“Quero dizer que minha visita será também oportunidade para falar do referendum. Defendemos os motivos do ‘Não’” (…) Votando “Não’ no referendum se defende a identidade, se defende ainda as competências da região, se defende o nosso grande Vêneto; se defende também a idéia de que não se deve levar todo o poder a Roma. Nós não queremos um país centralista. Queremos um país onde as Regiões contem e sejam sempre mais autônomas. (…) Para nós, essa batalha pelo ‘Não’ é uma batalha crucial em defesa de nossa terra”.
Com palavras assim claras, o governador do Vêneto, Luca Zaia está vindo para Buenos Aires, na Argentina, e para o Rio Grande do Sul, no Brasil, dentro de um programa que envolve contatos com comunidades, associações, empresários e lideranças de todos os setores. Junta-se, portanto, à leva de políticos italianos integrantes do governo que nos últimos tempos aportaram na América do Sul, principalmente na Argentina e Brasil, até aqui em busca do voto pelo ‘Sim’ no Referendum que acontecerá no início de dezembro na Itália, mas que, no exterior, terá início na próxima semana, uma vez que o voto será por correspondência. Além do próprio premier Matteo Renzi, vieram a ministra Maria Elena Boschi, o subsecretário Luca Lotti e, na última segunda-feira, o também subsecretário Vincenzo Amendola – todos integrantes da alta direção do PD, o Partido Democrático.
Zaia, que é um dos expoentes da Lega Nord, partido de oposição ao governo Renzi, chega em Buenos Aires dia 12 e, no dia 15, vem ao Brasil. Na Serra Gaúcha, participará, dia 15 à tarde, da inauguração do último dos cinco Leões de São Marcos integrantes do projeto “Leoni nelle Piazze”, em Santa Tereza, vizinha de Bento Gonçalves, onde também fará visita à Vinicola Salton, além de jantar no Vale dos Vinhedos com centenas de convidados, sob a organização do Comitê das Associações Vênetas do RS e do consultor vêneto no Estado, Cesar Prezzi.
No dia 16, Zaia deverá almoçar na sede da Federação das Indústrias do Estado do RS – Fiergs, dentro de programa organizado pela Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira do RS e do Consulado Geral da Itália – um programa “muito restrito”, segundo o cônsul Nicola Occhipinti. Em oportunidade ainda não sabida, ele terá encontro com o governador José Ivo Sartori que, em meados de outubro, foi recebido em Veneza com uma delegação de políticos e empresários em busca da “ampliação das relações econômicas, culturais e técnico-científicas” entre o Rio Grande do Sul e a Itália. No final do dia 17, segundo Insieme apurou, retorna para Buenos Aires.As razões da visita de Luca Zaia estão contidas numa vídeo-mensagem que distribuiu, pelo WhatsApp, a pessoas ligadas à política vêneta no exterior. Nele o governador diz que para ele essa será uma “oportunidade histórica”. Ao que consta, esta é a primeira vez que um governador do vêneto vem ao Rio Grande do Sul. Zaia tem parentes na Argentina e seu avô nasceu em São Paulo, no Brasil. “Aprendi – diz ele – inclusive de meus parentes, que quem saiu de casa [da Itália] não o fez para girar o mundo enchendo poões de navio, mas levaram honra, respeito, civilização, e o senso de respeito às leis. Tanto é verdade que quem parte de casa, no final, defende seu território” – diz Zaia no vídeo.
Para Santa Tereza, à tarde, o Comvers convocou assembléia extraordinária da entidade, que será realizada no auditório da sede da Prefeitura Municipal local. A inauguração do monumento será às 18 horas e, para início às 20 horas, está previsto “jantar solene” na Villa Michelon, em pleno Vale dos Vinhedos.
Preocupado com a parte cultural da visita do governador Vêneto, o consultor Cesar Augusto Prezzi disse ontem desconhecer as razões políticas da visita de Zaia. Em sua página no FaceBook ele lembrou os outros quatro leões, inaugurados em 22 de junho de 2013, em Flores da Cunha, “gemellata” [cidade irmã] com Sospirolo – Belluno; em 12 de outubro de 2013, em Antonio Prado, “gemellata com Rotzo e Cavaion Veronese – Verona; em 10 de novembro de 2013, em Sobradinho, “gemellata” com Cornedo Vicentino, Vicenza ; e em 22 de dezembro de 2013, em Ilópolis “gemellata” com Auronzo di Cadore, Belluno.
Também segundo Prezzi, a inauguração do Leão de São Marco em Santa Tereza tem diversos objetivos: assinalar os 141 anos de história da imigração italiana no Estado; os 131 anos de fundação da Villa de Santa Thereza em 1885; os 109 anos de nascimento do Monsenhor João Benvegnu, nascido dia 12 e batizado aos 17 de outubro de 1907 nesta paróquia; os 89 anos do início da construção do campanário neogótico veneziano por Massimiliano Cremonese; os 62 anos do nascimento de Pedro José Parenti Neto, o mais importante intérprete de Naneto Pipeta, nascido neste Município aos 3 de março de 1951 e os 6 anos do reconhecimento pelo Iphan-MinC de Santa Tereza como patrimônio histórico e artístico nacional, ocorrido em 5 de novembro de 2010. Assim como nas demais cidades, o ato é do Comvers – Comitê das Associações Vênetas do Rio Grande do Sul e da Região do Vêneto, com a colaboração de municípios gaúchos que possuem pactos de amizade com diversas cidades italianas. Santa Tereza tem “gemellaggio” com San Biagio di Callalta-Treviso.
A escultura de 600 kg do Leão Alado, do Evangelista Marcos, representa a Região do Vêneto (também símbolo da antiga República de Veneza, conhecida como “La Serenissima”) é colocada sobre uma base, ou monolito, de 15 toneladas de basalto – pedra típica da região de colonização italiana – e representa as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos.
Explica ainda Prezzi: “duas das faces deste sólido se projetam para cima e para frente em um movimento de avanço e de elevação. Este monumento perpetuará no Brasil, como obra de arte que eleva o símbolo máximo dos vênetos no mundo, o espírito de paz, a convivência civil e as tradições culturais de ambos os povos”.
O autor da escultura é o italiano de Vizenza, Enrico Pasquale, enquanto a base foi projetada pelo arquiteto brasileiro Vlademir Roman e, em Santa Tereza, o executor da obr foi o engenheiro Márcio Cella.