O já eleito senador Fausto Longo, em 2013, quando dizia que nunca se candidataria a uma reeleição. (Foto Desiderio Peron / Arquivo Insieme)

Rompendo o longo silêncio mantido diante de uma avalanche de críticas, o deputado ítalo-brasileiro Fausto Longo, eleito para o Parlamento italiano no início do ano depois de ter sido senador da República Italiana, está justificando sua decisão de se candidatar a deputado federal no Brasil. “Pediram-me para levar a minha experiência adquirida na política e no Parlamento Italiano para o Brasil”, escreveu ele em resposta a um diretor de jornal italiano sem, entretanto, precisar quem realizou o pedido e dizendo com outros termos que tem as mãos limpas num Brasil que evoca os tempos do “Mani Pulite” italiano. Longo, que no Brasil representa o PSI (Partido Socialista Italiano), é candidato pelo MDB.

Segundo ele, se for eleito para a Câmara Federal dos Deputados, abandonará “categoricamente” a representação no Parlamento italiano. Mas o PD – Partido Democrático italiano –,  através do qual se elegeu nas últimas eleições, não tem nada a ver com sua candidatura no Brasil, ressalva ele logo no início. Como se recorda, Longo já estava em campanha para o Senado quando houve uma alteração de última hora, indo Fabio Porta para a sua posição e ele, que acabou sendo eleito com 9.431 votos, assumindo a candidatura para a Câmara dos Deputados sob a legenda do PD.

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Desde o anúncio de sua candidatura brasileira, Longo passou a ser objeto de muitas críticas e questionamentos nas redes sociais, inicialmente no Brasil, onde alguns já o chamam de “o parlamentar de dois mundos” e, em seguida, também na Itália. “Quem deve dar respostas é o Pd/Psi, que candidata e elege um parlamentar que nem sabe se comunicar em italiano adequadamente e, alguns meses depois de eleito, zomba de todos participando das eleições daqui, demonstrando que não tem compromisso nenhum com quem o elegeu e, comodamente, usa um parlamento para buscar outro. Vergonhoso!” disse semana passada o coordenador do Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ no Brasil, Luis Molossi.

Noticiosos italianos como “Libero Quotidiano” e “Affariitaliani.it” e também o jornal “Il Gazzettino” criticaram a dupla pretensão de Longo. “Deputato in Itália, candidato in Brasile. Bufera sull’oriundo” (deputado na Itália, candidato no Brasil, tempestade sobre o oriundo), mancheteou neste último domingo que passou o “Gazzettino”, de Veneza, explicando as origens vênetas de Longo.

No dia 17 de agosto, o diário online ‘Affariitaliani.it’ trazia como manchete: “Scandalo PD: il senatore dem Longo si candida anche al parlamento brasiliano” (Escândalo no PD: o senador dem Longo se candidata também ao parlamento brasileiro). A matéria chamava a atenção para o fato de que Longo é pago “pelos contribuintes de nosso país” [italianos). A matéria se refere a um artigo do diretor Mentana em tons irônicos, onde hipotiza o dom da ubiquidade do candidato, “mas, na realidade, é de chorar”, conforme conclui. O  serviço publica um santinho de Longo onde ele prega “por uma constituição, justa e solidária, que aponte para o futuro”.

Já o “Libero Quotidiano.it”, quase no mesmo tom e no mesmo dia, faz um jogo de palavras que soa mais ou menos como “Fausto Longo, onde você vai se candidatar, sem vergonha”. E completa: “Coisas que só acontecem na Itália”, coisas “que acontecem com o PD”, fazendo uma comparação com o que “acontecia aos campeões de futebol transplantados para a Série A” agora “parece ser acometido da famosa “saudade” de casa”. Outro diário online, o “Italia Chiama Italia”, publicou artigo de Mariano Gazzola, onde o político ítalo-argentino diz que Longo, assim, “trai o mandato concedido pelos eleitores que o votaram para defender seus interesses de italianos no mundo no Parlamento de Roma”. O ex-deputado Fabio Porta (PD), embora contatado há dias por Insieme, ainda não se pronunciou.

