Todo ítalo-brasileiro com a cidadania italiana ainda não reconhecida deve fazer sua ficha de inscrição no consulado italiano de sua jurisdição, enviando-a pelos correios, através do sistema Sedex 10 AR. “É a garantia que você vai ter, o comprovante da relação jurídica com o consulado”. Embora todos os descendentes sejam italianos desde o ventre materno, “se você não tiver um documento, você não existe”.

O conselho é do recém-eleito deputado no Parlamento Italiano, Luis Roberto Lorenzato (Lega), preocupado com as propostas de mudança na lei que regula a cidadania italiana. Ele também pede para ninguém se sentir inferiorizado por não saber falar o italiano. “Nossos bisavós não falavam o italiano”, e na Itália – raciocina o parlamentar – as minorias linguísticas são defendidas. Milhões de italianos em todo o mundo falam espanhol e português, então “por que não tutelar também essas línguas”, as maiorias linguísticas, que constituem “um ativo para a Itália”?

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Lorenzato falou com exclusividade para o editor da Revista Insieme em sua primeira recepção, já como deputado, sábado de Aleluia, na vinícola da família, no interior de Ribeirão Preto-SP, onde todas as semanas acontecem eventos do gênero. “Minha bandeira é defender o seu direito de sangue porque você nasceu italiano”, disse o deputado que, como segunda meta de sua ação parlamentar, pretende tornar o Brasil mais conhecido em toda a Itália. Transcrevemos abaixo o conteúdo da entrevista, onde ele agradece a seus eleitores e volta a falar sobre a ouvidoria consular:

De onde vem, e quem é Lorenzato

Eu me qualifico como um agricultor, um lavrador. A minha família tem uma tradição agrícola de muitos séculos. Ela se replicou aqui no Brasil também, onde meu bisavô, na grande imigração, veio trabalhar trazendo, no meio de 80 famílias de imigrantes italianos para Ribeirão Preto, entre elas famílias como Lunardelli, Biaggi, Baldo, Marchesi e depois introduziram o algodão no Estado de São Paulo, onde a família chegou a ter cinco algodoeiras, inclusive os Matarazzo foram parceiros nossos no início do século e depois entramos com a cana-de-açúcar, onde estamos presentes em alguns Estados do Brasil. E a minha paixão, o grande amor, que é o vinho. O vinho que une as pessoas. Acho que a questão histórica existe, ela está aí para ser vista. Eu fiz uma homenagem a meu ancestral Arduino, dando-lhe o nome no rótulo do meu principal vinho aqui da casa, da Vinícola Marchese di Ivrea.

Como recebeu o resultado das eleições. Esperava mesmo ser eleito?

Olha, essa pergunta, de ser eleito… todo mundo se candidata pra ganhar, né? Eu tinha esperança de ganhar porque acredito nas minhas propostas e na proposta do senador Pastore. Nós precisamos ser melhor conhecidos pela Itália. A Itália não nos conhece. E os italianos do Brasil… porque você aí de casa, você não é naturalizado, você não vai virar italiano. Você nasceu italiano. Um italiano não igual ao da Itália, porque não tem a língua talvez, mas eles também não falavam o italiano. Foram falar italiano durante a primeira transmissão, pela Rai, de um jogo de futebol. Cada região tem o seu dialeto, cada cidade tem o seu acento (sotaque – NR). Quer dizer, nós somos italianos nascidos no exterior. Isso é inegável.

Como foram seus primeiros dias lá no Parlamento Italiano?

Olha, eu sou advogado de formação, especialista em direito constitucional e internacional, eu não sou político eu me classifico… até me classificava como apolítico, pela minha questão familiar. Mas eu resolvi ser político. “Sono sceso in campo”, desci em praça para poder defender o direito do meu povo, da minha história, que é o direito de sangue, que sempre foi ameaçado pelas esquerdas aqui no Brasil. A primeira semana foi uma experiência fascinante, um grande orgulho como bisneto de italianos entrar no Parlamento e poder representar o seu povo, que é o povo italiano do Brasil, da Argentina, da Venezuela, dos países todos da América do Sul.

