Ao contrário do que circula hoje pela internet, o envolvimento do atual governador de Minas Gerais em processo de reconhecimento da cidadania italiana não está ligado ao caso da “Operação Super Santos”, que investiga cerca de 800 processos e que levou à prisão sete brasileiros, incluindo um sacerdote da Província de Pádova. Romeu Zema Neto teve seu nome incluído na relação dos 1.188 ítalo-brasileiros cujo reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue foi cancelado por ato da prefeita do comune (município) de Ospedaletto Lodigiano, província de Lodi, no Norte da Itália, ainda no início do ano passado. A lista dos nomes está publicada no site da Insieme desde o dia 28 de fevereiro de 2018.
O equívoco em que incorre até o site da agência Ansa no Brasil é facilmente verificável numa rápida pesquisa pela internet e decorre do fato de que os nomes da “lista de Pádova” não foram ainda divulgados pela Justiça ou pela Polícia italiana. O envolvimento do nome do ainda candidato Romeu Zema no noticiário de diversas publicações brasileiras precede à “Operação Super Santos”, como se pode verificar em publicações da época, entre elas o jornal “Valor Econômico”. Informações sobre inúmeros outros processos do mesmo gênero circulam pela internet, mas igualmente sem a publicação dos nomes dos envolvidos.
O Romeu Zema Neto que aparece na segunda das três listas, nasceu em 28 de outubro de 1964, em Araxá – Brasil – mesmo nome, mesma data e mesmo local de nascimento indicados na biografia do empresário e político que venceu as eleições no final do ano passado. Na primeira e maior das listas, um outro Zema, de nome Domenico, também de Araxá, nascido em 15/01/1996, aparece na primeira e maior das listas. As três listas – segundo uma fonte de Insieme – abrigam outros nomes famosos incluindo políticos e até juízes de direito.
Segundo reporta a agência Ansa, o atual governador de Minas Gerais ficou sem passaporte italiano durante seis meses, mas, segundo sua defesa, a situação atualmente está regularizada. “O processo do senhor Romeu e de todos os familiares da família Zema já foi regularizado perante a administração pública italiana comprovando, dessa forma, as suas raízes na Itália e o seu direito ao reconhecimento da nacionalidade italiana”, reporta a agência Ansa ao transmitir informação atribuída ao advogado de Zema, Eduardo Chelotti que, também segundo a Ansa, se encontra em Roma “para tratar do caso”.
No caso de Ospedaletto, em que consta o nome do atual governador de Minas Gerais, é sabido que muitos envolvidos estão recorrendo à justiça para “limpar o nome” através de acordos judiciais – um procedimento que dificilmente é concluído antes do prazo de um ano. Por isso, fontes consultadas por Insieme colocam dúvida na informação veiculada, uma vez que não consta tenha o governador ido à Itália para refazer o processo de cidadania, que só seria possível após essa “limpeza” de seu nome.
Mas, se superado isso, surge outra indagação, não de menor importância: “Se o governador ficou só seis meses sem passaporte, como ele resolveu assim tão rapidamente seu problema e o da sua família?” observa a mesma fonte, perguntando: “Ele fraudou outro endereço italiano, ou furou, então, a fila do consulado da Italia em Minas Gerais?”
Em 19 de novembro, o cônsul da Itália em Belo Horizonte, Dario Savarese, recebeu Zema já na condição de governador eleito, a quem, depois de ter conversado “sobre a futura colaboração num momento em que a Itália está mostrando considerável interesse e atenção significativa para Minas Gerais”, solicitou também o apoio para introduzir o ensino da língua italiana em escolas públicas” do Estado, conforme se lê no site Itália em Minas Gerais. O IPTC (informações internas) da foto publicada com a notíciaq, entretanto, traz a data de 23 de novembro, às 13hs09min.
Hoje à tarde, após as 16 horas, no site R7, foi postada informação segundo a qual o advogado Eduardo Chelotti que afirma que o processo que cancelou o passaporte de Zema decorre de um “conflito processual nas prefeituras no que diz respeito ao tempo mínimo de residência para a abertura dos processos na Itália”, e que, “mesmo esperando um desfecho favorável no próximo mês [para um recurso interposto em Milão], o governador optou por refazer o processo por via consular. Segundo ele, é preciso tomar cuidado com as ‘acusações de fraude'”.
Na sentença da juíza Isabella Ciriaco, de 8 de fevereiro de 2018, foram condenados, além do casal de brasileiros Welliton Girotto e Mariane Baroni Girotto, ambos advogados, outros funcionários públicos italianos que integravam a quadrilha pelos crimes cometidos e confessados, enquanto foram cancelados 1.188 processos de cidadania e cassados todos os passaportes emitidos. Segundo algumas estimativas, somente nesse esquema, a máfia da cidadania italiana movimentou: cerca de 30 milhões de reais.
Na recente operação “Super Santos”, autoridades italianas novamente prenderam brasileiros sob a acusação de suborno a cartórios, servidores públicos e policiais para agilizar – segundo aduz a agência Ansa – o processo de reconhecimento da cidadania, cujo valor estaria na casa de cerca de 30 mil reais por pessoa, valor que se aproximaria de outros 30 milhões de reais. A operação envolve, conforme foi noticiado, até um sacerdote que teria falsificado documento de batismo, daí o nome da operação policial.
Outras operações investigativas sobre a “mafia da cidadania” em território italiano estão em andamento, e a Polícia Federal brasileira já se colocou à disposição para contribuir nessas investigações, inclusive sobre território brasileiro. Em Santa Catarina, anuncia-se a colaboração também da Polícia Civil estadual.