“O sangue italiano não tem data de vencimento”, diz Fucsia, parlamentar italiana pelos EUA. Mas onde estava Fausto Longo todo esse tempo?

“Entendo que não se deva colocar limites no reconhecimento da cidadania [“iure sanguinis”] porque ela é transmitida pelo sangue e, como escrevi, o sangue italiano não tem data de vencimento, e não expira sequer no plano jurídico”, disse hoje a Insieme a deputada italiana Fucsia Fitzgerald Nissoli (FI), conselheira da Fundação Itália, dos Estados Unidos, em cuja representação se reelegeu pela circunscrição eleitoral do Exterior.

Natural de Treviglio, Bérgamo, e há 28 ambos vivendo nos Estados Unidos, a parlamentar cujo nome de batismo é  Angela Rosaria Nissoli, já pertenceu ao Maie – ‘Movimento Associativo Italiani all’Estero’ e, no recente episódio do chamado ‘Decreto Salvini’, escreveu uma longa carta ao ministro Matteo Salvini defendendo o ‘ius sanguinis’ sem limites e pedindo que ele não confundisse os italianos no exterior com os que pedem asilo.

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“A deputada Fucsia foi solidária a uma luta que é, reconhecidamente, mais próxima da realidade dos sul-americanos e, principalmente dos ítalo-brasileiros – observou uma importante personalidade italiana a Insieme – enquanto um parlamentar italiano eleito no Brasil, como o deputado Fausto Longo, sequer se manifestou sobre assunto que envolve o interesse de centenas de milhares de ítalo-brasileiros – seus eleitores”. Fausto Longo, ao que se sabe, atualmente está em campanha para conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados do Brasil, sob a promessa de renúncia, caso eleito, à cadeira que conquistou no Parlamento italiano no início deste ano.

Embora o episódio envolvendo limitação geracional no chamado ‘Decreto Salvini’ tenha sido dado por encerrado, o assunto continua em debate. Hoje, no site “Italia Chiama Italia”, o vice-secretário do CGIE – ‘Consiglio Generale degli Italiani all’Estero’ para a América Latina, Mariano Gazzola, publicou artigo comentando posição defendida por integrantes do PD – Partido Democratico (favorável ao limite geracional) e defendendo a obrigação do Estado italiano de “reforçar o direito de sangue” com elementos culturais que permitam, perante a norma, a atualização dos interessados, ou seja, o tipo de ‘ius culturae’ já referido em outras oportunidades por integrantes do Maie. Gazzola convocou reunião continental do CGIE para debater, entre outros itens, a “reforma da lei sobre a cidadania”.

Hoje Fucsia disse ao editor de Insieme que “aquilo que se poderia fazer, em vez de limitar, é encontrar uma via preferencial a quem pede a reaquisição da cidadania. “Readquirí-la porque já a tinha e talvez a perdeu mudando-se para o exterior” e “aqui tudo poderia ser rápido uma vez que falamos de gente que já foi cidadão e já tinha os documentos italianos – uma dívida de reconhecimento”.

Na longa Carta Aberta a Salvini, publicada em “La Voce di New York”, Fucsia lembra a Salvini que o sangue italiano não tem data de vencimento: “É com particular tensão emotiva que lhe escrevo para traduzir também as ânsias daqueles italianos de fato, que vivem no exterior, e de seus parentes italianos que há muito tempo esperam ver reconhecida sua cidadania por direito de sangue” – assim inicia a carta, para, mais à frente, argumentar:

“Senhor ministro, por favor, não confunda os italianos no exterior com os que pedem asilo, os descendentes dos italianos emigrados são de fato italianos porque o sangue italiano não tem data de vencimento e também porque existe neles um profundo apego a suas origens, uma cidadania que está viva em seus corações” – argumentou a parlamentar em sua carta, para “exortar” Salvini “a trabalhar para reconhecer no plano jurídico uma situação de fato, isto é, uma identidade italiana que jamais faltou”.

E mais: “Esses italianos são herdeiros daqueles que tiveram que deixar a nossa terra para ganhar a vida em outros lugares, honrando e difundindo a nossa cultura no mundo. Eles são parte da nossa história e da nossa identidade coletiva e, portanto, do nosso sistema-País. Ali existe, portanto, uma exigência ética, antes mesmo que jurídica, de atender a suas demandas e pagar uma dívida de reconhecimento por eles terem ajudado nosso país, mesmo fazendo a difícil escolha de partir”.

A deputada louva, entretanto, a referência que existia no esboço de decreto, à transmissão da cidadania italiana pelo lado materno e conclui pedindo ao ministro Salvini: “Não corte o cordão umbilical de nossos filhos. Deixe a todos os italianos de fato a possibilidade de ver reconhecida sua identidade italiana também no plano jurídico”.