Falou na esquerda… combateu a esquerda durante a campanha e a continua combatendo. No que a esquerda lhe incomoda tanto?

Eu não combati a esquerda. A esquerda perdeu as eleições na Itália. A Itália deu um veredito final que feriu de morte a esquerda italiana. O centro-direita foi o maior vencedor na Itália. E o Movimento 5 Estrelas um fenômeno anti establishment, isto é, anti-sistema político. Foi um voto de protesto. Na verdade, eu não combati a esquerda. A esquerda perdeu o seu protagonismo, não só na Itália, como na Argentina com Macri, no Chile com Bachelet, e aqui no Brasil, a experiência que nós tivemos, com o governo federal com Lua e Dilma…

Disse que sua primeira ação seria criar uma Ouvidoria Consular. Quando vai acontecer e como isso vai funcionar?

Olha, o consulado da Italia trabalha muito bem. Porém, obviamente, o número de pessoas é muito grande. Existe uma certa dificuldade. Mas eu como cidadão italiano, que eu sou registrado desde pequeno no consulado, a gente sempre teve dificuldade de ir até São Paulo, às vezes a pessoa não estava bem, não dava um tratamento condigno, às vezes porque não falamos italiano, né? E eles falam o siciliano, o calabres, o vêneto… e também falam mal o italiano… então a gente não tinha para quem reclamar. Eu fazia reclamações para o Cônsul e o Cônsul engavetava. Eu mandava para o Embaixador, e o Embaixador engavetava. Então nós vamos criar uma ouvidoria, um ‘ombudsman’, no qual todo o elogio ao servidor público que está aqui no Brasil e que trata bem o cidadão italo-brasileiro vai ser apurado; toda a crítica construtiva será apurada e eventuais irregularidades serão levantadas com documentação e encaminhadas diretamente para a Procuradoria da República para apurar responsabilidades. Porque aqui ninguém está de favor. O funcionário público vem da Itália trabalhar aqui, ganhando mais que lá e tem que estar muito feliz, porque morar no Brasil é um sonho. A Itália inteira queria vir trabalhar no Brasil. Quem que não quer morar num país como o Brasil? Então a gente só quer respeito e reciprocidade. Tanto é que aquele brasileiro, ítalo-brasileiro que for no Consulado italiano e maltratar um italiano, funcionário público, ele poderá também vir na nossa ouvidoria parlamentar e denunciar o cidadão brasileiro. Então é uma via de duas mãos. O brasileiro que se sentir feliz deve elogiar, se sentir prejudicado tem de reclamar, e o funcionário do consulado também poderá elogiar as instituições brasileiras, os ítalo-brasileiros e também reclamar do cidadão, às vezes pode acontecer… é uma via de duas mãos.

Prometeu intervir pela manutenção do direito de sangue tal como está. Já empossado, divulgou ter detectado uma tendência no Parlamento pela barreira geracional. Tem alguma articulação em seu partido ou mesmo interpartidariamente para impedir isso? Conseguirá cumprir sua promessa?