Em longos debates nas redes sociais, italianos e ítalo-brasileiros chegaram a conseguir uma bela integração ao debater a dupla candidatura de Longo, uns defendendo o direito dele de tentar se eleger no Brasil, mesmo que aproveitando das regalias que lhe conferem a condição de parlamentar italiano. O resumo de tudo poderia ser este: não está escrito na lei, mas é imoral. As críticas e comentários vão do irônico ao jocoso, e até ao deboche.

“Redijo a presente Nota – assim começa Fausto Longo sua justificativa a Enrico Mentana – diante do posto publicado sobre a sua página FB relativa à minha candidatura ao Parlamento da República Federativa do Brasil, do dia 17 de agosto de 2018”.

Em primeiro lugar fala da “exclusão de um papel do PD na minha candidatura no Brasil”: “Quero antes de mais nada que nesta polêmica o PD não tem nenhum papel ou responsabilidade. O subscrito na Legislatura passada foi eleito ao Senado da República pela Circunscrição Exterior América do Sul e através do Novo PSI, e no Senado fez parte do Gruppo pelas Autonomias –  SVP, UV, PATT, UPT) – PSI”

“A junção ao PD disse respeito apenas exclusivamente à fase eleitoral da atual Legislatura, onde, para ajudar o Partido  – fortalecido pelo consenso que eu obtivera nas eleições de 2013 – aceitou candidatar-me à Câmara, para ajudar também a candidatura do amigo e representante do PD, Fabio Porta, ao Senado. Com Porta, eu tinha já dividido a campanha eleitoral em 2013. Uma vez eleito, também à luz da situação altamente crítica e delicada surgida no interior do PD no pós eleição, achei que minha missão – trabalhar para os direitos dos numerosos italianos no exterior – poderia ter mais sucesso mantendo uma posição autônoma e inscrevendo-me, portanto, no Grupo Misto. Sobre esse tema, qualquer tipo de especulação em prejuízo do PD, conduzido pelo Secretário Martina, aparece absolutamente enganadora”.

O segundo item que Longo aborda é a “legitimidade da candidatura ao Parlamento brasileiro – demissão do Parlamento Italiano em caso de eleição”: “A lei eleitoral no brasil não impede um brasileiro, mesmo com dupla cidadania e eleito no órgão legislativo da outra nação, de candidatar-se ao Parlamento Federal. Se me tornar membro do Parlamento brasileiro ao fim da campanha eleitoral do próximo outono [para nós, primavera – NT],  imediatamente apresentarei minhas demissões do cargo eletivo italiano, de acordo com os procedimentos e modalidades estabelecidas pelas normas em vigor. Tal declaração deve ser entendida no sentido categórico e não como uma declaração de intenções passíveis de variações”.

A seguir, Longo passa a falar das “Motivações da candidatura: subdimensionada a questão dos italianos no exterior e a crise político-institucional do Brasil”: “Para além de qualquer polêmica, permito-me agradecer o diretor Enrico Mentana – jornalista de altíssimo perfil a quem dedico muita estima – por ter de colocado em evidência geral a temática dos italianos no exterior. Falo principalmente dos ítalo-descendentes que numericamente representam uma população maior que aquela que vive na Itália e que influenciou no desenvolvimento histórico de muitas nações, entre elas certamente o Brasil, onde vivem atualmente quase 30 milhões de pessoas com sangue italiano”.

“No Brasil – prossegue Longo – e não apenas nele, o tema de seus direitos, a partir do reconhecimento da cidadania, parece estranhamente problemático, já me bati por eles em meu papel de Senador, apresentando numerosas iniciativas legislativas para enfrentar as lacunas que envolvem a Itália. Infelizmente, as instituições italianas e mesmo o povo italiano têm pouca consciência do valor que a Itália tem sobre estas realidades e de como milhões de ítalo-descendentes diariamente são severamente limitados na implementação de seus direitos estabelecidos por lei.”

