O historiador Kons, ao microfone: a imigração italiana no Brasil começou há 180 anos, com a Colônia Nova Italia, em Santa Catarina. (Foto Cedida)

Enquanto no Espírito Santo festejava-se o Dia Nacional do Imigrante Italiano, no último dia 21, em Santa Catarina tomava corpo o movimento de contestação à  lei federal n°. 13.617/2018, sancionada recentemente pelo presidente Temer, que estabelece a cidade capixaba de Santa Teresa como o primeiro núcleo formados no Brasil por imigrantes italianos. Os catarinenses aproveitaram a efeméride para contestar também a própria data, estabelecida por outra lei federal, chamando-a de “gafe histórica”.

Para Santa Catarina, o berço da imigração italiana no Brasil é o atual município de São João Batista, onde, em 1836, estabeleceram-se 132 dos 186 imigrantes que aportaram na baia norte da Ilha de Santa Catarina, no porto do Desterro, transportados pelo navio Correio. A colônia formada por aquelas famílias italianas foi denominada “Colônia Nova Itália”.

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Somente 37 anos e 11 meses após, em 21 de fevereiro de 1874, é que chegaram os 388 camponeses no porto de Vitória, que vieram embarcados no navio La Sofia, em cuja epopeia foi fixada a primazia histórica capixaba. “É como se, depois de os norte-americanos terem chegado à lua em 1969, a data fosse esquecida para comemorar, muitos anos depois, a chegada dos chineses ao satélite da terra”, explica um catarinense poeta.

O assunto, que estava quieto e quase esquecido nos livros de história, passou agora à primeira cena do debate no seio da comunidade italiana dos dois Estados. Após fracassadas tentativas de reverter a lei aprovada no Congresso Nacional, a comunidade catarinense resolveu partir para o ataque, envolvendo também instituições. Dia 20, véspera do festejado Dia do Imigrante Italiano, o Conselho Estadual de Cultura, reunido, cobrou publicamente a correção do “erro histórico” praticado contra Santa Catarina.

“A Colônia Nova Itália, em São João Batista, é o Berço da Imigração Italiana no Brasil”, postou em seu perfil do Facebook o historiador brusquense Paulo Vendelino Kons, que há algum tempo levantou a primeira voz em contestação à recente lei, publicada no diário oficial da União em 21 de janeiro último. A lei, segundo ele “atribui, equivocadamente, ao município de Santa Teresa, no Espírito Santo, o título de “Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil”, que de fato pertence a Colônia Nova Itália, no município de São João Batista-SC”.

Reunido na tarde de 20 de fevereiro de 2018, no Centro Integrado de Cultura – CIC, em Florianópolis, o Conselho Estadual de Cultura – CEC manifestou-se publicamente e cobrou do Congresso Nacional e da Presidência da República o reconhecimento do erro histórico cometido contra Santa Catarina, com a aprovação e sanção a lei federal n°. 13.617/2018. A moção do Conselho pede ainda que seja declarada a Colônia Nova Itália, em São João Batista, no vale do rio Tijucas, como o “Berço da Imigração Italiana no Brasil”. Confira a íntegra do documento:

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA – CEC – MOÇÃO DE APOIO

O Conselho Estadual de Cultura, reunido em 20 de fevereiro de 2018, aprovou a presente Moção de Apoio à mobilização de diversos grupos que questionam a Lei Federal N°. 13.617/2018, sancionada pelo presidente Michel Temer, em 11 de janeiro de 2018, publicada no Diário Oficial da União de 12 de janeiro passado, que atribui ao município de Santa Teresa, no Espírito Santo, o titulo de “Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil”.

Trata-se de proposição equivocada, pois a mesma desconsidera fatos históricos documentadamente comprovados conforme apontam os estudos feitos pelo Historiador Paulo Vendelino Kons.

Segundo o Historiador a Colônia Nova Itália, fundada em 1836, no Vale do Rio Tijucas Grande, atual município de São João Batista, é, inequivocamente, o Berço da Imigração Italiana no Brasil, uma vez que, para aquela localidade seguiram 132 dos 186 imigrantes que aportaram na baia norte da Ilha de Santa Catarina, no porto do Desterro, transportados pelo navio Correio.

Ainda, segundo o Historiador, a colonização italiana no Espírito Santo ocorreu somente 37 anos e 11 meses após com a chegada, em 21 de fevereiro de 1874, no porto de Vitória, do navio La Sofia com 388 camponeses de língua italiana do império austro-húngaro e vênetos.

Pretende o movimento organizado, este Conselho Estadual de Cultura e o povo de Santa Catarina, manifestar-se publicamente e cobrar do Congresso Nacional e a Presidência da República o reconhecimento do ERRO HISTÓRICO cometido contra nosso Estado com a aprovação e sanção da Lei Federal N°. 13.617/2018 e, em assim sendo, declarar a Colônia Nova Itália como o Berço da Imigração Italiana no Brasil. Florianópolis, 20 de fevereiro de 2018.”