Primeiramente, nós nascemos italianos. Você aí, de Serafina Corrêa, de Jundiaí, do Mato Grosso, de Córdoba… na barriguinha da mamãe você já era italiano. Então, não há que se falar em tirar nosso direito. É inadmissível a segunda maior diáspora do mundo ser ameaçada com um instituto tão lindo que é o ‘ius sanguinis‘, isto é, o direito de sangue. Nada mais importante do que o sangue, a família que dá o senso de nação e de povo. Ainda mais a Itália que é um país fragmentado em três estados unitários por divergências linguísticas, étnicas, é uma barbaridade fazer isso. E nós vimos no último governo da Itália, movimentos de ex-parlamentares que achavam que deviam restringir para a segunda geração, isto é, para os netos… puxa vida! Estão fazendo de propósito isto? Sabendo vocês que o Brasil é de imigração antiga, padana, trivêneta, do Piemonte até Údine, que vieram em 1874 para o Rio Grande do Sul, vocês querem acabar com os ítalo-gaúchos, que são todos trisnetos? Na Argentina, a imigração foi mais recente – também teve no século 19 – mas a grande parte é meridional e veio nos anos 50. Então a maior parte dos brasileiros é de terceira geração. Obviamente quem já tem o passaporte, a nacionalidade – vamos falar sério – ‘cittadinanza’, exercício da cidadania (nacionalidade é a ‘nazionalità’, é o que é, nós somos, italianos). Quem tem, tem; quem não tem, precisa se cadastrar no consulado. Ah, é direito adquirido! OK, mas se a Itália não sabe que você existe, ela muda a lei e se você não tiver um comprovante de que você existe, ela não te conhece. Como é que nós vamos mudar isso? Nós vamos mostrar para essa mãe Itália o quanto nós somos dignos. O quanto nos sofremos, aprendemos, trabalhamos e ajudamos a construir um país que é a sexta maior economia do mundo. É maior que a Rússia. O Brasil não é um país qualquer. Nós não somos um povo qualquer. Portugal, Espanha, para vocês terem uma ideia, estão investindo ao trazer descendentes de 1500 de judeus sefarditas, porque têm necessidade de gente nova para poder ajudar na economia. E outra coisa, o ítalo-brasileiro, o ítalo-argentino não quer lavar pratos na Itália. Nós queremos ter a segunda casa, nós queremos passear na Itália. Nós compramos Fiat no Brasil, aqui a Tim faz sucesso, aqui compramos no agro-business tratores da Fiat, acreditamos. E nós temos – gostaria de registrar para você, italo-brasileiro que nos assiste – a síndrome da mãe adotiva. Nós temos a nossa mãe adotiva chamada Brasil. Ela é maravilhosa, calorosa, dá o nosso alimento, é solar, mas num certo momento da vida, da maturidade nossa, a gente quer saber quem é a nossa verdadeira mãe. Mesmo que ela seja um ‘po’ freddina, un po’ fredda’, um pouco fria, ela era pobre, porque a Itália era pobre e não tinha condições de nos cuidar, tivemos que sair para o mundo, a gente quer conhecer essa mãe. E essa mãe se chama Itália. Ninguém tem o direito, de qualquer ideologia, de mudar o que nós somos. Eu vou até no Tribunal, na Onu e Haia, contra isso. Não dá. É inegociável. São quesitos inegociáveis.

Pregou a “cidadania automática” desde que não exista a interrupção por renúncia desde o bisavô até os requerentes. Como isso funcionaria na sua concepção?

Devolvo esta pergunta às autoridades competentes. A lei é clara: quem é italiano? É de sangue italiano. Então a pessoa nasce italiana. O cônsul sabe, o operador do consulado sabe. Não existe um decreto: a partir de hoje, o sr. Luis Roberto di San Martino Lorenzato passa a ser italiano. Eu sou italiano a partir de minha concepção. Na Barriga da mãe. Pode nascer no Kuwait, no Paraguai, na Itália… quantos italianos nasceram na Suíça eforam trabalhar na Bélgica, na Argentina e no Brasil? Então, nós somos italianos automaticamente. Quem tem que provar o contrário são as autoridades. Então a meu ver, juridicamente, e esse é o entendimento da Corte de Cassação, você nasce italiano. Chega no consulado e diz: “sou italiano, aqui estão meus documentos, não existe interrupção e eu quero o meu registro anagráfico, quero a minha identidade, quero o meu passaporte”… Tem brasileiro que não tem passaporte e é brasileiro. Não é necessário ter passaporte italiano. O passaporte é um documento para quem vai viajar. A cidadania é o exercício da sua nacionalidade. A sua nacionalidade é italiana. Se você tem um ancestral italiano, um avô, uma avó, você é italiano. Então, é automático. Sempre foi. Eu não inventei nada. A cidadania é automática. Ou alguém que me prove com um decreto presidencial de que você passa a ser italiano…. O que o consulado faz? Ele pega o teu documento e manda para o cartório do lugar onde seu avô nasceu para registrar uma réplica, um espelho do seu ato de nascimento. Isso é maravilhoso, é um patrimônio imenso.

