Depois de uma batalha quase campal de dez dias no Senado italiano, o senador Ricardo Merlo ainda exultava hoje pela vitória conquistada em relação aos italianos no Exterior durante a votação do ‘maxiemendamento’ que balisa o orçamento do governo para o próximo ano: 350 novos funcionários para os consulados, aumento de salário para os atuais contratados e a garantia – oficialmente ainda não admitida – da instalação das duas agências consulares de primeiro grau em Florianópolis-SC e Vitória-ES.

A proposta, aprovada sob voto de ‘fiducia’ (confiança) por 167 votos contra 78 e 3 abstenções, vai agora à Câmara dos Deputados, onde a confirmação é dada como certa nos últimos dias do corrente ano. Segundo o subsecretário para os italianos no mundo, os novos contratos devem ser somados àqueles já anunciados anteriormente, o que determina, segundo ele, “uma clara inversão de tendências” em relação aos últimos governos que produziram um encolhimento contínuo dos recursos consulares para atendimento dos italianos no exterior.

PATROCINANDO SUA LEITURA

Ainda segundo disse Merlo nesta manhã a Insieme, dos 350 novos funcionários consulares, 200 serão de terceira categoria, isto é, pessoal destinado à confecção de passaportes e ao atendimento da ‘fila da cidadania’; 100 serão de segunda categoria, que são contadores e assemelhados; e 50 ‘contrattisti’ a mais da centena recentemente anunciada. O senador não soube dizer quantos dos novos contratos serão destinados ao Brasil. “Mas certamente será um número importante”, disse ele.

“Estamos contentes porque o Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ conseguiu obter este resultado”, gravou em pequeno vídeo postado nas redes sociais o senador Ricardo Merlo. “Uma saudação a todos e votos de Feliz Natal”, disse ainda o senador ítalo-argentino. “Vencemos uma grande batalha para os italianos no exterior”, enfatizou Merlo, acrescentando que “venceremos esta batalha por melhores serviços consulares e contra as máfias dos agendamentos”.

“Evitamos que toquem na imprensa italiana no exterior e todos os demais serviços mantiveram os níveis de financiamento”, contrariando a tendência de anos anteriores quando a rotina eram cortes, disse ainda Merlo a Insieme. Segundo o site do porta-voz oficial de Merlo, o senador “colocou sobre a mesa todo o seu peso político e venceu”. E isso representa “uma mudança histórica em relação ao passado”. “Pela primeira vez, há décadas, não existem cortes. Exatamente assim: nada de cortes para os italianos no mundo na lei orçamentária”.

O site enumera que a vitória maior diz respeito ao reforço da rede consular, “uma clara mudança de tendência em relação aos últimos anos, quando o pessoal da rede consular foi diminuído constantemente, exatamente quando os italianos no mundo aumentavam (de número)”. “Alguns números?” – pergunta o site, para responder: “nos primeiros anos do governo do PD a dotação de pessoal na rede consular passou de 1546 (em 2014) para 1502 (em 2015)”. O CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’, que em 2013 recebeu mais de 1,1 milhão de euros, em 2017 obteve menos de 300 mil euros e nos próximos anos receberá 607 mil euros.

As agências de imprensa voltadas aos italianos no mundo, segundo a mesma fonte, nada receberam de 2015 a 2017; de 2018 a 2021 receberão 400 mil euros por ano; para a difusão da língua e cultura no mundo, a dotação mais baixa foi verificada em 2016, com apenas 54 milhões de euros; em 2019 terão quase 78 milhões de euros, cifra também confirmada para o ano seguinte.

Desde 2010 até o ano passado, foram fechadas mais de 50 sedes consulares (o site relaciona uma a uma as sedes fechadas), enquanto o atual governo não fechou nenhuma, ao contrário,”renovou” sedes diplomáticas como as do Panamá, do Recife, no Brasil e, em breve, a de Montevideo, no Uruguai. “Este é o Maie no governo”, termina o site, dizendo que “não poderia existir melhor presente de natal” para os italianos no mundo.

Há alguns dias, em Recife, entrevistado por Insieme logo após a inauguração da sede consular da região Nordeste, o senador Merlo falou sobre o que está mudando no curto período em que se encontra à frente do setor que comanda as políticas para os italianos no exterior. Admitiu que filas da cidadania ainda persistem, mas que aos poucos as pessoas podem ir percebendo que as coisas vão melhorando.

A ordem geral, segundo ele, é “melhorar os serviços consulares”. Questionado sobre as propostas e críticas apresentadas pelo presidente do Comites do Recife, Daniel Taddone, em carta aberta, ele disse que “não é fácil, não é mágico, não é imediato”, mas que está trabalhando sobre os problemas apontados.

E ninguém mais fala da “taxa da cidadania”? Sempre crítico em relação à taxa dos 300 euros para qualquer processo de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue, que vem sendo cobrada desde julho de 2014, Merlo disse que a culpa é de quem a introduziu e que, depois de introduzir uma taxa, é sempre difícil retirá-la. Mas “continuamos a dizer que é uma taxa totalmente injusta”, afirmou o senador ítalo-argentino, conforme se pode conferir na vídeo-entrevista.