Comites: O ‘bom combate’, na metralhadora giratória de Taddone, será travado com ‘respeito e calma’. Mas sem imobilismo. E o sesquicentenário da imigração italiana?

Presente em seis das sete circunscrições consulares italianas do Brasil, as chapas “Italianità in Movimento” têm como objetivo principal “combater o bom combate na defesa dos interesses dos italianos”. Isso deverá ser feito “com respeito e com calma”, mas “sem ficar calados, deixando o imobilismo de lado e tomando posições sempre que necessário”; além disso, “fazer coisas nas áreas do associativismo e da cultura”, ou seja, “colocar a nossa italianidade em movimento”.   

Nessa “injeção de italianidade com inclusive a ajuda da Itália’, entraria, por exemplo, uma vigorosa programação para festejar dignamente, em 2025 (considerando a data estabelecida numa lei de autoria do falecido senador capixaba Gerson Camata), o sesquicentenário da imigração italiana no Brasil e a instituição de uma festa nacional tipo “Columbus Day” dos Estados Unidos, conforme ele informou já fora da entrevista gravada.

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O resumo do que seria uma nova era para os Comites – ‘Comitati degli Italiani all’Estero’ no Brasil é feito pelo sociólogo Daniel Taddone, atual presidente do Comites na jurisdição do Recife, um dos poucos dirigentes atuais que se recandidataram nestas eleições em curso que terão fim no dia 3 de dezembro próximo. Durante quase uma hora ele expôs ao editor de Insieme, durante vídeo-entrevista a partir de Recife, as linhas mestras do que poderá ser um programa de ação dos diversos grupos formados nas jurisdições consulares do Distrito Federal, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba.

Ao final da tele-entrevista  (cujo vídeo infelizmente apresenta falhas técnicas pelas quais nos desculpamos com o entrevistado e com os leitores), Taddone lembrou de um episódio ocorrido em 2017, em Curitiba, durante uma reunião do Intercomites, quando a então deputada Renata Bueno tentava colocar panos quentes sobre as reclamações contra falhas e obstrucionismos consulares: “Estamos cansados do armistício, queremos a guerra!”, disse ele, para completar: “É diferente do que disse a deputada, nós queremos a guerra porque as filas [da cidadania], os abusos dos consulados, devem acabar de uma vez por todas”. Segundo ele, a guerra “no bom sentido” vai continuar e, se possível, de forma mais organizada e com mais gente comprometida com as causas comuns da comunidade ítalo-brasileira.

Taddone analisa o perfil da comunidade italiana na jurisdição consular do Recife, um pouco diverso das comunidades do centro e sul do Brasil, onde é maior o número de italianos nascidos na Itália e de imigração mais recente ou temporária. Sua chapa, formada por uma maioria de cidadãos nascidos no Brasil enfrentará a chapa concorrente, formada em quase a sua totalidade por cidadãos nascidos na Itália – “uma criação do Lanzi”, segundo ele, sob o apelo de “Giustizia e Libertà”, como outras mais vinculadas ao ‘Partito Democratico’.

“Italianità in movimento”, diz ele, nasceu como um contraponto nacional à outra tendência também de nível nacional, mais ligada ao PD, mas sem ter compromisso fechado com o Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’, do senador Ricardo Merlo, de abrangência continental e muindial. Trata-se – explica – de um movimento nacional no âmbito dos Comites.

O sociólogo fala sobre a renovação que estas eleições provocarão nos Comites e a vê como “muito promissora”, mas é muito crítico em relação aos representantes dos italianos no exterior, especialmente os brasileiros, no Parlamento italiano: “O que me vem em mente é nojo, asco; é algo que eu não consigo sequer verbalizar”, disse ele, referindo-se nominalmente aos atuais dois parlamentares ítalo-brasileiros. “Não sei para que essas duas personagens se colocaram numa eleição” se desde 2018 até agora “não fizeram absolutamente nada”. Mais: “Como uma pessoa consegue chegar o final do mês, receber seu salário de 12 mil euros (em torno de 80 mil reais, pela conversão atual – NR) sem ter feito absolutamente nada?”, pergunta Taddone. 

Uma exceção – embora “eu tenha minhas críticas também em relação a ele” – Taddone faz ao senador Ricardo Merlo que, quando subsecretário para os italianos no mundo da Farnesina, realizou algumas coisas (cita como exemplo o ‘sportello consolare’ de Vitória, no Espírito Santo, e o consulado de Montevidéu, no Uruguai). “Os nossos deputados, sequer compareceram nos eventos em que Merlo aqui esteve tratando do assunto (…) Eu pergunto: todos os dias eles acordam como deputados na Itália e fazem o quê? (…) isso é enriquecimento sem causa (…) Se fazem alguma coisa, gostaria que eles demonstrassem o que fazem”.

Cáustico em suas críticas já conhecidas em relação ao chamado obstrucionismo consular, Daniel Taddone analisa também a ação dos delegados brasileiros perante o CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’ e dos Comites, não escondendo a sua intenção de concorrer como delegado ao CGIE (os três delegados brasileiros serão eleitos de forma indireta após as eleições dos Comites – NR). Entretanto, muita coisa vai depender, segundo ele, “de que Comites vai sair dessa eleição.

Segundo Taddone, há pessoas capazes e bem intencionadas em todas as chapas, mas “é claro que considero a melhor opção o nosso movimento”, que nasce de uma disposição de luta sem tréguas em defesa dos interesses da comunidade ítalo-brasileira.

“Task force”, taxa da cidadania, filas da cidadania, a ressuscitada tese da Grande Naturalização brasileira (“uma palhaçada com licença dos palhaços!”) foram outros assuntos analisados pelo candidato cujo mote é “não ficar calados”, “deixar o imobilismo” e ser “mais combativos”. “Preciso de mais companheiros de luta”, arremata Taddone. Confira a entrevista.