Num vídeo recente, convocou todo mundo para se alistar nos consulados, falando de uma fila de 30 milhões de oriundos. Onde quer chegar com essa – digamos – quase “invasão” dos consulados?

Eu não disse para invadir os consulados. Eu convoquei as pessoas para fazerem a ficha de inscrição. E geralmente isso se faz pela Internet. Você baixa uma carta da Internet, você preenche. E eu disse para as pessoas: mande por sedex 10 AR, que é a garantia que você vai ter, o comprovante da relação jurídica com o consulado. Se você não tiver um documento, você não existe. Não está nos autos, não existe no mundo jurídico. Porque eu quero é preservar a Itália. A Itália tem uma oportunidade ímpar de ter uma outra Itália fora de suas fronteiras que são pequenas, limitadas geograficamente, sem o ônus de ter um país. Então nós temos grandes empresários na Argentina, no Brasil … quanto custa – eu vou dar um exemplo só – um grupo de etanol brasileiro comandado por italianos. Alguém já mediu o PIB dos ítalo-brasileiros e dos ítalo-argentinos, no mundo? Será que é importante? Quanto é essa economia? Quanto vale isso? Nós vamos jogar fora, por uma questão ideológica, a nossa história? A minha empresa – um grupo familiar – somos italianos, por conseguinte a nossa empresa é italiana. Não dá para entender… É óbvio isso. E qual o país que não gostaria de ter isso? Os judeus convocam os judeus do mundo inteiro para ir para Israel, fazer intercâmbio e a Itália não quer? Queria fazer uma ressalva para vocês: os brasileiros compraram grande parte das propriedades na Flórida; estão comprando agora em Portugal. Por que nós não vamos comprar na Itália a nossa segunda casa; por que que nossos não vão fazer a escola de Medicina na Itália com tarifas, para quem vem do exterior, praticamente de graça se você não tiver condição? Por que não vamos exercitar… nós compramos as calças Armani porque somos italianos, essa síndrome… Então temos aí que a Itália é a maior beneficiária. Muitas pessoas me pedem que querem contribuir com a Previdência italiana, para poder se aposentar aqui ou lá, ninguém sabe, ninguém sabe o dia de amanhã. Tem um acordo bilateral, que não fui eu que inventei entre o INPS brasileiro e o italiano onde basta você colaborar tanto tempo na Itália e tanto tempo no Brasil, isso é válido. A Itália já foi protagonista. Nós já fizemos a América. Ninguém quer voltar para invadir consulado nem invadir a Itália. Nós queremos colaborar. O turismo de luxo em Roma – vou dar um da do para vocês -, cinco estrelas, é de brasileiros que vão lá para ver o Papa. Vocês não querem? Quer dizer, a Itália não está precisando de investimentos, não precisa vender casa, de gente que recolhe o INSS, não merece tecnologia? Tem uma fuga da Itália, um novo fenômeno: quantos novos imigrantes estão vindo para o Brasil, casam com brasileira, ou vêm trabalhar aqui, vão para os Estados Unidos… centenas! Amigos meus que da Itália que vão para a Bélgica, para a Holanda porque não têm emprego na Itália… não dá para entender porque a Itália, porque este último governo ou os últimos governos… porque eles não nos conhecem. Então, infelizmente, a única forma de se apresentar e mostrar que nós não somos mais simples e humildes camponeses. Nós somos temos professores, policiais, médicos, empresários, temos cientistas… somos protagonistas. E este é o lado lindo da Itália.

Lorenzato Falava em sua campanha de “tornar os ítalo-brasileiros conhecidos na Itália”. Como isso vai acontecer?

