Ao comentar sobre o acordo União Europeia-Mercosul, que se encontra bloqueado por alegadas questões ambientais, o embaixador da Itália no Brasil, Francesco Azzarello, não quis emitir juízo sobre as críticas que pesam contra o Brasil, um “país amigo”, e disse que a Itália sempre foi favorável ao acordo. “Nós achamos que é muito melhor ter os países dentro do acordo que fora; quando um país está dentro de um acordo, ele tem direitos e deveres”, disse o diplomata.

Azzarello, admitiu que em termos mundiais “nós temos um problema climático” e que existem “países que emitem [gases de efeito estufa]” mas especificamente em relação ao Brasil, “a única verdade são os dados”. “Temos países que emitem, que não é o Brasil. São mais países do mundo ocidental ou do mundo asiático”, disse o embaixador em sua primeira visita oficial a Curitiba, no início da semana.

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O diplomata falou na mesma oportunidade (entrevista coletiva concedida na manhã do dia 24, cujo conteúdo estamos publicando em etapas) também sobre cooperação em diversos níveis na área militar e civil e sobre rotas do tráfico de drogas, ao responder perguntas de Andrea Torrente, do Jornal Plural, de Curitiba. Como fizemos no vídeo anterior, a transcrição da fala de Azzarello é a mais integral possível:

São duas as perguntas. Primeiro eu gostaria que o senhor esclarecesse melhor o que os representantes da Leonardo vieram fazer aqui no Paraná. E também sobre o acordo de cooperação entre a Guarda de Finanças e a Receita Federal. Segundo, o senhor falou do agronegócio. A gente sabe que o agronegócio brasileiro está muito ligado a problemas de caráter ambiental. Inclusive é um dos entraves para que seja finalizado o acordo Mercosul com a União Europeia, junto com o problema de protecionismo que a Europa colocou na mesa porque teme a invasão de produtos brasileiros. Queria que o senhor avaliasse essa questão.

Sim. São perguntas mais difíceis do que as perguntas da comunidade italiana… não, não são difíceis… é fácil. Então, o presidente da Leonardo está aqui, é Francesco Moliterni, da Leonardo – Brasil, ele é vice presidente da Leonardo – América Latina. A Leonardo é a Itália no setor da defesa. Tem uma história de 40 anos com o Brasil e uma história de grande sucesso. O programa AMX é muito conhecido – o treinador de [piloto] de caça – e no setor civil. O líder dos helicópteros especialmente para o setor do oleo e gás, mas também no setor dos helicópteros VIP, Syber, Drone, tanto de uso civil ou militar. E a filosofia italiana em geral é precisamente – que Leonardo é controlada, é uma sociedade por ações, na bolsa, controlada pelo governo italiano – é de fazer parceria com os brasileiros. Isso é muito importante.

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Tem gente que vem aqui para vender. Eu vendo e vou para casa. Depois tem o problema da manutenção. E manutenção a gente não sabe…. é uma coisa muito importante: eu vendo uma coisa mas, depois, precisa fazer a manutenção. Se não tem uma estrutura aqui para fazer a manutenção… No caso específico, o Brasil tem problema. Depois você pode falar diretamente com Francesco, ele está aqui. Com o Coronel Francesco Pallida você também pode falar depois sobre o acordo específico da Guarda de Finanças com o estado do Paraná. Sobre ele eu não sei nada, mas Francesco vai explicar bem. Mas é um pouco uma delegação. Aqui não temos a Junta da Defesa… Pode ser útil. Nós vamos visitar o general Castro. Porque nós temos muitas conversas com o Brasil. Na esfera federal, em Brasília, mas temos que fazer também na esfera estadual.

Eu aprendi recentemente que o Estado do Paraná e os Estados de Minas e do Rio Grande do Sul são Estados estratégicos para o Brasil. Você tem outros três países aqui, tem várias coisas, também o tráfico da droga. A Itália trabalha muito bem, muito junto com os brasileiros em vários níveis. E nós temos que fazer isso em nível estadual sempre mais forte em vários [roteiros de] tráficos, porque depois os tráficos vão aos Estados Unidos, à Europa Norte, a Europa Sul… e à África agora para chegar na Europa, porque é mais difícil por exemplo chegar na Itália. Portanto, temos um trabalho importante nesse sentido e, depois nós temos que aumentar a cooperação também na área de intercâmbio de tecnologia e outras coisas, onde a Polícia Militar e as várias polícias do Brasil já têm experiência e intercâmbio de pessoal, de conhecimento pessoal é mais importante para brasileiros que vão à Itália e italianos que estão aqui. Isso aparece em relação às duas sociedades.

Sobre a questão ambiental… ah, sim, sobre o Acordo com o Mercosul: A Itália foi sempre a favor do acordo da União Europeia-Mercosul. Nós achamos que é muito melhor ter os países dentro do acordo que fora. Quando um país está dentro de um acordo, ele tem direitos e deveres. Tem países da Europa que têm problemas, críticas sobre a questão ambiental no Brasil. Eu não vou comentar a política interna brasileira, eu sou um embaixador, amigo do Brasil. No geral, não importa qual governo, qual parlamento, nós somos sempre amigos. São coisas que o governo brasileiro tem que avaliar… avaliar, não… difícil, são palavras que peço aos jornalistas e diretores de jornais para não instrumentalizar minhas palavras num sentido ou outro, porque eu sou neutro. Portanto, o acordo com o Mercosul está bloqueado no momento devido a questões ambientais, desmatamento… A coisa importante são os dados.

A União Europeia tem um diálogo contínuo com o governo brasileiro. Diálogo como aconteceu na COP-26 e outras coisas. Todo mundo tem a sua razão, não? Certamente ao nível mundial nós temos um problema climático. Temos países que emitem, que não é o Brasil. São mais países do mundo ocidental ou do mundo asiático. O Brasil é diferente. Entretanto, nós somos sempre otimistas por definição. Eu queria que as coisas vão, eu espero, melhorar. E a única verdade são os dados. Os dados são a realidade concreta. Eu respondi mais ou menos? Mais, ou menos?