“Voltando ao tema das acusações que me são dirigidas principalmente pelo direto Mentana, quero, por outro lado, evidenciar a seriedade da crise político-institucional que o Brasil está vivendo, em muitos comparáveis aos acontecimentos que caracterizaram a política italiana dos primeiros anos noventa. O episódio das “Mãos Limpas” e seu corolário que levou, em pouco tempo, ao desaparecimento dos dois partidos históricos que a tinham guiado: a DC e o PSI. Em tal contexto, encontraram amplos espaços no Parlamento italiano partidos recentemente constituídos (Lega Nord) ou absolutamente novos, como Forza Italia. Tal fase se notabilizou também por uma forte renovação dos eleitos que, em boa parte, substituíram figuras muito conhecidas da política italiana. Candidatos que foram procurados fora das tradicionais lógicas políticas construídas na “Primeira República”.

E longo prossegue: “Exatamente num contexto similar, e com a mesma lógica – com muitos possíveis candidatos no Brasil que estão sob investigação da Magistratura (o caso mais evidente é o do ex-presidente Lula) –  pediram-me para levar a minha experiência adquirida na política e no Parlamento Italiano para o Brasil, também à luz da minha imagem absolutamente distante de todo tipo de dívida extra-político.”

“Portanto decidi tomar este caminho, não para renegar meu percurso nas Instituições italianas, mas para contribuir para tornar mais forte e mais capaz a política brasileira, e ao mesmo tempo para ser um válido interlocutor com a Itália, nação de absoluta referência para a história, a atualidade e para o futuro do Brasil. Com este espírito e com tais intenções, nasceu a minha atual candidatura e teria certamente respondido a todas as perguntas se me tivessem perguntado antes de fornecer a uma ampla audiência  uma versão que não levou em conta meu ponto de vista”.

As explicações de Fausto Longo em Italiano: PRECISAZIONI SULLA CANDIDATURA PARLAMENTO DELLA REPUBBLICA FEDERALE DEL BRASILE DELL’On. FAUSTO GUILHERME LONGO

Redigo la presente Nota a fronte del post pubblicato sulla propria pagina FB dal Direttore Enrico Mentana relativa alla mia candidatura al Parlamento della Repubblica Federale del Brasile, apparso in data 17 agosto 2018, successivamente ripreso nelle pagine web i Libero Quotidiano e Affaritaliani.it.

Esclusione di un ruolo del Pd nella mia candidatura in Brasile

Intendo anzitutto evidenziare che in questa polemica il PD non ha alcun ruolo o responsabilità di sorta.

Il sottoscritto nella passata Legislatura è stato eletto nella Senato della Repubblica nella Circoscrizione Estera America del Sud per il Nuovo PSI e al Senato ha fatto parte del Gruppo Per le Autonomie (SVP, UV, PATT, UPT) – PSI.

L’abbinamento al PD ha riguardato esclusivamente la fase elettorale dell’attuale Legislatura dove per aiutare il Partito – forte del consenso che avevo raccolto nelle elezioni del 2013 – ho accettato di candidarmi alla Camera, per favorire peraltro la candidatura dell’amico e rappresentante del PD Fabio Porta al Senato. Con Porta avevo già condiviso la campagna elettorale nel 2013,

Una volta eletto, anche alla luce della situazione altamente critica e delicata maturata all’interno del PD nel post elezioni, ho ritenuto che la mia missione – lavorare per i diritti dei numerosi italiani all’estero – potesse avere più possibilità mantenendo una posizione autonoma e iscrivendomi pertanto al Gruppo Misto.

Su questo fronte ogni tipo di speculazione ai danni del PD guidato dal Segretario Martina appare assolutamente pretestuosa.