Bom, como ítalo-brasileiros, eu fui a primeira fundação – minha família – que patrocinou 98 programas. Durante dois anos eu promovi o “made in Italy” aqui no Brasil. Eu mostrei a Itália e o Brasil e suas sinergias. Eu gravei a casa em que nasceu o pai de Cândido Portinari, que era de esquerda, grande artista, que pintou na Onu… A Itália não sabe do Cândido Portinari. Eu fui numa mostra em Treviso, dos impressionistas, e os três Van Gogh’s que estavam em Treviso, na Fundação Casamarca, foram doados por Geremia Lunardelli, que era um imigrante pobre que veio trabalhar com o meu avô, de Oderzo, lá em Sertãozinho. Puxa vida, como é que um camponês doa três Van Gogh’s para Masp e vem aqui para um museu da Itália? Quer dizer, a Itália não nos conhece. Infelizmente, para conhecer, precisa ter interesse. A Itália vê o Brasil como praia, como carne, passeio, mulher bonita. A Itália agora vai ver agora um Brasil protagonista. Um Brasil positivo, um Brasil que trabalha, que constrói aviões da Embraer que já tem parcerias com a Itália, um país que é protagonista nas energias renováveis que é um grande campo de investimentos para a Itália aqui. O Brasil tem empresas de proteínas na Itália, não vamos esquecer que o Brasil é líder global em proteína animal, em cerveja. Temos grandes vinícolas no Brasil também que, modéstia à parte, estão fazendo sucesso. Então essa é a grande oportunidade, é se apresentar. Mas o brasileiro ficou inibido. Tem gente que está magoado com o tratamento que tem recebido. Tem até se distanciado do nosso amor com a Itália. Está tão difícil de chegar até você, Itália, que a gente está começando a ficar cansado. Então, por esse motivo, eu quero promover as relações. Sem demagogia, Não sou político, não faço política. Sou empresário e tenho a honra de ser empresário. Sou advogado por formação, exerço a minha profissão. Eu acho que é muito fácil fazer isso. É só se apresentar. Namoro e casamento é certeza.

Como analisa, ou como vê o processo do voto dos italianos no exterior?

Eu acho que dessa vez o consulado trabalhou perfeito. Quero dar os parabéns aos consulados no Brasil e no exterior. Todo mundo que perde as eleições joga a culpa na fraude e coisa e tal. Incrivelmente, vocês perceberam que diminuiu o número de votos? Teve um código de barras. Então eu acho que essa foi a eleição mais honesta, apesar de que tem situações lá – eu fui acompanhar a contagem dos votos – em que anulavam o voto porque não tinha o “x” e sim um “check” [sinal de visto]. Então muitos votos meus foram anulados porque estava o meu nome inteiro, com os três sobrenomes, mas ao invés de um “x” tinha um “check”. E, claro, o rapaz da mesa disse que não valia, enquanto a outra mesa ao lado dizia que valia. Então, isso aconteceu para todo o mundo. Então, na média, todo mundo ganhou e todo mundo perdeu.

Esse canal de comunicação de que falava com o eleitor, envolvendo também a área empresarial, etc., entre o parlamentar e seus representados, como vai ser?

Como eu disse, minha família tem luta desde 1901 no Brasil. Eu fiz parte de vários conselhos da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, participei da Confindustria quando vieram delegações deles aqui. E sempre fica aquele blábláblá e nada acontece. Porque não existe base de apoio consolidada. Então o primeiro passo é identificar quais são os operadores na Itália que compram do Brasil e vendem ao Brasil e vice-versa e propor… por exemplo, o nosso senador, é um grande industrial. Ele comprou uma fábrica inteira na Itália. Ele poderia ter feito um financiamento na Itália. Ele não sabia dessa possibilidade. Então, existe essa possibilidade.

Mas como será essa comunicação?

Nós vamos ter uma plataforma digital onde vai ter a Ouvidoria e também os deveres e obrigações. Primeiro eu queria fazer uma crítica: você, ítalo-brasileiro deveria ter ido votar. Foi muito baixa nossa votação. A gente quer ser italiano e até às vezes a gente reclama com razão, mas para você poder reclamar, tem que exercer a sua cidadania. Você tem que exercer o seu direito de voto, que é a maior arma que você tem para mudar a sua correlação. Então nessa plataforma digital – porque é humanamente impossível, eu fui eleito num colégio eleitoral em que, só o Brasil, é 28 vezes maior que a Itália; não dá para você estar em todas as cidades, todos os países da América do Sul – então vamos fazer essa plataforma digital com as ferramentas lincadas com as empresas e instituições correspondentes que a gente tem aqui. A “prima casa” eu sei pela internet. Qualquer um sabe disso, é só procurar. É só juro de 0,8% para o casal que casa e compra a primeira casa. Os demais juros são muito mais baixos, de 0,9 até 1,5% ao ano. Então por que você vai comprar uma casa na Flórida se você pode comprar uma casa na Itália financiada, dando uma pequena entrada? Eu tenho clientes e amigos que compraram a casa onde nasceu o avô na Itália. Quanto custa isso para a Itália? Isso é um valor imenso espiritual, familiar, de senso de um povo. Nós somos um povo, antes de tudo.

