seu estatuto próprio, com suas atividades próprias. O coordenador não tem nenhuma ingerência em nada disso, ele apenas facilita a comunicação e procura manter esses círculos em comunicação entre eles e com a TNM.

Quantos círculos na área dos dois Estados existem? E já acrescento uma segunda consideração que eu pediria que você fizesse a respeito dessa nova experiência que a pandemia, de certa forma, nos ensinou: ao mesmo tempo em que houve esses problemas de bloqueios, também surgiram novidades… Como é que você pretende aproveitar esse novo treinamento que as associações tiveram com, talvez, um pouco mais de possibilidades de comunicação virtual?

Nossa área de coordenação tem 27 círculos: dois no Estado do Paraná e 25 no Estado de Santa Catarina. E dentre esses círculos nós temos os três que são o tripé, os pioneiros: Nova Trento, Rodeio, e Rio dos Cedros que são aqueles que surgiram em 1975, na época do centenário da imigração italiana. Então é uma comunidade ativa e com presença histórica nas comunidades. São círculos trentinos que fazem parte da história da cidade. Quando a gente pensa em cidades como Rodeio, Rio dos Cedros, Nova Trento e até outras cidades maiores, a gente percebe que os círculos fazem parte da história da comunidade. Os moradores têm conhecimento, em muitos casos até um vínculo com as atividades que os círculos desenvolvem.

Dessa nova experiência que surgiu com a pandemia, o que eu pretendo utilizar, se possível,  pelo menos no início, enquanto a gente ainda estiver na pandemia, são as uniões em modo virtual. Quando nós formos fazer reuniões regionais com os círculos, inicialmente talvez ainda não vai ter segurança para realizar um encontro presencial. Então, na medida em que for possível, e em que um círculo se sentir à vontade com a tecnologia, seria interessante fazer reuniões virtuais até porque a gente consegue planejar coisas enquanto estivermos ainda nessa situação. Mais à frente, vamos voltar para o presencial, que é com o que se está acostumado. Mas se as diretorias estiverem à vontade e se sentirem bem com essa com essa proposta de reuniões e encontros regionais virtuais, seria essa uma opção para a retomada de atividades.

Na verdade você já começou o trabalho, não é Taffner?… palavra livre para comentar que não te perguntei.

Eu recebi esta nomeação com bastante alegria e orgulho e, ao mesmo tempo, com um senso de responsabilidade muito grande porque nós viemos de uma sequência de uma história muito grande. Eu venho de Rio dos Cedros que é uma dessas cidades onde o Círculo Trentino sempre teve uma presença e uma atuação muito importante. Então a gente vê que é uma caminhada longa e que, portanto, nós assumimos com critério e responsabilidade para fazer jus a toda essa história. Da mesma forma a Associação Trentini nel Mondo tem uma caminhada de muitos anos, é desde a década de 50 que eles atuam no mundo inteiro, quase em quatro continentes, são mais de 200 círculos no mundo todo. Então é uma trajetória grande e que a gente vê que deu bons frutos.

Quando a gente observa aqui no nosso Estado tudo o que os círculos desenvolveram, onde a comunidade trentina é ativa e organizada, a gente percebe que não encontra isso em todos os lugares. A gente nota que isso se deve em grande parte ao trabalho tanto da Associação Trentini nel Mondo quanto dos círculos, como associações organizadas aqui no nosso território. Então é nesse espírito de reverência à nossa história que eu assumo essa função e vou desenvolver pelos próximos anos.

Muito obrigado pelas informações. Insieme está sempre à disposição para divulgar as coisas trentinas… afinal de contas, a nossa parceria já é antiga.

Sm, a revista Insieme prestou um serviço inestimável para os trentinos. Na época da Lei 379 ela era o canal de comunicação por excelência para tudo aquilo que precisava em termos dos andamentos de processos e na divulgação das atividades, seja da TNM quanto dos círculos. Então, realmente, é uma parceria que deu certo e a gente sempre encontra as portas abertas. Estamos muito gratos por isso.

Aliás, você tocou num assunto que nós não falamos. Existe essa pendência na questão dos processos de cidadania e não podemos esquecer disso. Você certamente tem isso em mente também. Na condição de coordenador, como você imagina dar resposta para esse vazio que existe, essa falta de informações sobre tantos processos pendentes?

Os círculos trentinos, por ocasião da lei, desempenharam um papel no Brasil que, até onde eu sei, foi o único no mundo. Eles atuaram como órgãos auxiliares dos consulados Italianos e, graças a eles, muitos processos foram encaminhados, porque eram os círculos que estavam em contato com as respectivas comunidades e dali saíram os processos. Claro que se a lei tivesse um prazo maior, teria sido melhor. Muitas pessoas não tomaram conhecimento na época mas, enfim, aquilo que foi possível fazer, foi feito em dez anos.

Nós até iniciamos alguns estudos acadêmicos em torno da lei 379, das origens jurídicas e históricas dessa lei, que nós estamos conduzindo em conjunto com o professor Arno Dal Ri, da Universidade Federal de Santa Catarina. E até tivemos o primeiro encontro com o hoje senador Fabio Porta, em que senhor participou, para discutir vários aspectos da cidadania italiana, inclusive da lei 379.

Fora isso, em relação aos processos que ainda aguardam uma solução… nós, como círculos, infelizmente, não recebemos informações dos consulados a respeito da situação desses processos. A partir do momento em que o Círculo Trentino protocolava e entregava a documentação, a partir daí a informação que a gente tinha era a mesma informação que qualquer outro cidadão conseguia, que era muito pouco. O que que a gente espera agora, nesses próximos anos é, talvez em conjunto com os círculos que atuaram mais forte na questão da cidadania, cobrar uma posição. É isso que a gente já começou com esses congressos, esses encontros. Chegar para os nossos parlamentares e pedir que se dê uma chance, se dê um encaminhamento, ou, ao menos, uma perspectiva de quando isso pode se encerrar. Qual o destino desses [processos] que ainda estão pendentes. Quanto tempo isso vai levar, enfim. Eu acho que, como sociedade civil organizada, que são os círculos, a gente pode seguir esse caminho.