Visão parcial do Etna, na cidade de Catânia - Sicília. (Fotos e conceção Insieme)

Outro caso de ítalo-brasileiros envolvidos com a polícia e justiça italianas em decorrência da busca pela cidadania italiana ‘iure sanguinis’ em território peninsular. Agora é em Catânia, cidade situada aos pés do vulcão Etna, na região da Sicília, onde quatro funcionários municipais teriam recebido dinheiro para encaminhar documentos “em favor de brasileiros”, segundo noticiam os jornais deste dia 30 sem, contudo citar nomes.

A operação policial levou o nome de “Tudo incluído”, em alusão aos valores cobrados – que oscilavam entre 5 e 5,5 mil euros – para a solução completa de um pedido de reconhecimento de cidadania italiana, incluídos gastos também com moradia. O período para a obtenção dos documentos italianos oscilava entre 12 e 14 dias.

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“As investigações dos polícias do pelotão móvel, coordenados pelo Ministério Público Distrital, permitiram reconstituir a existência de uma comissão empresarial transnacional, que atuava no setor da compra e venda de cidadania italiana através do sistema “iure sanguinis” em favor de brasileiros, com a complacência de funcionários infiéis do município de Catânia”, comenta o jornal “Catania Oggi”.

O “Giornale di Sicilia” conta que, entre as medidas tomadas, estão “nove prisões domiciliares”, mas assinala que um dos nomes não foi encontrado por “tratar-se de um brasileiro residente em seu País”. Exatamente esse nome seria “um dos organizadores” do esquema. Associação criminosa, favorecimento de imigração ilegal agravada de ser com fins lucrativos, corrupção, falsificação de documento público são algumas das acusações que pesam sobre os investigados. A agência de atendimento tinha sede à rua Alcide De Gasperi, na cidade de Catânia.

Entre os servidores colocados em prisão domiciliar estão um guarda civil, responsável pela certificação da residência, uma integrante do ‘gabinete para estrangeiros’, a responsável pelo departamento de cidadanias e um funcionário do arquivo de registro civil. Uma das provas apresentadas pelo Ministério Público consiste num vídeo feito com câmera escondida no setor de cidadania da Prefeitura da Catânia.

Segundo o site Sky/TG24, a administração municipal constituir-se-á parte civil no processo contra os funcionários envolvidos – um dos quais já estava suspenso do serviço devido a outro processo disciplinar.

O jornal “Eco di Sicilia” fornece outros detalhes da operação, citando nomes inclusive, mas apenas com as iniciais. O proprietário da “agência”, segundo o jornal, é um ítalo-brasileiro há diversos anos residente na Catânia. Ele teria 55 anos de idade.

Este é o segundo caso do gênero nos últimos quinze dias. O anterior foi registrado na cidade de Crescentino, entre Milão e Turim, envolvendo a empresa “Verona Cidadania”, de propriedade de ítalo-brasileiros da região de Criciúma-SC, onde a empresa também tem sede. Simone Frassini e o filho Raphael, que moram na Itália há anos, lá continuam sob prisão domiciliar e respondendo a processo que envolve também a acusação de corrupção de funcionários públicos em processos de reconhecimento da cidadania por direito de sangue.

Há cerca de 15 anos, com o aumento do tempo de espera nas chamadas “filas da cidadania” diante dos consulados italianos que operam no Brasil, recrudesceu a procura de interessados que vão à Itália para lá fazer a comprovação de descendência italiana e, assim, obterem o reconhecimento ‘iure sanguinis’. O fenômeno fez surgir também inúmeras “empresas de cidadania” ou simplesmente “assessores”, que prestam todo tipo de serviço – desde a recepção nos aeroportos, tradução até acomodação temporária na Itália, orientação geral e encaminhamento de papeis.