O que está acontecendo com a famosa reciprocidade das carteiras de habilitação de que falavam seus colegas na legislatura anterior?

Olha, vocês me desculpem, eu fui 183 vezes à Itália e eu sempre usei minha carteira brasileira, nunca ninguém me pediu a carta vinculada e coisa e tal. Eu achei até um pouco meio engraçado a única coisa conseguida até hoje foi fazer um acordo de carteira de motorista. Mas durante a campanha eu fiquei sabendo que muitos brasileiros que trabalham na Itália querem poder dirigir, ser motorista de caminhão, de taxi, e não têm mil euros para fazer uma carteira de habilitação na Itália. Ou têm alguma dificuldade. Então eles querem se beneficiar disso. Agora é um problema do Brasil. O acordo já tem. Me parece que cada Estado brasileiro tem uma carta diferente, e não foi juntado. Eu pedi a um parlamentar brasileiro a pedir ao Denatran que junte todos – é uma coisa banal – todos os modelos de carta de motorista nesse acordo que dê validade, provimento, ao negócio. Mas eu não entendo qual é o interesse, se tem tantos brasileiros assim precisando de carta da Itália, entendeu? Acho que é importante essa reciprocidade, mesmo para quem é caminhoneiro na Itália e quiser vir trabalhar no Brasil, terá esse direito, mas também qual é o problema de você tirar uma carta na Itália? Quantos brasileiros que compram casa na Flórida e também tiram carta de motorista na Flórida… é uma coisa que é natural, é uma coisa de tempo.. a autoridade brasileira… não compete ao Parlamento italiano, à autoridade italiana. O acordo existe. Compete agora ao Denatran cumpri-lo.

Língua e cultura italiana. De lá e de cá. Cultura ítalo-brasileira. Sobre isso, o que pensa?

Olha, eu gostaria de deixar vocês bem tranquilos. Os nossos bisavós não falavam o italiano, exceto os toscanos no mundo. Todo mundo falava o piemontês, o vêneto, ou o calabres que é uma maravilha. Então, não se sintam inferiorizado porque vocês não falam o italiano. Tivemos duas grandes guerras mundiais. O Brasil ajudou… a Itália não sabe que 500 morreram pela Itália. Não sabem. Acham que só americanos, Nova Zelândia… então, a questão da língua é uma consequência natural. Na Itália, se defende as minorias linguísticas. O albanês, o ladino, o alemão…. e os dialetos, que são línguas maravilhosas como o napolitano e o vêneto. E por que não tutelar – preste atenção! -, não uma minoria linguística, uma maioria linguística que fala espanhol, porque não? Espanhol é a segunda língua mais falada do mundo. Isso é um ativo para a Itália. Existem milhões de italianos na América Latina que falam espanhol. E existem milhões de italianos que falam português, que é a quarta, quinta língua mais falada do mundo. Por que não tutelar também essas línguas? Quer dizer, a Itália fala português, espanhol, italiano, albanês… Se nós consideramos as minorias, imagine nós, que somos a maioria? Então a relação cultural ela nasce do conhecimento. Eu fiz uma pesquisa numa prefeitura da Itália, em Trevignano que tem 11 mil habitantes. E eu perguntei para o prefeito: quantos italianos são registrados no exterior e ele respondeu, mil e quinhentas pessoas. Puxa vida, 15% de vocês moram fora, e ele falou, 90% no Brasil. E você nunca mandou uma carta para eles para vir conhecer a cidade, conhecer seus pontos turísticos, comprar um imóvel, trazer um filho para estudar… porque vocês não aproveitam essa ferramenta? Estamos aqui.