Legittimità della candidatura al Parlamento brasiliano – dimissioni dal Parlamento italiano in caso di elezione

La Legge elettorale in Brasile non pregiudica ad un brasiliano, seppur con doppia cittadinanza ed eletto nell’organo legislativo dell’altra nazione, di candidarsi al Parlamento Federale.

Se risultassi membro nel Parlamento brasiliano al termine della tornata elettorale del prossimo autunno, presenterei immediatamente le dimissioni dalla carica elettiva italiana, secondo le procedure e le modalità stabilite dalle normative in vigore.

Tale ultima dichiarazione va intesa in senso categorico e non come mera dichiarazione di intenti possibile di variazioni.

Motivazioni della candidatura: sottodimensionata questione degli italiani all’estero e la crisi politica-istituzionale del Brasile.

Al di là di ogni polemica, mi permetto di ringraziare il Direttore Enrico Mentana – giornalista di altissimo profilo di cui nutro la massima stima – per aver comunque posto all’attenzione generale la tematica degli italiani all’estero. Parlo principalmente degli italo-discendenti che numericamente rappresentano una popolazione più vasta di quella che vive in Italia e che hanno influito nello sviluppo storico di moltissime nazioni, tra cui certamente il Brasile, dove vivono attualmente quasi trenta milioni di persone di sangue italiano.

In Brasile (e non solo) il tema dei loro diritti, a partire dal riconoscimento della cittadinanza, appare estramemente problematico e già mi sono battuto nel mio ruolo di Senatore presentando numerose iniziative legislative per sopperire alle lacune di cui si rende protagonista l’Italia.

Purtroppo le Istituzioni italiane e il popolo italiano medesimo hanno poca consapevolezza del valore che l’Italia ha in queste realtà e di come milioni di italo-discendenti siano quotidianamente fortemente limitati nell’esplicazione dei loro diritti stabiliti dalle leggi.

Tornando invece al tema delle accuse che mi vengono principalmente rivolte dal Direttore Mentana intendo, per altro verso, evidenziare la serietà della crisi politico/istituzionale che sta vivendo il Brasile, per molti aspetti paragonabile alle vicende che hanno caratterizzato la politica italiana dei primi anni novanta.

L’inchiesta “Mani Pulite” e il suo corollario che portò in pochissimo tempo alla scomparsa dei due partiti storici che l’avevano guidata: la DC e il PSI. In tale contesto, trovarono ampio spazio nel Parlamento italiano partiti di recente costituzione (Lega Nord) o assolutamente nuovi come Forza Italia. Tale fase si connotà anche per un forte rinnovamento anche degli eletti che in buona parte andarono a sostituire figure molto note della politica italiana. Candidati che vennero cercati al di fuori delle tradizionali logiche politiche maturate nella “Prima Repubblica”.

Proprio in un contesto similiare e con la stessa logica – con molti possibili candidati in Brasile che sono oggetto di inchieste della Magistratura (il caso più eclatante è quello dell’ex Presidente Lula) – mi è stato chiesto di portare la mia esperienza maturata nella politica e nel Parlamento italiano in Brasile anche alla luce della mia immagine assolutamente lontana da ogni tipo di addebito extra-politico.

Ho pertanto deciso di intraprendere questo cammino non per rinnegare il mio percorso nelle Istituzioni italiane ma per contribuire a rendere più salda e capace la politica brasiliana e nel contempo per essere un valido interlocutore con l’Italia, nazione di assoluto riferimento per la storia, l’attualità e il futuro del Brasile.

Con questo spirito e con tali intenzioni è nata la mia attuale candidatura e avrei certamente risposto ad ogni quesito se mi fosse stato posto prima di fornire ad un ampio pubblico una versione che non tenesse conto del mio punto di vista. On. Fausto Guilherme Longo, e-mail: longo_f@camera.it”