Como vê a Itália de hoje, com seus problemas, sua imigração de gente da África e do Leste Europeu em confronto com a grande comunidade italiana da América do Sul e do Brasil?

Nós temos dois pontos a serem considerados e eu exijo respeito quando falam de imigrantes italianos no Brasil. Primeiro porque nós nunca fomos clandestinos e ilegais. O passaporte de meu bisavô tem o símbolo do consulado do Império do Brasil em Milão. Presta bem atenção. Os italianos vieram para cá com passagens pagas, passaporte emitido, visto e vacina e eles eram requisitados. Nunca vieram para substituir mão escrava. Tanto é que os escravos foram libertados e continuaram nas fazendas trabalhando. Vieram para somar, para ajudar. Faltava mão-de-obra, e o Brasil tinha uma imperatriz – a Tereza Cristina de Bourbon – italiana, e o nosso imperador Dom Pedro II, filho de uma austríaca dos Habsburgo, que sabiam que no Norte da Itália, no Vale do Pó existiam agricultores natos e essa nata, “crem della crem” em francês, na agricultura padana veio aportar no interior de São Paulo e no Sul do País. Olha a agricultura que nós temos hoje em Roraima, no Mato Grosso, na Bahia, como o segundo maior produtor de soja, de cana-de-açúcar, de milho, de proteína animal, essa é a força do imigrante. Agora o clandestino ilegal, me desculpe, tráfico humano, do qual um pobre africano islâmico paga até cinco mil dólares, na miséria, para atravessar o Mar Mediterrâneo e entrar na Itália, isso é um crime contra a humanidade. Acho que os países da Europa deveria ter previsto isso antes. Mas houve um problema da “primavera árabe” que, todo mundo sabe, derrubaram o Kadafi, Mubarak e tentaram derrubar o Assad… e 500 mil crianças morreram na Síria, tudo bem… entrem quantos quiserem… Agora, a emigração – quero registrar, que fique gravado, depois eu cobro essa gravação – ela é rica, ela é bem vinda quando ele é necessária, quando ela é valorizada. Porque esse migrante na Itália ele também sofre. Ele é maltratado, ele passa frio, ele passa até fome ele não consegue emprego… não tem emprego nem para os italianos! Quer dizer, vamos ser razoáveis, vamos equilibrar: nem tudo é tão bem, nem tudo é tão mau, nem tão ruim. Agora, ninguém vai achar ruim se vierem pessoas qualificadas, quando têm necessidade. Onde vão colocar esse monte de gente, deixá-los na rua, dar um vale-diária para eles de 30 euros. Está havendo vários problemas na Itália. A imprensa só mostra a pessoa que agrediu o imigrante, aliás, o clandestino – imigrantes somos nós. Agora quando o clandestino assassina e picota uma pessoa, a imprensa fica quieta. Acho que tem que ter o respeito. Nem tudo é tão feio assim, nem tudo é tão bonito também.

Falando para seu eleitor: que mensagem tem para ele nesse momento e para a grande comunidade ítalo-brasileira?

Gostaria de agradecer a todos vocês que me deram um voto de confiança. Foi minha primeira eleição. Não sou político. Estou no cargo de deputado para representá-los. Irei fazer o meu melhor. Serei a sua voz e também os seus olhos lá. Eu não pude deixar de denunciar a jogada da esquerda de querer enfiar goela abaixo – vamos usar uma expressão bem brasileira – a lei do ‘ius soli’, porque é uma moeda de troca: tenta dar o ‘ius soli’ para poder tirar o ‘ius sanguinis’. Então eu serei – se isso é oposição ou é um problema – eu serei um problema porque eu vou defender você, italiano, nascido no Brasil. Você que tem a cidadania, e principalmente você que não tem. Por isso eu peço que você que ama a Itália e que se sente italiano, entre no site do consulado, faça a sua ficha, mande-a para o consulado. Que demore dez, quinze ou vinte anos, você já nasceu italiano e uma hora você vai ter. Deve melhorar, a gente tem que lutar. É verdade que um deputado não é executivo, é legislativo, nós temos o papel de fiscalizar. Isso uma hora vai ter que mudar. Agora, vamos melhorar as relações, vamos nos respeitar, vamos ativar a cultura no negócio e vamos ser felizes. Vamos fazer a América de novo. “Prima gli italiani” e eu digo sempre: “gli italiani siamo noi”.

Entende mesmo que essa proposta do ‘ius soli temperato’ tem o objetivo de eliminar o ‘ius sanguinis’?

Olha, a questão da… toda reforma da cidadania, você sabe como é que entra o projeto de lei, mas não sabe como ele sai. Você não sabe quem vai estar o governo, você não sabe como virão aquelas emendas. Porém, o último governo já declarou em vídeo, inclusive na revista Insieme, que chegou a hora de discutir a segunda geração. Quer dizer: puxa vida, fere de morte o Brasil. Então, a Espanha já chegou a dar passaporte para neto e tirou. E o direito adquirido? Pergunta para a Espanha! Estão tentando fazer voltar. O trentino deu e agora quem não conseguiu fazer a fila, perdeu o direito. Ou é, ou não é, sabe? Existe, sim, um consenso – porque eles não sabem o que espera para eles. Eles tem medo… falar em 30 milhões de brasileiros, 40 milhões de italianos no Brasil… Mas eles não estão entendendo que nós não queremos ir morar lá na Itália, nós queremos exercer nossa cidadania, nós queremos colaborar. A verdadeira riqueza “siamo noi”. O Salvini dizia que a grande riqueza – até de uma forma brincando, mostrando os imigrantes – como é que esse pessoal vai pagar o nosso INPS, a nossa contribuição, com um trabalho ilegal, vendendo roupas na rua… ‘povera gente’, pobres coitados, eles não têm culpa, são clandestinos. Agora nós, não, somos diferentes, somos italianos natos, tá certo? Então, respeito com a gente!

No mundo diplomático entre Brasil e Itália, há uma pedra no sapato. Chama-se Cesare Battisti. Com o novo governo italiano, isso pode mudar?

Não depende do governo italiano. O Supremo Tribunal Federal do Brasil deu a condição para que ele fosse extraditado. Ele é um assassino. Ou nós estamos brincando de Itália? A Itália é um país sério, soberano, tem uma Justiça séria, independente. É uma potência global. Ou nós estamos achando que a Itália é uma piada? Ele foi condenado, tem que cumprir a pena dele, é um absurdo. Infelizmente, o presidente da República de então, deu, no último dia de seu governo, a autorização para que ele ficasse no Brasil. Nós fizemos um manifesto juntamente com o Pastore pedindo a extradição dele. E já pedimos audiência com o presidente Temer, na qual irei representando os meus eleitores e todos os que assim se considerarem para [pedir] que o presidente Michel Temer deporte o quanto antes esse sujeito para ele cumprir a sua condenação no país soberano República Italiana. A Itália é um país sério com uma justiça séria. Nós não estamos falando de um país qualquer. A Itália é o berço do Direito, o Direito nasce na Itália e acho que a Itália merece respeito. A Itália deportou para o Brasil ítalo-brasileiros que andavam por lá aprontando falcatruas, foram com documentos falsos ou deram o golpe no Brasil. Agora chegou a hora do Brasil, o presidente atual deportar o Cesare Battisti.

O eleitor ou o ítalo-brasileiro, como pode ter contato com o deputado Lorenzato? Terá escritórios regionais, girará o país?

O mundo é globalizado, como disse, o Brasil é 28 vezes o tamanho da Itália. Nós vamos ter uma plataforma digital. Vamos encurtar distâncias, tudo via digital, documental. Vamos ter PECs, que são e-mails oficiais para poder dialogar. Minha bandeira é defender o seu direito de sangue porque você nasceu italiano – Um. Dois: apresentar o Brasil de uma forma positiva para que o Brasil nos conheça e que deseje namorar com a gente e casar com a gente.